No nosso país, mais de 600 mil pessoas são submetidas por ano a uma cirurgia. Um acto médico em que a anestesiologia desempenha um papel fundamental, no sentido de assegurar com máxima responsabilidade o bem-estar e a segurança dos doentes no decurso de cada intervenção.

Por este e outros motivos, no dia 16 de Outubro comemorou-se, pela primeira vez, o Dia Mundial da Anestesiologia. A escolha recaiu sobre o dia em que, pela primeira vez, foi administrada a primeira anestesia, em Boston (EUA).

Lucindo Ormonde, Presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA) diz-nos que «existem alguns mitos que persistem quando as pessoas se vão submeter a uma cirurgia e que já não têm grande significado pois o avanço da anestesiologia em todas as suas dimensões diminuiu significativamente muitos dos riscos».

Anestesia ou anestesiologia?

Todos nós estamos mais habituados a ouvir falar de anestesia. No entanto, os dois termos têm diferentes significados. A anestesiologia é, segundo o presidente da SPA, «uma área da ciência médica que reúne o conhecimento no âmbito da anestesia, da medicina intensiva, da medicina da dor e da medicina de emergência».

Por outro lado, a anestesia é apenas uma das áreas que os anestesiologistas exercem, aquela que as pessoas mais têm presente no seu imaginário. Na prática, «a anestesiologia interfere em mais áreas de cuidados médicos, mesmo que as pessoas não o sintam ou não avaliem a sua real importância», esclarece Lucindo Ormonde.

Para cada doente, existe um anestesiologista. «Qualquer outra forma de o fazer pode colocar o doente em risco.» Este especialista é o responsável major pela manutenção da vida do doente. «Este tem de ser o referencial de atenção contínua.»

Consulta de anestesia

Antes de o doente ser submetido a uma intervenção cirúrgica programada deve ter uma consulta de anestesia. Realiza-se aproximadamente três semanas antes da data da cirurgia, permitindo fazer o estudo do doente para avaliação do risco médico do acto anestésico. «Os doentes com maior risco são aqueles que têm patologias associadas (doenças cardiovasculares, respiratórias, endocrinológicas, entre outras) e devem ser devidamente estudados e controlados.

A consulta de anestesia visa minimizar riscos, prevenir complicações e preparar os doentes para a cirurgia», defende Lucindo Ormonde. Existe maior ou menor complexidade de preparação para uma cirurgia, que deve ser explicada e efectuada ao doente previamente e não na véspera da mesma. Tudo tem de ser analisado criteriosamente de forma a salvaguardar a segurança dos doentes.

Acordar da anestesia

Eis uma das grandes dúvidas dos doentes e que mais medo suscita no acto cirúrgico: «Será que vou acordar depois da cirurgia?». Na verdade, o fenómeno de acordar da anestesia é muito simples. «Relaciona-se com a eliminação dos fármacos que provocam o sono profundo, a imobilização muscular, a inconsciência e a depressão respiratória, salvaguardando-se situações que podem complicar esta fase», explica o presidente da SPA.

Ou seja, o doente acaba por despertar naturalmente. «Se não for possível, ficará ligado a um ventilador enquanto os fármacos não se eliminam e, quando os sinais de despertar forem suficientes para que o doente esteja autónomo, ficará considerado "com alta" da anestesia. É então que pode ser transferido para uma outra unidade de retaguarda, geralmente, a enfermaria», explica Lucindo Ormonde.

Pós-operatório

O papel do anestesiologista não termina no final da cirurgia. Também faz o acompanhamento do doente no pós-operatório, de forma a assegurar as necessidades relacionadas com a sua segurança clínica.

«Enquanto os fármacos utilizados não estão suficientemente bem eliminados e os reflexos vitais não estão totalmente bem recuperados, existe um período de vigilância relacionado com aspectos críticos (controlo de pressões arteriais, arritmias, insuficiência respiratória, perdas de sangue, etc...), quer seja uma pequena cirurgia, quer seja uma cirurgia que envolva mais riscos», salienta Lucindo Ormonde.

Apesar do medo da anestesia e da cirurgia, absolutamente naturais e transversais a todas as pessoas, Lucindo Ormonde reforça a importância dos doentes serem «devidamente esclarecidos e informados» e confiarem totalmente nos profissionais que os seguem.

Contactos úteis

Sociedade Portuguesa de Anestesiologia
Centro de Escritórios Campo Grande
Av. do Brasil nº 1, 5º andar, Sala 6 - Lisboa
Tel.: 913 609 330
E-mail: spa@spanestesiologia.pt
www.spanestesiologia.pt

Veja aqui as vantagens e os riscos das duas técnicas anestésicas mais utilizadas.

Texto: Cláudia Pinto com Lucindo Ormonde (presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia)