É uma técnica inovadora, feita através de um sistema de estimulação cerebral profunda, que resulta numa melhoria da qualidade de vida dos doentes, reduzindo cerca de 70% dos sintomas.
A cirurgia de Parkinson não é sinónimo de cura da doença, mas antes um tratamento que tem vindo a apresentar muito bons resultados em formas graves e selecionadas da doença. O grande tratamento continua a ser feito através de medicamentos, que permitem uma melhoria da qualidade de vida durante muitos anos.
A cirurgia está indicada para as formas do Parkinson que são resistentes à medicação, ou em casos em que os doentes não podem tomar os medicamentos por efeitos laterais. Estas formas mais graves constituem cerca de 5% dos casos. Para saber se a pode fazer, responda às perguntas deste teste.
A descoberta do tratamento
O tratamento cirúrgico para a doença de Parkinson começou por acaso. Durante uma cirurgia para tratar outro problema, uma artéria de um doente que tinha Parkinson foi lesada e, ao acordar, percebeu-se que os sintomas tinham reduzido. Rui Vaz, neurocirurgião, conta que «descobriu-se que o local onde essa artéria termina é o responsável pela doença de Parkinson. Começou-se então por fazer uma cirurgia lesiva, que destruía essa zona», recorda.
«Nos anos da década de 1960, surgiu um medicamento (a dopamina) e, nos dez anos seguintes, pensou-se que estava resolvido o problema da doença. Foi então que se percebeu que ainda havia muitas formas da doença que eram resistentes ao medicamento e voltou-se à cirurgia lesiva. Nos anos 90, surgiu a grande revolução, a cirurgia funcional, que, sem destruir nenhum tecido nervoso, modifica o seu comportamento através de descargas elétricas», explica o especialista.
Esta técnica, designada Ativa DBS, foi introduzida em Portugal em 2002 pelo Hospital de S. João, no Porto, onde é utilizada também no tratamento do tremor essencial e da distonia (contrações involuntárias que causam movimentos espasmódicos e posturas anormais).
Vantagens da cirurgia
«Uma das grandes vantagens desta nova cirurgia é a de não lesar o tecido nervoso, e ser uma técnica reversível (se o doente não estiver bem, pode-se desligar a estimulação). A regulação de intensidade das descargas é também um ponto a favor porque o estímulo elétrico não é uniforme nos doentes e nas formas da doença (há um pequeno aparelho que se encosta à bateria situada sob a pele no tórax e permite regulá-la)», salienta o neurocirurgião.
O resultado que se consegue com a cirurgia é o da melhoria da qualidade de vida até cerca de 80%.
«Tarefas simples para o doente como virar-se na cama, lavar-se, vestir-se e sair de casa, fazer uma vida quase normal e independente, são o resultado deste tratamento», acrescenta Rui Vaz.
Onde fazer
A cirurgia é feita em alguns hospitais portugueses: Hospital de São João (Porto), Hospital de Santo António (Porto), Hospitais da Universidade de Coimbra, Hospital de Santa Maria (Lisboa) e Hospital dos Capuchos (Lisboa).
Quanto custa
O total do tratamento varia entre os 30.000 e os 35.000 euros (cerca de 20.000 euros em material implantado mais os custos de internamento, cuidados médicos e de enfermagem).
A origem de Parkinson
A doença de Parkinson «é provocada por uma alteração no funcionamento cerebral, uma perturbação degenerativa no sistema nervoso, do qual resultam sintomas como a rigidez muscular, o tremor e lentidão na iniciação de movimentos», explica o neurocirurgião. Estas dificuldades anunciadoras da doença surgem perto dos 60 anos e a sua incidência aumenta com a idade. O tratamento inclui medicamentos com dopamina (mediador químico que falta no organismo e faz surgir a doença) ou, em estados mais avançados, a cirurgia.
Texto: Mariana Correia de Barros
Revisão científica: Dr. Rui Vaz (neurocirurgião pioneiro no tratamento da doença de Parkinson em Portugal)
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