As novas ferramentas de inteligência artificial vão permitir uma melhor gestão das doenças crónicas e facilitar o processo de tomada de decisão clínica. A garantia é dada por um estudo do Silicon Valley Bank, entidade que elaborou um relatório com as perspetivas de desenvolvimento do setor em 2017. Este ano, à semelhança de outros anteriores, foram muitas as inovações a marcar a atualidade. Estas são as que a revista Prevenir mais destaca:

1. Vacina universal contra o cancro está a ser testada

Uma equipa internacional de investigadores retirou pedaços do código genético do cancro, colocou-os em nanopartículas de gordura e injetou-as na corrente sanguínea de três pacientes com estádios avançados da doença. Segundo os cientistas descrevem na revista Nature, o sistema imunitário dos pacientes respondeu ao tratamento, produzindo células T capazes de atacar o cancro.

«Embora seja necessária mais investigação, num maior número de pacientes com diferentes tipos de cancro e durante um longo período de tempo até a ciência poder afirmar que encontrou uma vacina universal contra o cancro, esta investigação é um passo importante para atingir esse objetivo», afirmou Helen Rippon, diretora-executiva do organismo britânico Worldwide Cancer Research.

2. Fármaco que atrasa declínio cognitivo em doentes de Alzheimer

Desenvolvido a partir de anticorpos produzidos por linfócitos B (células imunitárias), o Aducanumab permitiu remover quase na totalidade as placas de beta-amiloides presentes no cérebro dos doentes de Alzheimer, apontadas como uma das possíveis causas das disfunções cognitivas associadas à doença, segundo um estudo publicado na revista Nature.

Os resultados variaram consoante as doses administradas e o período de tratamento e os próximos estudos têm como objetivo encontrar a dose certa que permita não só eliminar totalmente as placas, como evitar a ocorrência de efeitos adversos.

3. Identificadas 97 novas regiões do cérebro

Investigadores da Universidade de Washington, nos EUA, definiram um novo mapa do cérebro, acrescentando 97 novas regiões às 83 até agora conhecidas. Esta descoberta revolucionária oferece uma perspetiva inovadora, permitindo aos cientistas saber mais acerca do funcionamento cerebral, desenvolvimento, anatomia e o impacto de certas doenças, como Alzheimer e esquizofrenia.

Os investigadores basearam-se em informação recolhida no projeto Human Connectome Project (no qual participaram cerca de 1200 voluntários), que permitiu obter imagens do cérebro em alta resolução, assim como registar as atividades cerebrais em termos de memória e linguagem, entre outros. Focados em dados de 210 voluntários, os cientistas conseguiram, ainda, repartir partes do córtex em zonas mais pequenas e acreditam ser muito provável que estas se dividam ainda mais.

Os investigadores consideram que esta não será a versão final do mapa e esperam que este incentive novas descobertas, podendo demorar várias décadas até que se descubra a função de cada região. Matthew F. Glasser, neurocientista da Washington University School of Medicine e principal autor da investigação, espera que o mapa acompanhe a evolução da ciência.

4. Pâncreas artificial que elimina necessidade de injeções diárias

Controla permanentemente os níveis de glicose no sangue, deteta quando há necessidade de administrar insulina e lança-a para a corrente sanguínea. A segurança e eficácia do dispositivo a longo prazo estão a ser avaliadas em testes clínicos, mas os cientistas da University of Virginia School of Medicine, nos EUA, acreditam que, tendo em conta os resultados já obtidos em pacientes com diabetes tipo 1, o pâncreas artificial será aprovado pela entidade reguladora norte-americana (Food and Drug Administration) já no próximo ano e que chegará aos doentes em 2018.

5. Cogumelos que ajudam pacientes com cancro a lidar com a ansiedade e a depressão

Um grupo de investigadores do New York University Langone Medical Center, nos EUA, descobriu que uma substância psicadélica produzida naturalmente por mais de 200 espécies de cogumelos pode tratar a ansiedade e a depressão em pacientes com cancro.

A descoberta foi feita após um estudo preliminar que envolveu 29 pacientes e está em consonância com um outro levado a cabo pela Johns Hopkins University, com 51 doentes. Depois de administrada psilocibina, um enteógeno que ganhou popularidade na década de 1960, cerca de 80% dos voluntários que se submeteram à experiência durante seis meses revelaram-se mais tranquilos e menos ansiosos.

6. Teste pré-natal não invasivo 100% português

Chama-se Tomorrow e é o primeiro teste pré-natal não invasivo com processo laboratorial realizado integralmente em Portugal. Lançado pela CGC Genetics, este novo processo foi validado pela Illumina, laboratório americano detentor da patente, e representa um passo ambicioso para o diagnóstico pré-natal e a genética médica nacional. O teste pode ser efetuado a partir da décima semana de gestação, sendo apenas necessário uma simples colheita de sangue, sem preparação prévia ou risco.

Entre as potencialidades deste teste, Jorge Pinto Basto, diretor clínico responsável pelo Laboratório de Diagnóstico Molecular do CGC Genetics, sublinha que, através da amostra de sangue materno, «é possível identificar no ADN fetal a presença de trissomias 21, 13 e 18, o sexo do bebé e o número de cromossomas sexuais».

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7. Seringa a laser

Fundada por um grupo de investigadores da faculdade de ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a Laserleap Technologies é uma startup do Instituto Pedro Nunes, centrada no desenvolvimento de uma tecnologia, já patenteada, de administração transdérmica e de dispositivos médicos, e acaba de lançar a laserleap, uma seringa a laser que permite a administração rápida e eficaz de fármacos através da pele sem utilização de seringas tradicionais.

Segundo Gonçalo Sá, um dos responsáveis do projeto, «trata-se de uma tecnologia de baixo custo que assegura a entrega eficiente de cosméticos e medicamentos através da pele, sem dor e sem irritação». Esta nova seringa baseia-se na geração de ultrassons de alta frequência, utilizando um laser portátil e um pequeno dispositivo que converte eficientemente os pulsos de luz em ondas de pressão.

8. Um sabão que previne o paludismo

No Burkina Faso, um grupo de voluntários está a estudar um novo método de prevenção desta doença, revelaram vários meios de comunicação internacionais em meados de dezembro de 2016. Um sabão anti-mosquitos é a nova esperança dos investigadores do Centre National de Recherche et de Formation sur le Paludisme (CNRFP)  para combater o paludismo, uma doença que em 2015 matou meio milhão de pessoas. A experiência está ainda na primeira das três fases de ensaios e, só depois desses concluídos, poderá ser validada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

9. Primeiro transplante de dador post mortem

O transplante renal com o rim de um dador que se encontrava em paragem cardiocirculatória, foi realizado no Centro Hospitalar São João, no Porto, um ano depois de este tipo de colheita ter sido aprovada em Diário da República. A Prevenir noticiou-o na edição de março de 2016, à venda no final de fevereiro.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Transplantação, em Portugal, há mais de duas mil pessoas à espera de um transplante de rim. A colheita em dadores falecidos poderá aumentar o número de órgãos disponíveis e contribuir para a diminuição das listas de espera, acreditam os especialistas do setor.

10. Luva para doentes de Parkinson

Foi desenvolvida por estudantes do Imperial College of London em Inglaterra e produzida por uma empresa britânica, Gyrogear. Ajuda a estabilizar a mão dos doentes afetados pelos tremores característicos da doença, conseguindo uma redução significativa deste sintoma até 80 por cento. A luva é leve e inclui um giroscópio (tecnologia antiga usada, por exemplo, em navegação) que assenta nas costas da mão e que garante a estabilidade.

O dispositivo, que «deverá estar disponível a partir de setembro no Reino Unido», como noticiava a revista em março, custará entre 400 e 600 libras (entre 425 e 650 €). Entretanto, os investigadores pretendem desenvolver novos dispositivos para combater os tremores em outras partes do corpo, como nas pernas. A luva pode ainda ser uma mais-valia no âmbito profissional em atividades que requeiram grande precisão, como a cirurgia, a fotografia e o desporto.

11. Novo implante auditivo bilateral invisível

Foi utilizado pela primeira vez em Portugal, no Hospital Lusíadas Porto, num doente com surdez neuro-sensorial moderada bilateral. Esta prótese inovadora fica totalmente implantada no doente, sendo invisível do lado de fora, e tem uma qualidade sonora superior à das próteses convencionais. António Sousa Vieira, coordenador da Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital Lusíadas Porto, explica, em comunicado de imprensa, que «o implante é feito aos dois ouvidos em simultâneo».

«É uma cirurgia muito minuciosa que demora aproximadamente seis horas mas de muito baixo risco, com um pós-operatório sem dor que permite ao doente, no dia seguinte, já estar em casa e a ouvir dos dois ouvidos», esclarece ainda o especialista. O implante é realizado por baixo da pele, o que o torna invisível do lado de fora.

Veja na página seguinte: O microscópio que possibilita a observação de células cancerosas em 3D

12. Microscópio que possibilita a observação de células cancerosas em 3D

O aparelho inovador, desenvolvido por uma equipa norte-americana da University of Texas Southwestern, nos EUA, permite visualizar as amostras das células com uma minúcia e resolução sem precedentes. Através de um laser, que ilumina toda a amostra celular, é possível observá-la em três dimensões, permitindo, assim, entender o seu comportamento num ambiente semelhante ao dos tecidos vivos.

É possível, ainda, com este aparelho, observar a forma como as células interagem entre si e com as fibras de colagénio que as rodeiam. Este tipo de observação possibilita um melhor entendimento do comportamento das células cancerosas, nomeadamente, de que forma estas resistem aos tratamentos e como se espalham no corpo através de metástases.

13. Cocktail com dois anticorpos que protege contra vírus mortal do Ébola

Esta terapia experimental, desenvolvida na Universidade de Manitoba, no Canadá, utilizou dois anticorpos em vez dos três usados na formulação original da terapia. Esses anticorpos foram produzidos em células modificadas de ovários de hamsters e sofreram um processo de manipulação para que refletissem melhor os do ser humano. Este cocktail inovador, testado em primatas não humanos infetados com o vírus do ébola, ofereceu uma proteção de 100 por cento. Uma formulação semelhante à já existente, produzida em células de plantas, não obteve a mesma eficácia.

14. Descoberta origem das células estaminais sanguíneas

Foram identificadas as células precursoras que originam as células estaminais do sangue e foi descoberto o modo como estas podem dar origem aos diferentes tipos celulares sanguíneos. A investigação, realizada por uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra em Portugal, em colaboração com o Ichan School of Medicine at Mount Sinai em Nova Iorque nos Estados Unidos da América e o Weatherall Institute of Medicine da Universidade de Oxford no Reino Unido, foi feita em ratinhos e abre o caminho para desvendar os mesmos percursores celulares em humanos, contribuindo para o desenvolvimento da medicina regenerativa.

15. Vacina 100% eficaz contra o dengue

Os resultados, publicados na revista Science Translational Medicine e noticiados pela Prevenir na edição de maio, são encorajadores para o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra os quatro serotipos desta doença transmitida por mosquitos. Neste ensaio, 21 pessoas receberam uma dose da vacina e 20 receberam um placebo, e foram, seis meses depois, expostas a um dos serotipos do vírus mais difíceis de prevenir.

O primeiro grupo não manifestou qualquer sintoma e os restantes desenvolveram apenas sintomas ligeiros, como erupções cutâneas. Já foi iniciado um ensaio clínico de larga escala no Instituto Butantan, no Brasil, no qual irão participar cerca de 17 mil pessoas de várias idades expostas ao vírus. Se este for bem-sucedido, a candidatura da vacina a registo está prevista para 2018.

16. Descoberta estrutura do vírus Zika

Através de imagens microscópicas eletrónicas, com resoluções próximas à de um átomo, uma equipa de cientistas conseguiu ter uma perspetiva mais detalhada da estrutura do vírus e distinguir as proteínas que constituem o seu invólucro, permitindo-lhes identificar as células que são infetadas. O Zika une-se à membrana das células e injeta a molécula de ARN, servindo-se delas para produzir novos vírus.

Foi também descoberta uma pequena molécula, um açúcar, na superfície do vírus, responsável pela ligação deste às células do hospedeiro. No futuro estas descobertas poderão ajudar os cientistas a encontrar moléculas para combater este vírus do grupo dos flavivírus, revelando que áreas devem ser tratadas, e desenvolver uma vacina.

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17. Identificada a marca genética das células tumorais

Um dos grandes obstáculos do combate ao cancro é que as células tumorais não evoluem todas da mesma forma e as mutações que sofrem numa área são diferentes das que ocorrem noutra. Recentemente, cientistas do University College London Cancer Institute descobriram que todas as células tumorais contêm uma marca genética comum (antigénios) que o nosso sistema imunitário tem a capacidade de identificar através de células que estão presentes no organismo, mas numa quantidade demasiado pequena para ser eficaz.

A descoberta do «calcanhar de Aquiles do cancro», como lhe chamam, pode no futuro permitir tratar tumores que já se espalharam pelo corpo para os quais hoje em dia não existe esperança. O tratamento pode incluir o cultivo de células imunitárias do doente em laboratório para que possam ser multiplicadas e ser usadas no seu tratamento.

18. Espermatozoides desenvolvidos a partir de células cutâneas

Com base numa técnica de reprogramação celular que permite transformar células adultas em células-tronco, especialistas do Instituto de Fertilidade de Valência em Espanha e da Universidade de Stanford nos Estados Unidos da América conseguiram, através de células da pele, criar espermatozoides humanos.

As células cutâneas são injetadas com um cocktail de genes essenciais para a criação de células sexuais e tomam a forma de células estaminais que fornecem espermatozoides ou óvulos. Os espermatozoides criados em laboratório são, ainda, incapazes de fertilizar, mas no futuro poderão vir a ser uma solução para resolver problemas de infertilidade masculina sem necessidade de recorrer a esperma de dador.

19. Criada fórmula para combater resistência a antibióticos

Muitos doentes tomam antibióticos em dose e duração mais elevadas do que seria necessário, tornando as bactérias resistentes a esta terapêutica. Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência desenvolveram um modelo que permite adaptar o tratamento à dinâmica da infeção, evolução do agente patogénico e ao sistema imunitário do doente, permitindo reduzir a quantidade de antibiótico ingerida e combater o abuso do mesmo.

O estudo, cujos resultados foram publicados na revista PLoS Computational Biology e noticiados posteriormente pela Prevenir, combinou análises matemáticas e simulações computacionais e comparou tratamentos feitos com dose e duração pré-estabelecidas de antibióticos com outros adaptados aos sintomas do doente. O próximo passo é adaptar este modelo a infeções específicas.

20. Método inovador que permite avaliar risco cardiovascular

O estudo, desenvolvido no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da Universidade de Coimbra, demonstrou que o radiofármaco fluoreto de sódio marcado com fluor-18, usado para detetar metástases ósseas, pode ajudar a diagnosticar a doença cardiovascular de forma mais precoce.

O método foi aplicado por uma equipa da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em indivíduos com risco cardiovascular e permitiu identificar placas ateroscleróticas em processo de microcalcificação ativa, o que pode estar relacionado com casos mais graves, como enfarte do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Ao permitir um diagnóstico mais precoce e a redução dos riscos, a descoberta poderá ajudar a lidar mais eficazmente com a doença cardiovascular, uma das principais causas de morte.

21. Estetoscópio digital permite auscultação virtual

Uma startup da Universidade do Porto desenvolveu um sistema de auscultação de baixo custo que, num futuro próximo, permitirá a partilha de sons à distância. Denominado IS4Learning, é usado em conjunto com um simulador que utiliza sons recolhidos em consultas e internamentos. Em julho, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) ainda era a única faculdade de medicina a usar este método de ensino.

O simulador disponível para tablet tem uma imagem de um tronco humano com vários pontos e, colocando o estetoscópio em cada um deles, o estudante ouve o som que cada um produz. É um instrumento «de baixo custo para o ensino da auscultação que utiliza um estetoscópio eletrónico e um tablet», assegura Daniel Pereira, investigador do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e do Instituto de Telecomunicações (IT) e cofundador da IS4Health, a startup da Universidade do Porto.

Veja na página seguinte: Novo tratamento experimental para o cancro da mama

22. Identificada nova causa de infertilidade

A descoberta foi feita por uma equipa de investigadoras do Instituto Gulbenkian de Ciência e desvenda um mistério com 80 anos. Já se sabia que, no momento da fecundação, umas pequeníssimas estruturas existentes nas células do óvulo, os centríolos, são eliminadas e são os centríolos trazidos pelo espermatozoide que ficam. Mas porquê? O grupo coordenado pela investigadora Mónica Bettencourt-Dias, estudou estas estruturas durante sete anos e descobriu que se o mecanismo de eliminação dos centríolos falhar, o embrião não se desenvolve.

O estudo publicado na revista científica Science e noticiado posteriormente pela revista de saúde mais vendida em Portugal explica, pela primeira vez, como esta etapa fundamental para a reprodução sexual e a fertilidade ocorre, um processo que, a acontecer noutras células, pode ser importante para o estudo sobre a regeneração de tecidos e o cancro.

23. Descoberta substância para tratamentos mais eficazes

O composto químico eCF506 testado em laboratório atinge uma molécula necessária para as células do cancro da mama crescerem e se multiplicarem. Em comparação com outras substâncias em estudo com a mesma ação, esta mostrou ser mais seletiva não afetando outras moléculas presentes na célula, podendo ser mais eficaz e ter menos efeitos secundários. A equipa da Universidade de Edimburgo, na Escócia, acredita que esta substância é uma forte candidata para uma nova geração de terapias, no entanto, é necessário realizar mais testes antes de se avançar para ensaios clínicos.

24. Cientistas eliminam perturbações na memória

A descoberta, publicada na revista Nature Communications, foi possível porque, pela primeira vez, os cientistas focaram o estudo na causa dos primeiros sintomas da doença de Alzheimer, as perturbações na memória. Após descobrirem que a origem do problema estava no funcionamento excessivo dos recetores A2A envolvidos na comunicação cerebral, os investigadores, coordenados por Rodrigo Cunha, da Universidade de Coimbra, produziram e administraram em ratinhos um «vírus» bloqueador desses recetores, eliminando os sintomas da doença.

Qual o próximo passo? O avanço para ensaios em humanos. «Os bloqueadores dos recetores A2A são de utilização segura para os doentes, permitindo eliminar os primeiros sintomas da demência mais comum. E [a Universidade de] Coimbra tem todas as condições para avançar, embora careça de financiamento», refere, em comunicado, Rodrigo Cunha.

25. Aprovado tratamento experimental para o cancro da mama

Um novo tratamento experimental (o LEE011), indicado para uma forma agressiva do cancro da mama (o tipo HR+/HER2), foi aprovado pela Food and Drug Administration, organismo do governo norte-americano. A decisão foi tomada após resultados positivos de um estudo sobre a eficácia deste tratamento em doentes na menopausa que não haviam sido sujeitas a outras terapias. O tratamento, da farmacêutica Novartis, noticiado pela Prevenir na sua edição de Setembro, impede a ação das duas proteínas que possibilitam o crescimento e divisão das células cancerígenas em pouco tempo.

26. Teste prevê probabilidade de tumor voltar

Analisando a composição genética do tumor, o teste Mammaprint permite prever o risco de reincidência após a cirurgia, evitando que os doentes se sujeitem desnecessariamente a quimioterapia. Foi desenvolvido por investigadores de Portugal, da Bélgica e dos Estados Unidos da América, que analisaram 3356 pessoas com cancro da mama, assim como os 70 genes que compõem o tumor, identificando aqueles com menor probabilidade de reincidência.

Nos testes realizados ao longo dos últimos cinco anos, 94 por cento dos pacientes não voltou a ter cancro, de acordo com o estudo publicado no New England Journal of Medicine. Os cientistas afirmam, no entanto, serem necessários mais estudos para provar a eficácia do teste.

Veja na página seguinte: Spray nasal contra a hepatite B

27. Desenvolvido spray nasal contra a hepatite B

É uma vacina com nanopartículas poliméricas, um «sistema de transporte», como já lhe chamaram, que permite levar as moléculas terapêuticas desde a mucosa nasal, onde é feita a administração, até ao interior das células. Desenvolvida por investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, é uma boa alternativa à fórmula injetável já existente, especialmente em países em desenvolvimento com falta de profissionais responsáveis pela administração de vacinas, ajudando a prevenir infeções causadas pela reutilização das seringas.

28. Plataforma permite acompanhamento médico à distância

Funciona através de dados móveis, permitindo ligar os doentes a fazer diálise peritoneal automatizada, que é realizada em casa, aos profissionais de saúde que os acompanham nos hospitais. Desta forma, os médicos podem aceder à informação de tratamento dos seus doentes e efetuar os ajustes necessários à distância. A tecnologia foi desenvolvida pela Baxter Portugal e está a ser testada através de um projeto-piloto implementado no Hospital de Santa Maria e no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, e no Centro Hospitalar São João, no Porto.

29. Novo medicamento para doentes com eczema

Ao bloquear duas moléculas do sistema imunitário que são produzidas em excesso em doentes que sofrem desta condição, até agora sem cura, um novo fármaco, batizado Dupilumab, aliviou os sintomas em 14 dias. O teste clínico contou com 1379 doentes e durou 16 semanas, ao longo das quais os voluntários foram injetados com o medicamento de duas em duas semanas. No fim do teste, noticiado pela Prevenir em novembro, cerca de 38 por cento dos doentes ficou livre ou quase livre de sintomas.

Os efeitos secundários, segundo o New England Journal of Medicine, incluem inchaço no local da injeção e risco aumentado de conjuntivite. A Sanofi e a Regeneron, empresas que produzem o medicamento, contam com uma decisão por parte da Food and Drug Administration em relação ao seu licenciamento em março de 2017.

30. Vacina que combate a doença de Alzheimer

A injeção de um vírus que transmite o gene PGC1-alpha ao cérebro pode prevenir a formação da proteína amiloide-beta péptida, o principal elemento das placas amiloides, uma massa presente no cérebro dos pacientes com Alzheimer e potencial causa da morte de células cerebrais, permitindo prevenir ou tratar a doença em fases iniciais. Desenvolvido por uma equipa de cientistas do Imperial College de Londres, o estudo, feito em ratos, consistiu na injeção do vírus no hipocampo e no córtex, zonas do cérebro que controlam a memória e onde se começa a desenvolver a doença.

Quatro meses depois, os ratos que receberam o gene, tratados em fase inicial, tinham menos placas que os restantes, não havendo perda de células no hipocampo. Ainda nas primeiras etapas, este estudo, divulgado na penúltima edição do ano da revista Prevenir, pode ser promissor na descoberta de tratamentos.

31. Tecnologia que permite fazer fisioterapia em casa

O sistema digital SWORD Arya, desenvolvido pela empresa portuguesa SWORD Health, é o primeiro em todo o mundo a permitir que os pacientes façam fisioterapia de forma autónoma em casa, com acompanhamento online ou presencial de uma equipa fisioterapeuta. A tecnologia ajuda na recuperação de lesões neurológicas, como as provocadas por um acidente vascular cerebral (AVC) e músculo-esqueléticas (ancas, joelhos, ombros e/ou quedas, entre outros). No último estudo de avaliação clínica, 93 por cento dos doentes que utilizaram este sistema registaram melhorias na qualidade da execução de tarefas motoras.

Este sistema possui tecnologia de fácil utilização, permitindo que o próprio paciente, sozinho ou com a ajuda dos seus cuidadores, realize os exercícios. Permite à equipa de fisioterapia prestar um acompanhamento via online e presencial, adaptando a terapêutica às necessidades do paciente e é até cinco vezes menos dispendioso, em comparação ao custo de reabilitação de um paciente em casa.

Veja na página seguinte: O comprimido que trava a doença de Alzheimer

32. Comprimido que trava a doença de Alzheimer

Um novo fármaco, Verubecestat, pretende parar a produção de placas amiloides-beta, proteínas que se acumulam no cérebro dos doentes e bloqueiam e matam os neurónios do cérebro, levando ao declínio cognitivo. Produzido pela farmacêutica Merck, apresentou bons resultados na primeira fase de testes, publicados no jornal científico Science Translational Medicine, com menos efeitos secundários que os testados anteriormente.

Numa amostra de 32 doentes, numa fase inicial da doença, através de amostras do líquido cefalorraquidiano, verificou-se uma redução dos níveis de dois compostos que produzem os blocos de proteínas. Já está a decorrer a próxima fase de testes e este pode vir a ser o primeiro comprimido licenciado deste tipo.

33. Nova técnica para corrigir as orelhas de abano

Com uma intervenção minimamente invasiva e alternativa à cirurgia habitual, um novo dispositivo, lançado em Portugal pela Allergan, na clínica Faccia, em Lisboa, permite corrigir de forma permanente as chamadas orelhas de abano com uma dobra anti-hélice pouco desenvolvida. A cirurgia, que implica anestesia local e dois a três pontos, demora cerca de 20 minutos e envolve menos riscos e complicações pós-operatórias, normalmente associados às suturas permanentes colocadas na cartilagem e à manipulação da cartilagem auricular. Uma vez que possui simuladores prévios colocados no exterior da orelha, o dispositivo permite escolher o grau de correção.

34. O TAC mais potente do mundo

Existem apenas 30 em toda a Europa. Dois deles estão na Península Ibérica e, por terras lusas, é propriedade do Hospital Lusíadas Lisboa. O aparelho inovador de tomografia axial computorizada (TAC) permite um diagnóstico mais rápido e seguro de várias doenças. Possibilita a realização do exame de diagnóstico em crianças sem necessidade de sedação, na maioria das vezes.

Este dispositivo inovador está também adaptado a doentes com fibrilhação auricular, arritmias ou próteses. É ainda uma mais-valia para doentes cardíacos, quando o estudo recai nas áreas musculoesquelética e neurológica, assim como em caso de análise vascular.

35. Veneno de ornitorrinco para tratar a diabetes

Um grupo de investigadores australianos analisou a forma como o organismo do ornitorrinco e da equidna regulam o processo de produção de insulina e descobriu uma hormona, produzida pelo sistema digestivo do ornitorrinco, também presente no seu veneno, que consegue equilibrar os níveis de açúcar no sangue. A descoberta abre portas a novos tratamentos de uma das doenças que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Batizada Glucagon-like peptide-1, GLP-1 na abreviatura entretanto adotada, tem, no entanto, um problema que ainda exige uma investigação extra. Nos humanos, é menos resistente e degrada-se mais rapidamente.