Indispensável ao funcionamento do organismo, o colesterol é um lípido. Dois terços desta gordura são produzidos pelo fígado e um terço é, no entanto, condicionado pelo tipo de alimentação que fazemos.

Maus hábitos alimentares, geralmente associados a à ingestão excessiva de gorduras saturadas, estão entre as causas que mais contribuem para o seu aumento.

O stress, o álcool, o tabaco, a obesidade, o sedentarismo, as predisposições genéticas, a toma de certos medicamentos e de certas doenças, como as doenças renais, a diabetes e hipotiroidismo também fazem parte dessa lista. Ana Pires, nutricionista da Danone Portugal, explica-lhe o que deve mudar nas suas rotinas diárias para prevenir a hipercolesterolemia e até para combater a doença. Além de reforçar a ingestão de alimentos saudáveis em detrimento de alimentos gordos, deve incluir esteróis vegetais na sua dieta alimentar e adotar comportamentos mais sãos. Descubra quais!

Há alturas em que as pessoas têm maiores cuidados com a alimentação (como é o caso do período que antecede o verão) e outros em que a descuram (como sucede nos períodos das festas e nos períodos pós-férias). Até que ponto é que estes dois extremos são nocivos para o organismo?

Todos os dias contam. Os nossos cuidados com a saúde não devem tirar férias. É importante termos uma alimentação equilibrada, praticarmos atividade física e termos um estilo de vida saudável todo o ano. Só assim é possível termos dias especiais, dias nos quais podemos incluir alimentos ditos menos saudáveis, mas que também podem estar presentes numa alimentação saudável com conta, peso e medida.

As alturas de maiores excessos são prejudiciais e acaba por ser nessas que são ingeridos mais alimentos ricos em colesterol. O que é que as pessoas podem fazer para os evitar?

Temos que fazer as escolhas certas para o nosso dia a dia, selecionar os alimentos mais saudáveis, aumentar o consumo de peixe e de fruta, de vegetais e de cereais integrais e reduzir o consumo de carnes vermelhas, gema de ovo, manteiga, queijos curados e produtos de charcutaria. Devemos também optar por utilizar azeite em detrimento das gorduras de origem animal e por formas mais saudáveis de cozinhar, como os grelhados e os cozinhados a vapor.

Para além de fazermos estas escolhas, temos também à nossa disposição alimentos com esteróis vegetais que nos ajudam a reduzir o colesterol ativamente. Os esteróis vegetais bloqueiam no intestino parte da absorção do colesterol que ingerimos, ajudando o organismo a expulsá-lo e, consequentemente, a reduzir o nível de colesterol no sangue. Já existem no mercado produtos como o Danacol [leite fermentado magro], que contém 1,6g de esteróis vegetais que ajudam a reduzir até 10% de colesterol num prazo de apenas duas a três semanas.

Para a ajudar a fazer as escolhas certas, foi também lançado o programa
«Quero Reduzir o Colesterol», uma iniciativa de Danacol em parceria com o
Instituto do Coração, que pretende educar a população para a
importância de uma alimentação equilibrada e um estilo de vida saudável.
Este programa está disponível em www.queroreduzirocolesterol.com e
engloba um plano alimentar com inclusão de esteróis vegetais e um plano
de atividade física, promovendo a redução ativa do colesterol.

Qual a melhor forma de uma pessoa se desintoxicar depois dos períodos de maiores excessos?

Não podemos falar de desintoxicar mas, sim, de implementar as recomendações e as escolhas que já referi anteriormente e que são essenciais, nomeadamente fazer uma alimentação equilibrada, praticar atividade física e ter um estilo de vida saudável durante todo o ano.

Estas mudanças não devem ser ocasionais ou verificar-se apenas depois de cometermos alguns excessos.

Devem, sim, ser integradas no nosso dia a dia. De férias ou a trabalhar, no verão ou no inverno, o colesterol pode acumular-se nas nossas artérias todos os dias porque, mesmo sem o sentirmos, pode acumular-se nas nossas artérias e levar ao desenvolvimento de doenças coronárias.

A hipercolestrolemia não é um problema exclusivo dos obesos e das pessoas que não praticam exercício físico regularmente. Existem pessoas magras que também têm colesterol a mais no sangue. Porque é que isso acontece?

O colesterol pode ter duas origens, a alimentação e o próprio organismo. Qualquer um destes podem contribuir para o colesterol alto. Algumas pessoas têm geneticamente uma tendência a produzir mais colesterol que o normal. Para outros, a alimentação é o principal culpado do colesterol elevado. Em muitos casos, existe uma combinação de alimentação e genética.

Normalmente, as pessoas associam colesterol elevado a obesidade ou excesso de peso porque estes casos normalmente estão associados a uma alimentação desequilibrada, rica em gorduras saturadas e colesterol, mas nem sempre isso acontece. Por esta razão, é importante reforçar que o colesterol é o que costumamos chamar de inimigo silencioso, exatamente porque não tem sintomas nem sinais e sem o sentirmos pode acumular-se nas nossas artérias e levar ao desenvolvimento de doenças coronárias.

Há gorduras, como a do amendoim e a da manteiga que amendoim, que são recomendadas nos regimes alimentares de quem sofre de hipercolestrolemia. Esta situação acaba por gerar alguma confusão nas pessoas. Existem afinal gorduras aconselhadas a quem sofre deste problema ou são todas de evitar?

O que mais influencia o nível de colesterol sanguíneo é a qualidade de gordura na nossa alimentação e não só a quantidade de colesterol que ingerimos nos alimentos. A regra é simples. Devemos escolher gorduras insaturadas, limitar as gorduras saturadas e evitar as gorduras trans. Mais importante do que a quantidade é a qualidade da gordura que consumimos.

As gorduras monoinsaturadas estão presentes no óleo de amendoim e no azeite, no abacate, nas amêndoas, nas nozes e nas sementes. As polinsaturadas existem no óleo de girassol, no óleo de milho, no peixe e também nalguns frutos oleaginosos. As gorduras saturadas podem ser encontradas na carne, no marisco, na pele de frango e nos laticínios gordos, sobretudo no queijo e nas natas.

Alguns alimentos vegetais têm também uma concentração elevada de gordura saturada, nomeadamente o coco, o óleo de coco e o óleo de palma. As gorduras saturadas aumentam o colesterol, aumentando o colesterol LDL, o chamado mau colesterol. As gorduras insaturadas, por sua vez, diminuem o colesterol mau e aumentam o colesterol HDL, o chamado o colesterol bom.

Os ácidos gordos trans, mais conhecidos como gorduras trans, são produzidos por um processo chamado hidrogenação. A maior parte da gordura trans é proveniente de comida pré-confecionada, nomeadamente de algumas margarinas, de batatas fritas e de outros fritos. As gorduras trans são mais nefastas para o colesterol do que as gorduras saturadas porque além de aumentar o mau colesterol, diminuem o colesterol bom.

Existem substâncias, medicamentos e suplementos nutricionais que condicionam a absorção de gordura pelo sangue. Quais são os mais eficazes?

Os medicamentos são receitados em casos específicos, nos quais os níveis de colesterol já se encontram demasiado elevados.

É precisamente isso que devemos querer evitar com uma boa alimentação, a prática de exercício físico e a ingestão de esteróis vegetais. Os esteróis vegetais bloqueiam parte da absorção de colesterol no intestino, ajudando o organismo a expulsá-lo.

Eliminando-o, estão consequentemente a reduzir o nível de colesterol no sangue. Os esteróis vegetais estão presentes em pequenas quantidades em alimentos como os óleos vegetais e em frutos oleaginosos como as amêndoas e as nozes, mas também em iogurtes líquidos, como o Danacol. É aconselhada a ingestão de 1,5 a 2,4 gramas de esteróis vegetais por dia.

O abacate é, muitas vezes, apontado como uma fruta calórica. No entanto, há quem considere que é imprescindível na redução do colesterol. É também essa a sua opinião?

Devemos limitar a quantidade de gordura que ingerimos. Além de limitar o consumo, devemos também escolher a melhor qualidade de gordura possível. O abacate tem uma quantidade de gordura elevada para uma fruta e por isso é considerado uma fruta calórica.

No entanto, a sua gordura é monoinsaturada, ou seja, de boa qualidade. Além disso, o abacate tem também um tipo de esteróis vegetais que ajudam a reduzir o colesterol. Mas como já foi referido, não nos devemos esquecer que é, no entanto, uma fruta calórica e por isso deve ser consumida com moderação.

Passa-se o mesmo com os frutos secos. Afinal devem fazer parte do regime alimentar de quem sofre de hipercolesterolemia ou não?

Com os frutos secos, acontece o mesmo que com o abacate. São ricos em gordura mas a sua gordura é de boa qualidade. No caso dos frutos secos, é necessário reforçar que, para ajudarem a termos uma boa saúde cardiovascular, é necessário escolhê-los sem sal e sem serem previamente fritos.

A lecitina de soja aumenta a solubilidade do colesterol no sangue. Em que alimento é que as pessoas a podem encontrar?

A lecitina da soja, como o próprio nome indica, encontra-se nos alimentos e nos produtos com soja. Além disso, pode ser encontrada em vários produtos ou alimentos processados, pois tem propriedades emulsionantes e, por isso, é considerada também um aditivo (E322).

A hipercolestrolemia é uma doença sem sintomas marcados, ao contrário
do que sucede com outras doenças. Quais os sinais a que as pessoas
devem estar atentas?

O colesterol em excesso é aquilo a que
costumamos chamar o inimigo silencioso, exatamente porque não tem
sintomas e, mesmo sem o sentirmos, pode acumular-se nas nossas artérias e
levar ao desenvolvimento de doenças coronárias.

A principal e mais
preocupante consequência do colesterol é a aterosclerose.

Esta é uma
doença que afeta as artérias de grande e médio calibre, sendo a causa de
acidentes vasculares cerebrais, de doença das artérias coronárias e de
enfarte do miocárdio, entre outras doenças cardiovasculares, que são uma
das principais causas de morte no nosso país.

A aterosclerose é
provocada pelo acumular de colesterol nas paredes das artérias ao longo
dos anos, formando placas que são muito difíceis de detetar e que
obstruem as artérias, impedindo a irrigação sanguínea. Devemos cuidar do
nosso colesterol, fazendo rastreios regularmente de forma a verificar
se está dentro dos níveis recomendados, ou seja, abaixo de 190mg/dl,
para evitarmos as consequências desta doença que afeta cerca de 56% dos
portugueses.