O valor nutricional do dióspiro é elogiado por muitos especialistas. Contém cálcio, ferro, fósforo, proteínas e açúcares redutores, como é o caso da frutose e da glucose, além de vitamina A e C e, em menor percentagem, vitaminas B1, B2 e B3. Com o seu sabor característico, pode ser ingerido como fruto sem transformação ou em musse, com lima e um pau de canela.

Também pode ser facilmente integrado em bolos, em saladas, em gelados e até em bebidas, incluindo sumos, batidos e smoothies. As suas propriedades medicinais também são enaltecidas. É bom contra a diarreia, a colite e o colesterol. Também atua no controlo da glicemia. Favorece, ainda, a visão, a pele e o crescimento dos ossos.

Colheita e utilização

Deve ser colhido no outono, maioritariamente nos meses de setembro a novembro, quando os frutos alcançam uma cor amarelada, alaranjada ou até mesmo avermelhada. Esses são, também, os meses da sua época de consumo. Depois de removidos da árvore, devem ser armazenados entre 0º C e 1,5ºC com uma humidade relativa de 90% a 95% durante três a quatro meses.

As variedades de roer gostam de zonas mais quentes, enquanto as moles preferem zonas mais húmidas, mas com o verão quente. No outono, as folhas antes de caírem adquirem tons amarelos e vermelhos, sendo uma planta bonita e ornamental. Pessoalmente, gosto mais das variedades moles, que não precisam de polinização.

Já existem cultivares com volumes consideráveis que, depois de passar a adstringência, são muito doces e aromáticos. Provêm de uma árvore vigorosa de folha caduca, que pode atingir entre 6 a 14 metros de altura. Tem a forma redonda da copa no seu estado natural. As raízes estendem-se até aos 50 centímetros de profundidade.

As origens (muito) remotas

O dióspiro já era conhecido poucos séculos após o nascimento de Jesus Cristo e foram encontrados documentos, nos séculos V e VI, que comprovam a sua cultura. O cultivo em maior escala teve início na China, no Japão e no território da Coreia do Norte e da Coreia do Sul, no final do século VIII. O explorador Marco Polo viu kakis à venda na cidade chinesa de K’nsai, atualmente Xangai, no século XIII.

Foram os sacerdotes jesuítas que chegaram à China, os primeiros europeus a provar este fruto, no século XVII, aparecendo as primeiras culturas nos países mediterrâneos apenas no século XIX. Este fruto aparece nos Estados Unidos da América, na Califórnia, apenas em 1828. Neste momento, na China, existem mais de 2.000 cultivares e, no Japão, mais de mil. A China e o Japão são os maiores produtores do mundo.

Veja na página seguinte: Os outros nomes por que o dióspiro também é conhecido

Os outros nomes por que o dióspiro também é conhecido

Muitos chamam-lhe dióspiro mas também há quem o apelide de caqui, kaki, loto, maçã-do-oriente e/ou alperce-do-japão, devido à sua origem, na China, na Coreia e no Japão. O nome científico vem de Diospyros kaki, tendo por origem as palavras pyros e dios que, juntas, significam «alimento divino ou de Zeus». É da família das ebenáceas.

As flores aparecem na primavera e/ou no início do verão. A maioria das variedades comerciais só tem flores femininas. Existem, contudo, algumas variedades que são hermafroditas e são utilizadas como polinizadoras, na razão de 1 para 25. Existem frutos partenocárpicos, frutos originados sem polinização e sem sementes, que são os preferidos do mercado.

No entanto, nem sempre têm as melhores qualidades organoléticas nem o melhor tamanho. A polinização, quando é feita, é entomófila. Os gomos florais aparecem mais nos ramos laterais e madeira desse ano. Existem diospireiros no Japão com 600 anos. Esta árvore entra em produção aos três anos e atinge a plenitude entre os 8 e os 10 anos.

Os dois tipos de dióspiros que existem

No que se refere às variedades mais cultivadas, existem dois tipos de dióspiros, os adstringentes (moles) e os não adstringentes (de roer). Entre estes, pode optar entre Persimomon, Nishimura, Izu, Wase Fuyu, Jiro, Suraga, Amankaki, Fuyu, Hana Fuyu, Cal fuyo e Fay-Fau, além da variedade Sharon (Sharoni, Triumph), originalmente produzida no Vale Sharon, em Israel.

Nos moles, o destaque vai para variedades como Hiratanenashi (não necessita de polinização), Tone wase, Sugitawase, Tomatero, Cristalino, Gordo, Picudo, Cuadrado, Rojo Brillante, De Carlet, Fungi, Kaki tipo, Sakoumiathan, Farmacista honoraty, Hachiya e Kirakaki, Th iene, além da coroa-de-rei, portuguesa. As cultivares polinizadoras (dois sexos) são Akagaki, Mercatelli e Moro.

A lista inclui ainda Miyo, Rispoli, Shogastu e Vaniglia. Muitas variedades são enxertadas em D. Lotus (resistente à seca, à clorose e aos frios), D. Kaki, D. virginiana (resiste ao excesso de humidade) e numa variedade coreana pouco vigorosa, a Shakokushi. A parte comestível, o fruto, de cor alaranjada ou avermelhada, pode pesar entre 200 a 350 gramas.

Veja na página seguinte: As condições ambientais para cultivar um diospireiro

Condições ambientais

Para cultivar o diospireiro, o tipo de clima mais indicado é o tropical, subtropical e até o temperado mediterrânico, como o de Portugal. Esta árvore prefere solos profundos e férteis. Os solos de textura franco-argilosa ou francos, bem drenados, húmidos são os melhores para esta cultura, mas adapta-se aos solos arenosos.  O pH ideal é de 5,5 a 7,0. Pede sol pleno e nas não adstringentes mais de 1.400 horas de sol de maio a outubro.

Em termos de fertilização, recomenda-se adubação com estrume de ovelha, vaca, composto e farinha de ossos. Existem relatos de bons resultados com aplicação de cinza de madeiras. Pode regar-se com chorume de bovino, bem diluído. Para preparar o solo, deve lavrá-lo superficialmente com uma charrua ou fresa e passar a grade de discos, no fim do outono.

Em termos de amanhos, pede gradagens com grade de discos, para destruir ervas daninhas, além de poda de limpeza no inverno. Pede, também, para revestir os cortes com calda bordalesa ou mástique. Deixar a árvore crescer em forma de eixo central ou forma piramidal, palmeta ou vaso.

Deve-se podar a partir da 14ª gema, pois o dióspiro frutifica em ramos do ano. Em termos de consociações, apenas nos primeiros anos, com amendoim, soja, feijão, batata-doce, cebola, alho e abóbora. Em termos de regas, para garantir um melhor desenvolvimento, exige uma rega gota a gota, durante o verão. É muito sensível a geadas e não gosta de ventos fortes.

Texto: Pedro Rau (engenheiro hortofrutícola)