A expressão é de Miguel Guimarães, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, e está relacionada com os tempos de espera "inaceitáveis" que se têm verificado nesse serviço e que alegadamente motivaram, no passado dia 04, a morte de um utente após seis horas a aguardar por assistência médica.

"Vimos muitos doentes para serem atendidos e muito poucos profissionais de saúde [para lhes dar assistência]", declarou Miguel Guimarães à saída da visita ao hospital. "Há uma carência muito grande a nível de médicos, meios e assistentes, o que faz com que os tempos de espera sejam inaceitáveis (...) e, se não fosse a dedicação exibida pelos profissionais do hospital [ainda em funções], este serviço de urgência seria muito pior".

Para que o "S. Sebastião" possa apresentar um funcionamento "minimamente aceitável" e com garantia "de algum conforto" para os utentes, Miguel Guimarães recomenda: " Deveria ter o dobro dos médicos".

Só dessa forma se poderiam evitar tempos de espera excessivos, como os que Miguel Guimarães atribui atualmente aos doentes que, à chegada ao hospital, recebem na triagem inicial as pulseiras representativas do segundo e terceiro graus de maior emergência médica, entre os cinco disponíveis.

"No caso das pulseiras laranja o tempo de espera é de uma ou duas horas, o que é absolutamente inaceitável", afirma. "No caso das amarelas, chega a três ou quatro horas", revela.

Quanto ao caso específico do homem que morreu no Hospital a 04 de janeiro, apesar de identificado com uma pulseira laranja, Miguel Guimarães repete que a Ordem já avançou com o devido inquérito, mas realça que "o responsável global, político, é o ministro da Saúde".

Carlos Santos, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos e cirurgião com 30 anos de experiência, confessou, após a mesma visita: "Nunca tinha visto um serviço de urgência a funcionar desta maneira, com falta de mais de metade dos profissionais necessários aos diversos níveis".

Insiste, por isso, que a urgência do "S. Sebastião" só se mantém em funcionamento "graças ao profissionalismo [de quem aí trabalha], ao seu espírito de entreajuda e solidariedade, e ao seu sentido de que, no centro de tudo, tem que estar sempre o doente".

Carlos Santos alerta depois que a pressão a que estão sujeitos esses profissionais "cria um círculo vicioso" de efeitos negativos nas listas de espera, "porque trabalhar nessas condições é uma pressão enorme e a maioria dos médicos não está disponível para ser contratada nessas circunstâncias".

A abertura dos serviços de urgência nos centros de saúde seria uma possível solução, na medida em que diminuiria "a sobrecarga sobre as urgências hospitalares e seria uma maneira de cativar os médicos".

Já Merlinde Madureira, presidente do Sindicato dos Médicos do Norte, realça que a origem do "caos" que se está a verificar nos diversos serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) "ou é incompetência, ou perversidade".

A primeira explicará que repetidamente "se mantenham em lugares-chave as mesmas pessoas que no ano anterior demonstraram não ser capazes de resolver o problema". Caso não se trate de incompetência, então o problema tem razões perversas, porque "o que se deseja é mesmo isto [o caos nas urgências], para que nem os profissionais [do setor] nem os doentes se dirijam às instituições do SNS".

A dirigente conclui assim que a sociedade civil "devia poder criminalizar" também os responsáveis políticos pelo setor da Saúde e não apenas os médicos, que são apenas "quem dá a cara" aos utentes.