Portugal era, em 2020, o país da União Europeia (UE) com mais médicos de clínica geral por 100.000 habitantes: 292.

Um número bem superior ao verificado na média da UE. Seguiam-nos a Irlanda e os Países Baixos, que vinham então com respectivamente 188 e 178 médicos de clínica geral por cada 100.000 habitantes, respetivamente (dados do Eurostat).

Podíamos dizer que com base em estatísticas muito à frente nomeadamente dos últimos lugares ocupados pela Polónia (com 42), Grécia (com 44) e Bulgária (com 60).

No entanto por essa altura mais de 1 milhão de Portugueses não dispunha de médico de família, um direito que enche a boca de muitos, mas mata a fome a muito poucos.

Portugal era, em 2021, o segundo Estado da UE com mais médicos autorizados a exercer por 100 mil habitantes, num total de 1,82 milhões de profissionais em exercício no espaço comunitário, divulgou o Eurostat em Agosto deste ano.

Os números absolutos mais elevados registados, sem surpresa couberam à Alemanha (377 mil, cerca de 21% do total da UE), Itália (243 mil), França (216 mil) e Espanha (213 mil).

Repare-se que as cifras publicadas pelo gabinete estatístico da UE sobre 2021, asseguram que a Grécia (629,2) e Portugal (562,04) registaram os números mais elevados de médicos autorizados a exercer por 100 mil habitantes, seguidos pela Áustria (540,9).

Ao contrário, os rácios mais baixos foram registados em França (318,3), na Bélgica (324,8) e na Hungria (329,8).

Ou seja, pelas estatísticas europeias a contratação de médicos cubanos parece à primeira vista uma aberração. E com mais atenção, confirmamos tal ideia.

Entre os 21 países da UE integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal está no grupo dos dez onde os médicos das especialidades hospitalares são os mais mal pagos desde 2006, data do início de comparações entre este grupo de países.

Neste período, 2006 a 2020, o salário dos médicos que exercem nos hospitais do SNS foi ultrapassado pelos salários pagos na Hungria, na Estónia e na República Checa. Segundo a OCDE, em 2020, Portugal encontrava-se em sexta posição, a contar do fim, apenas com a Grécia, a Eslováquia, a Polónia, a Lituânia e a Letónia, a pagarem menos aos seus clínicos.

A OCDE analisou ainda a relação entre o vencimento dos médicos especialistas e o salário médio de cada país. Neste indicador, Portugal é o décimo quinto no que toca à diferença entre salário dos médicos especialistas hospitalares do SNS e o salário médio nacional.

Curiosa é a observação do número de profissionais médicos nos hospitais do SNS em 1993 e em 2021 – passou de 14243 para 21883 (Fonte: INE, DGS/MS, PORDATA, actualização de 27.12.2022).

Com o aquecimento global, as ondas de calor e este Verão estranho, recordei-me de um filme marcante, “Nove Semanas e Meia” (1986), realizado por Adrian Lyne e com as interpretações de Kim Basinger e Mickey Rourke.

Elizabeth (Basinger) era a bela mulher que trabalhava em uma galeria de arte e que se vai envolver com John (Rourke), um homem abastado. Envolvem-se de modo rápido e tórrido, com jogos cada vez mais intensos, que vão promovendo um relacionamento cada vez mais complexo e difícil de ser controlado.

E lembrei-me igualmente do que, aos médicos por intermédio das suas estruturas sindicais, foi proposto pelo Governo nas negociações salariais – para além de um valor de aumento percentual hardcore, mais horas extraordinárias (exactamente 300, o dobro das actuais 150 horas) em cima do horário semanal de 40 horas, único nas 40 horas no conjunto da Administração Pública.

Até dou de barato a escolha dos actores.

O realizador, face à grandiosidade do projecto, parece algo mais colectivo e diria ser o Ministério da Saúde…

O enredo decorre em torno da jornada semanal de 40 horas e no que as 300 extraordinárias poderão representar em semanas de trabalho penoso.

O título do remake está encontrado – Nove Semanas e Meia, brevemente num cinema perto de si!