Dos Estados Unidos, Eduardo Castela trouxe a ideia de criar no Hospital Pediático de Coimbra (HPC) uma consulta de telemedicina, que ao fim de poucos anos envolve toda a região Centro e três países africanos de língua portuguesa.
Em outubro de 1998, em colaboração com o colega Bilhota Xavier, do Hospital de Santo André (Leiria), é estabelecida a ligação entre as duas unidades de saúde, bem como com a Maternidade Júlio Dinis, no Porto.
Numa manhã desta semana, numa visita ao Serviço de Cardiologia Pediática do HPC, a agência Lusa acompanhou uma das ligações regulares por telemedicina com o Hospital de Vila Real, em Trás-os-Montes, em que estavam programadas consultas à distância a 14 crianças.
Com o envolvimento e apoio da PT Inovação, o projeto de cardiologia pediátrica foi-se gradualmente alargando e em 2005 já englobava os hospitais dos seis distritos da região Centro. Atualmente também está abrangida a especialidade de cardiologia fetal.
No ano seguinte adere o de Vila Real, no Norte, e o Hospital Pediátrico de Coimbra passa a disponibilizar também um serviço de urgência 24 horas por dia por telemedicina. Nesse mesmo ano estabelecem-se as primeiras ligações com o Hospital Pediátrico de Luanda, em Angola.
Eduardo Castela revelou à agência Lusa que com Angola, país onde as ligações por telemedicina já se estenderam a Benguela, foram realizadas até agora mais de um milhar de consultas.
Atualmente também os hospitais da Cidade da Praia e do Mindelo, em Cabo Verde, fazem consultas de telemedicina com o Hospital Pediátrico de Coimbra, e em breve ficarão abrangidas as crianças de S. Tomé e Príncipe.
“Naquela altura não havia o entusiasmo pela telemedicina que há hoje. Havia até os 'Velhos do Restelo' que não acreditavam, sobretudo por desinformação. Lentamente os hospitais foram aderindo, à custa das ações de formação que íamos fazendo, e de explicarmos o que era a telemedicina”, recorda.
O objetivo – acentua Eduardo Castela – era “democratizar o acesso à rede de cardiologia pediátrica de todas as crianças da região Centro, e conseguimos concretizá-lo”.
“Essas crianças têm cardiologista pediátrico como têm as de Coimbra, e isso é um orgulho para nós, e para a região”, confessa, acrescentando que “no momento de crise” que Portugal atravessa “cada vez mais se explicam as enormes vantagens da telemedicina”.
Consegue-se uma poupança de recursos, seja dos utentes, seja do Serviço Nacional de Saúde, ao evitarem-se inúmeras deslocações, e até faz diminuir o absentismo ao trabalho.
No diálogo, à distância, entre profissionais de saúde obtém-se um diagnóstico mais seguro e, por essa via, consegue-se até fazer formação contínua, afirma.
Para Eduardo Castela, as consultas de telemedicina com os países africanos de língua portuguesa apresentam a vantagem de trazer casos clínicos graves que já não se encontram em Portugal, e que estão referenciados apenas nos “livros antigos”.
“Num hospital como o nosso, que temos a responsabilidade de formar cardiologistas, isso é extremamente importante”, sublinha.
Em 2005 o serviço dirigido por Eduardo Castela foi distinguido com o Prémio Hospital do Futuro, na modalidade de Acessibilidade e Atendimento, e no ano seguinte arrebatou idêntico galardão pela consulta de urgência em telemedicina.
10 de maio de 2011
Fonte: Lusa/SAPO
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