Em declarações à Lusa, Delfim Duarte, investigador do i3S responsável pelo projeto distinguido recentemente pela Sociedade Europeia de Hematologia, explicou que foi através de outro estudo que os investigadores perceberam que “o ferro poderá ter um papel importante” no desenvolvimento desta patologia.

“O que vimos no trabalho anterior é que, diminuindo a quantidade de ferro, conseguimos proteger o microambiente da medula óssea. E isso é bom porque conseguimos manter a produção de sangue normal durante mais tempo e preparar a medula óssea para o transplante. Achamos que a deposição do excesso de ferro pode ser prejudicial”, esclareceu.

Segundo Delfim Duarte, também docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, apesar da investigação na área da leucemia mielóide aguda, uma doença “rara” e “bastante agressiva”, ser ativa, ainda não foi possível desenvolver “um tratamento eficaz”.

“Durante os últimos 30 anos foi utilizada a mesma estratégia no tratamento, porque de facto a biologia da doença é muito complexa e não se conseguiu desenvolver um tratamento eficaz”, frisou.

De acordo com o investigador, a leucemia mielóide aguda, doença que tem uma maior incidência em pessoas com mais de 65 anos, é provocada pela “proliferação descontrolada de glóbulos brancos”, tendo como consequência para o doente a perda de células normais do sangue, o aparecimento de cansaço, hemorragias e várias infeções.

“Existe uma destruição específica de determinados vasos sanguíneos da medula óssea, isto é, no tutano do osso que é onde a doença se desenvolve e isso tem implicações na perda de sangue normal e na agressividade das células de leucemia”, afirmou Delfim Duarte.

Para explorar esta hipótese, a equipa de investigadores do i3S vai utilizar amostras de doentes, estando por isso em fase de recrutamento no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, e modelos pré-clínicos de ratinhos.

O projeto, designado “O papel do ferro na remodelação do microambiente vascular na leucemia mielóide aguda”, conta com um financiamento de 160 mil euros, e pretende, a partir de março e durante os próximos dois anos, explorar o papel do ferro e procurar desenvolver novas terapêuticas e aumentar a qualidade de vida dos doentes oncológicos.

“Para nós este projeto é motivante porque nos permite, enquanto clínicos, fazer questões sobre a biologia básica das doenças hematológicas”, acrescentou Delfim Duarte.