Mais de 600 consultas e 83 cirurgias, entre as quais 62 às cataratas, foram os resultados de uma missão de quatro oftalmologistas e dois enfermeiros portugueses em São Tomé e Príncipe no início de outubro, revelou a organização.
A missão, organizada pelo Instituto Marquês de Valle Flor (IMVF), decorreu entre 4 e 18 de outubro e envolveu dois clínicos do hospital Egas Moniz e outros dois do Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), em Lisboa.
Ao longo dos 14 dias, 636 pacientes foram observados e os clínicos realizaram 83 procedimentos cirúrgicos. Destes, 62 doentes foram operados às cataratas, a principal causa de cegueira reversível em todo o mundo. As cirurgias, que decorreram no Hospital Dr. Ayres de Menezes, permitem recuperar integralmente a visão. Sete das cirurgias foram feitas a glaucomas e as restantes a outras patologias graves.
Um dos médicos, António Melo, diretor do serviço de oftalmologia do Hospital Fernando da Fonseca, contou à Lusa que a missão começou em 2010 e só termina no final de 2012, havendo três deslocações por ano. "Não é o toca e foge", explicou.
No terreno, a equipa encontrou um hospital com "condições muito básicas, o mínimo para se funcionar" e equipamentos adquiridos pelo IMVF. "Utilizamos apenas a estrutura do hospital, que é muito básica, mas serve perfeitamente", disse.
Quanto aos recursos humanos, António Melo recorda que em São Tomé e Príncipe não há oftalmologistas, "nem haverá tão cedo, porque no país não há formação e quem consegue sair não tem vontade de voltar". O que há são técnicos - "não se sabe bem que formação têm" - e dois ou três enfermeiros mais vocacionados para a oftalmologia.
É por isso que a missão prevê ações de formação - em bloco operatório e em contexto de consulta. Nestas ações são ensinadas operações simples: como lavar um olho com traumatismo ocular, como fazer um penso ou como pôr gotas oftálmicas, por exemplo. "Aconteceu haver pessoas que em dois dias tinham acabado um frasco de colírio que deveria durar 20", exemplificou António Melo. Quando os clínicos regressam a Portugal, há um sistema de telemedicina que permite esclarecer dúvidas.
Esta missão inseriu-se no programa “Saúde para Todos: Especialidades”. Mais de 12.000 consultas e 850 intervenções cirúrgicas das várias especialidades foram realizadas em pouco mais de dois anos por este projeto, financiado pela Cooperação Portuguesa, Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Marquês de Valle Flor, em parceria com o Ministério da Saúde de São Tomé e Príncipe.
Uma missão de otorrinolaringologia esteve no terreno de 24 de outubro a 1 de novembro e no início desta semana seguiram equipas de Urologia do Hospital Egas Moniz, Ginecologia do IPO e Anatomia Patológica do Hospital Fernando da Fonseca. No dia 7 de novembro seguem missões de Cirurgia Geral, Pediatria e Pneumologia.
António Melo sublinha que estas missões têm permitido reduzir custos com evacuações sanitárias para utentes e governos, nomeadamente para o Estado português.
Questionado pela Lusa, o IMVF diz não ter estimativas das poupanças conseguidas, mas recorda que as evacuações, "além de economicamente dispendiosas para ambos os Estados, representam um problema social com o desmembramento de famílias, elevados custos financeiros para os utentes e elevado sofrimento humano provocado por uma permanência em Portugal que varia entre os 6 meses e os 2 anos".
Além disso, “as estatísticas apontam que menos de metade dos doentes que precisam de evacuação efetivamente a conseguem concretizar”.
03 de novembro de 2011
@Lusa
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