O doente renal transplantado é um homem na casa dos 40 anos, empresário, que fazia diálise e que estava em lista de espera há cerca de dois anos. Segundo o coordenador da unidade de transplantação do Santa Maria, José Guerra, o doente encontra-se “excelente”, ainda internado na instituição, mas dentro de cinco ou seis dias poderá mesmo ter alta.

“Poderá ter uma vida com melhor qualidade e poderá utilizar o seu tempo não com as limitações que a insuficiência renal dá, tendo um futuro mais risonho à sua frente”, afirmou José Guerra em entrevista à agência Lusa.

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Este doente encontrava-se há cerca de dois anos a aguardar por um rim compatível, que acabou por chegar numa madrugada desta semana, de um dador cadáver, sendo o órgão colhido também no hospital Santa Maria, o que nem sempre acontece. Ou seja, nem sempre os órgãos são colhidos nas unidades de saúde em que são transplantados.

O coordenador da unidade de transplantação explica que os mil transplantes “têm um significado muito particular”, que correspondem a um percurso iniciado em 1989 no Santa Maria.

“Atingimos este número, que outras unidades já atingiram, depois de muitos anos de trabalho, depois de uma curva de aprendizagem, em que fomos aumentando o número de transplantes. É um número com uma carga muito particular e serve para marcar e refletir sobre o que já fizemos e vamos continuar a fazer”, afirmou.

Crescimento de 50% em 2017

Em 2017, o hospital de Santa Maria realizou 65 transplantes renais, o que corresponde a um crescimento de cerca de 50% face aos anos anteriores.

José Guerra reconhece que o progressivo aumento de transplantes, transversal ao país, é consequência do aumento das colheitas e também “da logística cada vez mais adequada” dos serviços desta área.

A diretora do serviço de cirurgia pediátrica do Santa Maria, Miroslava Gonçalves, acabou por ter uma intervenção neste milésimo transplante renal, uma vez que esteve na colheita do órgão que permitiu o transplante.

A cirurgiã pediátrica lembra a complexidade da atividade de transplantação, que é totalmente multidisciplinar, “envolvendo imensos profissionais e especialidades”.

“Todos os profissionais são fundamentais, não só médicos, enfermeiros e técnicos. Há inúmeras pessoas envolvidas, até os polícias que nos transportam os órgãos de um lado para o outro são extremamente importantes. Quando falamos em transplantes, é um mundo e que envolve uma organização que é fundamental, e essa, nós temos”, afirmou Miroslava Gonçalves.

Apesar de toda a organização e multidisciplinaridade, a cirurgiã admite que a técnica do transplante é “relativamente simples”, mas exige perícia e é desafiante: “quando uma coisa é relativamente simples, o que devemos tentar é sempre chegar à perfeição”.

No Santa Maria, o serviço de transplantação de adultos tem integrada a área infantil ou pediátrica desde 1995. O trabalho dos médicos é feito em conjunto e o próprio bloco onde as crianças são transplantadas é comum ao dos adultos.

“Mas, no fundo, o transplante renal infantil é todo feito em ambiente infantil. Quando a criança já tem o seu órgão vai para os cuidados intensivos infantis e todo o ambiente é da área infantil, sendo que todas as pessoas que tratam a criança são da área infantil”, descreve Miroslava Gonçalves.

O número de transplantes em idade pediátrica no Santa Maria é “relativamente escasso”, mas ainda assim o suficiente para ser considerado um centro de referência europeu, sendo que para tal são necessários seis a sete transplantes por ano. No total, o Santa Maria atingiu a nível infantil um número que ronda os 150.

Este hospital começou por transplantar crianças que tivessem pelo menos 25 quilos, mas atualmente já transplantam menores com 11 quilos.

A especialista explica que, nesta área, o que conta para os médicos não é a idade da criança, mas sim o peso, devido ao espaço para colocação de órgãos e à eventual menor gravidade de complicações. E, nas crianças com insuficiência renal, dez quilos não significam, como habitualmente, um ano de idade, podendo uma criança com aquele peso ter já dois ou três anos.

Miroslava Gonçalves considera que o número simbólico de “mil transplantes é fantástico e fenomenal”, sublinhando que na área infantil os números não têm essa mesma grandeza.