A distinção ao docente da Universidade de Coimbra, onde coordena o Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional, é concedida pela Fundação Bial, formada pela farmacêutica portuguesa com o mesmo nome e pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.

A organização atribuiu, ainda, duas menções honrosas, no montante de 10 mil euros cada, à neurocirurgiã Cláudia Faria (Hospital de Santa Maria de Lisboa), pelo estudo de tratamentos personalizados para tumores cerebrais, e ao cardiologista Albertino Damasceno (Hospital Central de Maputo), pela coordenação de um trabalho ao longo de 25 anos sobre a hipertensão arterial na população moçambicana.

Pai de um jovem autista, Miguel Castelo-Branco tem testado, a par de medicamentos, o uso de jogos de realidade virtual para "melhorar as competências sociais e de regulação emocional" de crianças e jovens autistas, depois de ter identificado "marcadores neurobiológicos" do autismo (que variam de pessoa para pessoa).

"Alguns ensaios clínicos mostraram a melhora do humor, da ansiedade e da capacidade de reconhecer emoções faciais, em particular o medo", assinalou à Lusa.

O autismo define-se como uma perturbação do neurodesenvolvimento que se caracteriza por dificuldade na interação e comunicação (verbal e/ou não verbal), bem como por um comportamento e pensamento restrito, repetitivo e estereotipado.

Estudos de imagem do cérebro revelaram, segundo Miguel Castelo-Branco, "características estruturais do cérebro ou padrões diferentes de atividade do mesmo" que "estão na base de um perfil de comportamento diferente, em que a comunicação verbal, as emoções e a capacidade de interagir socialmente estão modificadas".

Contudo, estas características, próprias de perturbações como o autismo, "são muito diferentes" entre pessoas, obrigando a "ajustar individualmente" as terapêuticas.

O uso de jogos imersivos pode ser acompanhado pelo "registo simultâneo de biosinais de atividade do cérebro, ritmo cardíaco", permitindo ter "melhor ideia do estado cognitivo" das crianças e jovens e "dar 'feedback' desses sinais", explicou o investigador.

O júri do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022, que distinguiu "Os desafios da neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo", foi presidido pelo patologista Manuel Sobrinho Simões.

Citado em comunicado da Bial, Sobrinho Simões destacou o "percurso de vida" de Miguel Castelo-Branco "dedicado à investigação, alicerçado na [sua] história pessoal", que "contribuiu substancialmente para a compreensão da dualidade saúde/doença, permitindo o desenvolvimento de tratamentos personalizados de forma a melhorar competências sociais e de regulação emocional no autismo".

Miguel Castelo-Branco recebeu o Grande Prémio Bial de Medicina 2008, no montante de 150 mil euros, pela investigação sobre a deteção das doenças de Alzheimer, Parkinson e glaucoma em fases muito precoces.

Criada em 1994, a Fundação Bial tem "a missão de incentivar o estudo científico do ser humano, tanto do ponto de vista físico como espiritual".

O Prémio Bial de Medicina Clínica 2022 é hoje entregue na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, numa cerimónia com a intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

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