Um estudo da Associação Nacional de Farmácias (ANF) estima que este ano os prejuízos nas vendas atinjam farmácias de todos os escalões de volume de negócios, o que conduzirá ao encerramento de "um número significativo" de estabelecimentos.
O estudo ”Avaliação Económica e Financeira do Setor das Farmácias”, hoje divulgado, caracterizou a situação atual das farmácias e estimou o impacto das medidas de redução da despesa pública nos seus resultados até ao final de 2012, com base em informação histórica relativa a 2010 e em informação prospetiva relativa a 2011 e 2012.
O número de farmácias nos escalões com resultado líquido negativo passou de 191 em 2010 para 1.210 em 2011. Este ano, ”todos os escalões apresentam uma rentabilidade líquida das vendas negativa”.
Neste cenário, a farmácia média apresenta, em 2012, um resultado líquido negativo de 39.891 euros, com as estimativas a indicarem que 2.905 farmácias estarão em “risco”.
O coautor do estudo, Avelino Azevedo Antão (da Universidade de Aveiro), adiantou que o eventual encerramento de farmácias alterará a estrutura de resultados e a rentabilidade das farmácias que sobreviverem e diminuirá a cobertura farmacêutica.
“Algumas farmácias irão sobreviver, mas a estimativa é que uma percentagem muito elevada entrará em graves dificuldades financeiras, porque alguns dos escalões não terão meios libertos para fazer face à compra dos medicamentos, ao pessoal e a outras despesas necessárias para o funcionamento das farmácias em condições normais”, disse Avelino Antão, à margem da apresentação do estudo.
Presente na apresentação do estudo, o presidente da ANF afirmou que “o número de farmácias que encerrou não terá sido muito", mas realçou que o número das que pediram insolvência já ultrapassou a centena.
João Cordeiro frisou que só as farmácias que “têm vendas claramente acima da média” (1,5 a dois milhões de euros) é que conseguem neste momento ter alguma capacidade para libertar meios e suportar custos.
Estas farmácias representam 30% do sector. Ou seja, 70% das farmácias estão com dificuldades e não conseguem suportar os seus encargos, sustentou.
Segundo o estudo, “as medidas implementadas no sector do medicamento com o objetivo de redução da despesa pública conduziram ao agravamento da situação económica e financeira das farmácias”.
O setor emprega aproximadamente 21.500 pessoas, o que representa gastos anuais na ordem dos 537 milhões de euros. Os gastos com pessoal representam 17,2% do valor das vendas e 57% dos custos totais (excluindo o custo das vendas).
O trabalho revela ainda que no período de 2010 a 2012, a margem bruta das farmácias reduz 26%, o valor das vendas baixa 17,3%, a rentabilidade operacional das vendas diminui 100,8% e a rentabilidade líquida das vendas reduz 198%.
Segundo os autores do estudo, esta análise reflete uma "significativa degradação dos resultados e da rendibilidade das vendas", que, partindo de uma rendibilidade positiva de 3,1% em 2010, se degrada para um valor negativo de 3,7% na estimativa para 2012.
“Apesar da estabilidade dos gastos fixos em termos absolutos, o seu peso face ao volume de negócios atual apresenta uma tendência de aumento acentuado, passando de 21,6% em 2010 para 26,6% em 2012”, refere.
Prevê-se também para este ano uma transferência do número de farmácias para escalões de volume de negócios inferiores, passando de 37 o número de farmácias com volume de negócios inferior a média em 2010 para 46 em 2012.
02 de maio de 2012
@Lusa
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