A catarata é uma doença ocular associada essencialmente ao envelhecimento e caracteriza-se pelo desenvolvimento de opacidade no cristalino (lente) do olho, podendo provocar a perda de visão. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 2020 esta condição afete 40 milhões de pessoas em todo o mundo.

Equipa FCTUC
créditos: DR

O dispositivo, que se encontra em fase de protótipo e já com registo provisório de patente, foi desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Tem por objetivo apoiar o diagnóstico da catarata, através da sua deteção precoce e caracterização, indicando a sua localização e extensão no cristalino. Permite também classificar o seu grau de severidade e estimar a sua dureza de modo automático.

Esta nova tecnologia baseada em ultrassons de alta frequência, usando sondas oftalmológicas, é capaz de "avaliar a progressão da doença, cuja informação é essencial para a decisão clínica", explica o coordenador do projeto, Jaime dos Santos, em comunicado da FCTUC.

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O dispositivo médico a desenvolver, com base neste protótipo, pretende ser uma ferramenta de diagnóstico simples, robusta e de baixo custo, que terá grande impacto nos serviços de saúde, nomeadamente "na gestão clínica dos doentes com catarata. Os clínicos passarão a ter acesso a dados objetivos que contribuirão para um diagnóstico e uma decisão da necessidade de cirurgia mais suportados", afirma Miguel Caixinha, investigador da equipa.

Outra vantagem do dispositivo criado pela equipa da FCTUC é o facto de recorrer a técnicas não invasivas para estimar a dureza da catarata. Assim, "em tempo real é possível identificar o tipo de catarata, caracterizar o seu grau de severidade, e estimar a sua dureza e dimensão", explicam os investigadores.

A tecnologia permite ainda minimizar o risco de complicações no pós-operatório porque, apesar de segura, a cirurgia da catarata tem de ser muito precisa. É necessário "substituir o cristalino por uma nova lente intraocular sem danificar a sua cápsula posterior e a córnea, nem causar lesões na retina. Fazendo uma analogia, é como ter de implodir um prédio sem danificar o museu de arte que está à sua volta", ilustra Miguel Caixinha. É nesta perspetiva que o conhecimento da dureza da catarata a ser extraída representará uma informação valiosa na seleção adequada da energia a usar na cirurgia de facoemulsificação.

Das experiências realizadas in vitro em cristalinos de suíno e in vivo em olhos de rato (modelos animais) com diferentes tipos de cataratas, verificou-se uma taxa de sucesso de 99.7% na caraterização automática da catarata e estimação da sua dureza.

A equipa está agora na fase da realização de ensaios clínicos e procura de parcerias para futura comercialização do dispositivo. Os investigadores estão bastante otimistas: "se no olho de um ratinho conseguimos contornar os vários obstáculos que surgiram relacionados com a dimensão extremamente pequena do olho, ao passar para os ensaios clínicos o processo será muito mais simples porque a dimensão do olho humano é muito maior".