“A análise do tempo decorrido entre o diagnóstico e a morte revelou que a maioria (55,6%) dos óbitos ocorridos em 2018 teve um diagnóstico de infeção por VIH há mais de 10 anos”, adianta o relatório "Infeção VIH e SIDA – situação em Portugal em 2019", elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Segundo os dados, 26,8% das mortes ocorreram nos cinco anos subsequentes ao diagnóstico da infeção e 17,2% no primeiro ano, o que “sugere tratar-se de diagnósticos tardios.
Na apresentação do relatório, Helena Cortes Martins, do INSA, adiantou que, entre 1983 e 2018, se registaram 14.958 óbitos.
Helena Cortes Martins destacou a descida de 46% do número de novos casos de infeção por VIH e dos novos casos de sida (67%), entre 2008 e 2017.
“Não obstante esta tendência decrescente mantida, Portugal tem apresentado das mais elevadas taxas de novos casos de infeção VIH e Sida da Europa ocidental”, acrescenta o relatório, adiantando que as estimativas apontam que, em 2017, viviam em Portugal, 39.820 pessoas com infeção por VIH, 7,8% das quais não estavam diagnosticadas.
Os novos diagnósticos são maioritariamente homens: “Para cada caso de uma mulher há 2,5 casos de homens”, disse Helena Cortes Martins, adiantando que a taxa de diagnóstico mais elevada se registou no grupo etário 25-29 anos (23,8 casos por 105 habitantes).
Os distritos com as taxas mais elevadas de novos diagnósticos foram Lisboa, Coimbra e Setúbal, com 16,6 casos, 11,4 casos e 11 casos por 100 mil habitantes, respetivamente.
Dos 973 novos casos diagnosticados em 2018, 593 eram portugueses e os restantes de oriundos de outros países.
Nos casos com diagnóstico de novo, em 2018, a prevalência
de mutações de resistência para alguma classe de fármacos foi de 14,6%, salienta o relatório.
Em declarações à agência Lusa, a diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida, Isabel Aldir, afirmou que “a trajetória do país em termos de novos diagnósticos de infeção por VIH se mantém positiva com cerca de 1.000 novos diagnósticos de infeção em 2018”.
Esta trajetória mantém as características habituais dos últimos anos: “infeções maioritariamente entre homens e adquiridas por via sexual e que se localizam nas grandes cidades”, disse a médica infeciologista.
“Estamos a conseguir chegar cada vez mais às pessoas que vivem com infeção e a diagnosticá-las, mas ainda há uma franja da população que ainda não foi diagnosticada e, por isso, é preciso manter todos os esforços de rastreio e torná-los cada vez mais eficazes”, defendeu.
Segundo o relatório, a proporção de infeções não diagnosticadas era mais elevada nos homens heterossexuais (13,9%) e mais baixa em utilizadores de drogas injetáveis (1,5%).
“A população de homens heterossexual é a que chega com diagnóstico mais tardio e como uma idade mais avançada porque são aqueles em que a perceção do risco pelo próprio é mais distante da realidade”, disse Isabel Aldir.
Isto faz com que não se proponham a fazer o teste, explicou a infeciologista, adiantando ainda que, “tradicionalmente, é uma população que acorre menos aos serviços de saúde e a probabilidade de lhes ser proposto um teste é também menor”.
Na apresentação do relatório, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou que todos os ganhos no combate a esta doença só foram possíveis porque “há um trabalho em rede”.
“É no conjunto desta estratégia e parcerias que o país atingiu resultados que não envergonham, mas vamos continuar a trabalhar em parceria para que esta situação ainda seja mais favorável”, disse Graça Freitas.
Os responsáveis saudaram o facto de 10 cidades já terem aderido à iniciativa “Cidades na via rápida para acabar com a epidemia de VIH”, nomeadamente: Lisboa, Porto, Cascais, Amadora, Sintra, Oeiras, Odivelas, Loures, Almada e Portimão
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