As causas para esta insuficiência são diversas, desde a falta de meios do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) para coordenar esta atividade, até ao atraso no arranque do transplante em paragem cardiocirculatória, passando pelas discrepâncias regionais e pelo pouco aproveitamento que é feito dos rins recolhidos.

A SPT considera que os números mais recentes das transplantações dão “positivos”, mas que “Portugal continua aquém do seu potencial de colheita e transplantação”.

Segundo dados do IPST, em 2015 o número de transplantes aumentou 11% e número de dadores aumentou 9,5%, tendo-se realizado 830 transplantes de um total de 381 dadores.

“Se se tivesse mantido a tendência crescente de 2009 e 2010 seguramente estaríamos melhor, mas uma discutível reformulação das responsabilidades da tutela na transplantação e algum desinvestimento em 2011 e 2012 fizeram parar e perder muito do trabalho que já estava feito pela antiga Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST)”, afirma em comunicado Fernando Macário, presidente da SPT.

Segundo o responsável “ainda hoje não são completamente claras as fronteiras entre as responsabilidades da Direção Geral de Saúde (DGS) e do IPST”, sendo que o instituto “reconhece que não tem os meios adequados para coordenar efetivamente este campo de atividade”.

Na opinião de Fernando Macário, os números poderiam ser melhores “se o transplante em paragem cardiocirculatória não tivesse demorado tantos anos a arrancar”.

Fernando Macário refere também as discrepâncias regionais existentes no que se refere ao transplante de cadáver, pois há unidades hospitalares que não detetam todos os potenciais dadores e colhem órgãos muito aquém do que deveriam.

O presidente do SPT defende também a necessidade de repensar a rede de coordenação da colheita, considerando que as estruturas oficiais não têm capacidade para auditar e vigiar esta atividade, os registos da atividade ainda são arcaicos e a informação não circula entre os profissionais da área.

O desaproveitamento de órgãos é outro dos problemas identificados, já que continua a haver uma média de 130 órgãos, principalmente rins, que são colhidos mas não são aproveitados, devido sobretudo à elevada idade média e morbilidade dos dadores.

Acresce a isto que a zona de Lisboa, onde está a maioria das unidades de transplantação, não tem capacidade de resposta para a realização de biópsias do enxerto renal sempre que necessário, sublinhou.

“Assim, alguns dos rins de dadores mais idosos ou com patologias que poderiam ser aproveitados são rejeitados”, explica Fernando Macário.

O responsável aponta ainda a necessidade de apostar na formação de recursos humanos na área da transplantação e na melhoria das condições de algumas unidades de transplantação.