“Desenvolver um medicamento único para erradicar simultaneamente várias espécies de vírus do sistema nervoso central de indivíduos co-infectados”. É esta a missão de um grupo de cientistas liderado pelo Professor Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em parceria com investigadores da Universidade Pompeu Fabra em Barcelona e o parceiro industrial Synovo, com financiamento da Comissão Europeia.
Juntos, fundaram o projeto NOVIRUSES2BRAIN para dar seguimento a esta investigação. Os primeiros passos foram dados a 12 de setembro 2019, em Barcelona, com a primeira reunião de equipa, a fim de avançar com os objetivos do projeto: desenvolver moléculas que conseguissem atravessar a barreira hematoencefálica e da barreira hematoplacentária, e que transportassem um fármaco capaz de inativar os vírus que alcançam o cérebro e os fetos.
Em 2020, já com o projeto em desenvolvimento, seguiram-se várias ações de divulgação científica para dar a conhecer a importância desta investigação, bem como a sua pertinência e objetivos. Marcámos presença em escolas – para fomentar o interesse científico desde cedo – e também, em congressos internacionais para estimularmos o debate científico com outros profissionais e entidades. Também nesse ano, temos o orgulho de ter participado em ações sobre as alterações climáticas e os seus efeitos na expansão de insetos transmissores de vírus como o Zika e Dengue para a Europa, cujo projeto pretende dar resposta.
Ainda nesse ano, surge a pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 e cedo se percebeu que este vírus se pode fixar no cérebro em alguns pacientes, provocando danos neurológicos. Passou de imediato, a ser um dos alvos prioritários dos fármacos em desenvolvimento.
Em 2021, os resultados começaram a surgir e foram divulgados em revistas científicas da especialidade. Num deles, a equipa de investigação do projeto NOVIRUSES2BRAIN demonstra que, 3 moléculas em estudo, conseguem efetivamente ultrapassar as barreiras do cérebro e placenta e, tem atividade antiviral contra vírus com envelope lipídico. O HIV foi o vírus modelo escolhido neste estudo. Num segundo estudo, foi comprovada a eficácia de moléculas semelhantes contra o vírus Zika.
Em 2022, tivemos oportunidade de, mais uma vez, fomentar o desenvolvimento desta área, através da visita de Daniel Gavino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil), ao Laboratório Miguel Castanho no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em Lisboa. Foi possível partilharmos várias experiências e práticas científicas: do lado de Daniel Gavino, acerca do modelo animal para estudar a infeção pelo vírus da Zika e, do lado do laboratório, a aplicação de técnicas biofísicas.
Já em julho de 2022, tivemos o orgulho de organizar e participar no “The Biochemistry Global Summit”, em Lisboa, que foi uma excelente oportunidade para conhecer as últimas descobertas no campo das ciências biomoleculares e interagir com cientistas de todo o mundo.
O sucesso deste projeto de desenvolvimento de fármacos e posteriores ensaios in vivo, pode significar a descoberta de uma opção terapêutica para os doentes infetados com vírus, como o Zika, Dengue, SARS-CoV-2, entre outros vírus envelopados, cuja infeção chegue ao cérebro e/ou placenta, provocando danos irreparáveis. É por isto, que temos trabalhado nos últimos três anos, e para o qual, continuaremos a trabalhar. Novos resultados, com boas notícias, serão publicados em breve.
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