Em declarações aos jornalistas na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa, após uma reunião com uma delegação do PCP, Carlos Cortes manifestou incompreensão com “uma espécie de banalização dos problemas” e de “falta de antecipação e planeamento” para uma “situação previsível”, que acontece todos os invernos nas urgências.

“Nós, muito rapidamente - e quando digo muito rapidamente, é ainda durante o mês de janeiro - vamos pedir ao ministério da Saúde para começar a construir um plano para o próximo inverno”, anunciou.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, o país não pode estar “em cima do acontecimento a tentar resolver o problema” porque “não houve antecipação, não se preparou uma campanha de divulgação junto das pessoas para este momento de inverno”.

Carlos Cortes referiu que já se sabe que oo período de inverno e de frio “necessariamente faz desenvolver mais infeções respiratórias, mais descompensações dos problemas crónicos e, por isso, uma maior pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e sobre as urgências”.

“As pessoas não têm de passar por isto todos os anos: o país tem de ter capacidade de evitar esta situação”, defendeu, reforçando que o Governo deve começar a preparar o plano para o próximo inverno imediatamente.

Segundo o bastonário da Ordem dos Médicos, esse plano deve incluir “uma campanha de literacia junto das pessoas”, mas também o reforço antecipado dos cuidados de saúde primários e da capacidade de resposta dos hospitais, assim como a contratação de médicos.

“Há muitos médicos que, neste momento, estão fora do SNS, muitos deles em prestação de serviços para o SNS. É a partir de agora que se tem de começar a estabelecer um plano para a contratação desses médicos”, defendeu.

Questionado sobre o facto de haver eleições legislativas em 10 de março, e de o atual Governo vir a ser substituído, Carlos Cortes respondeu que, apesar das legislativas, “o ministério da Saúde não pode entrar em colapso, não pode ficar congelado, porque as doenças não entram em colapso” e os “doentes mantêm-se, não desaparecem até às eleições”.

“Portanto, o ministro da Saúde e o diretor executivo do SNS não se podem demitir das suas funções. As pessoas precisam de ter as suas cirurgias, as suas consultas a tempo e horas, precisam de uma resposta, muitas delas urgente”, disse.

Carlos Cortes criticou em particular o facto de o ministro da Saúde vir, “no meio desta crise de final de ano nas urgências, dizer que vai agora reforçar a linha SNS24”, defendendo que isso “teria de ser feito muito antes” e devia ter sido preparado.

Já questionado sobre notícias que indicam que, hoje, o tempo de espera nas urgências voltou ao normal, o bastonário da Ordem dos Médicos disse ficar satisfeito, mas pediu que se veja o “problema de forma global” e não se a situação está a melhorar ou piorar “pontualmente, dia a dia”.

“De uma forma global, infelizmente a análise que temos de fazer é uma análise profundamente negativa do que está a acontecer, e isto não é admissível, porque esta situação é daquelas previsíveis”, defendeu.

Para Carlos Cortes, “as pessoas, os portugueses, os políticos, não podem aceitar que a situação [no SNS] se reproduza todos os anos e que não haja responsabilidade política”.

“Obviamente que os políticos, os responsáveis da tutela têm de ser responsabilizados por um evento que é frequente, cíclico e não existe da parte dos responsáveis capacidade de o antecipar, evitar ou mitigar”, disse.