
O presidente da secção regional do Centro da Ordem, Carlos Cortes, esteve hoje a ser ouvido no parlamento sobre a situação do Centro Hospitalar de Leiria, em especial sobre a urgência, após o pedido de demissão de chefes de equipa de urgência e do presidente do conselho de administração.
Em representação do bastonário dos Médicos, Carlos Cortes indicou aos deputados que enviou 45 ofícios sobre a situação do hospital de Leiria ao Ministério da Saúde, à Administração Regional de Saúde do Centro e à própria administração do hospital. Só sobre a urgência foram enviados mais de 20 documentos.
O representante da Ordem assume que os problemas do hospital de Leiria não são de hoje, arrastando-se sobretudo na última meia dúzia de anos.
Contudo, têm-se agudizado, com falta de profissionais e com médicos absolutamente exaustos e até vários casos de clínicos que abandonam o hospital porque não aguentam a pressão.
Segundo Carlos Cortes, a Ordem dos Médicos recebeu mais de 200 declarações de responsabilidade de médicos do Centro Hospitalar de Leiria, nas quais os médicos indicam e descrevem as dificuldades e constrangimentos que sentem na sua prática clínica.
A título de exemplo das dificuldades sentidas pelos clínicos na urgência, o responsável citou o relato de um médico que indica ter chegado a um turno onde lhe foram passados mais de 100 doentes do turno anterior.
Dos ofícios enviados para o Ministério da Saúde, a Ordem dos Médicos diz que até hoje a “resposta foi zero”.
“Não houve absolutamente nenhuma resposta ao pedido de intervenção”, declarou aos deputados da comissão parlamentar de Saúde.
Em declarações à Lusa no final da comissão, Carlos Cortes indicou que pelo menos dois ofícios foram enviados já durante o mês de fevereiro ao Ministério a alertar para a “gravidade da situação na urgência”.
Segundo Carlos Cortes, pelo menos 12 médicos internistas (especialista em medicina interna) rescindiram o contrato com o hospital desde abril de 2018.
Alguns nem estarão sequer a trabalhar em qualquer outra unidade de saúde, nem pública nem privada, tendo saído porque “não aguentavam a pressão e a falta de condições”.
A Ordem afirma que era seu dever deontológico agir perante os alertas que lhe foram chegando dos médicos que trabalham no hospital de Leiria, sobretudo na urgência.
Além de contactos escritos e formais, vários médicos se dirigiram à Ordem “aflitos, em situação de ‘burnout’ e de exaustão”.
“Há pessoas que saem todos os dias do hospital e choram porque não conseguem tratar dos seus doentes”, descreveu Carlos Cortes.
A comissão parlamentar de Saúde ouviu hoje também o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) sobre o hospital de Leiria.
Roque da Cunha destacou o “extraordinário trabalho de resiliência dos profissionais” e lamentou o “desinvestimento” que tem havido no Serviço Nacional de Saúde.
Segundo o Sindicato, o volume de trabalho da urgência não é comportável com os recursos humanos que existem, levando a que seja “humanamente impossível fazer um trabalho minimamente decente”.
“Leva à exaustão, ao cansaço, ao desânimo, e é para muitos um caminho de saída”, afirmou Rui Garcia, médico do hospital e que falou também em representação do SIM.
Entretanto, a propósito destas audições de hoje, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) emitiu um comunicado a estranhar que o parlamento tenha esquecido o papel do Sindicato dos Médicos da Zona Centro (SMZC), que faz parte da FNAM.
“Qualquer audição ou grupo de trabalho constituído com o objetivo de resolver ou discutir situações que envolvam problemas de âmbito laboral da carreira médica deve necessariamente incluir todos os sindicatos médicos”, refere a FNAM.
Na sexta-feira, a comissão parlamentar de Saúde ouve a ministra da Saúde, Marta Temido, sobre a situação no hospital de Leiria.
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