19 de abril de 2013 - 14h45
A Organização Mundial de Saúde anunciou hoje estar a estudar, em Pequim, o caso de três famílias com elementos aparentemente infetados pelo vírus H7N9 da gripe das aves, para avaliar o risco de transmissão humana da doença.
Cada uma destas três famílias tem mais de um membro aparentemente infetado pelo vírus H7N9.
"O que desconhecemos é o tamanho do icebergue na parte submersa", declarou em conferência de imprensa Michael O'Leary, representante da OMS na China.
Antes dos 87 casos de infeção humana, recentemente registados na China, a estirpe H7N9 da gripe das aves nunca tinha sido transmitida ao ser humano. Este vírus causou 17 mortos, maioritariamente no leste do país, em Xangai e nos arredores.
Apesar dos esforços das autoridades, o H7N9 alastrou em pelo menos quatro províncias e nas duas maiores cidades, Pequim e Xangai, do país mais populoso do mundo. A progressão é lenta, mas novos casos de infeção são anunciados todos os dias.
Os "focos familiares" - várias contaminações numa mesma família - são os mais preocupantes para os especialistas, porque podem ser o primeiro sinal de um contágio entre humanos, a hipótese mais temida por ser suscetível de desencadear uma pandemia.
Uma equipa de 15 especialistas estrangeiros está a reunir informações sobre o vírus H7N9, muito difícil de detetar nas aves por ser pouco patogénico e não causar a morte dos animais domésticos.
Medidas de prevenção
O presidente chinês, Xi Jinping, pediu hoje às autoridades para tomarem medidas eficazes para travar a propagação do H7N9, anunciou o comité central do Partido Comunista Chinês, citado pela agência noticiosa oficial Nova China.
O novo primeiro-ministro, Li Kepiang, ordenou ao Governo para se mobilizar na resposta ao vírus, em duas reuniões realizadas em Pequim, esta semana e na semana passada.
As autoridades chinesas "estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para impedir (o vírus) de se propagar", garantiu hoje a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying.
Entre as infeções dos últimos dias está a de um habitante de Xangai de 86 anos, que morreu das sequelas do vírus H7N9. Os dois filhos foram hospitalizados, e um deles, de 65 anos, também morreu.
As causas da morte ainda não foram apuradas. O outro filho testou positivo para o H7N9, mas sobreviveu.
Em pelo menos dois dos três "focos familiares", um membro da família foi contaminado enquanto um outro apresentou sintomas "semelhantes no plano clínico e presumíveis de serem os do H7N9", disse O'Leary.
Entre as principais questões a esclarecer está a de que alguns doentes parecem não terem estado em contacto com aves infetadas.
"O primeiro objetivo da investigação é determinar se o (H7N9) se propaga efetivamente, a um nível inferior, entre humanos. Mas, até ao momento, nada indica que estes não sejam exemplos raros" de focos familiares, explicou O'Leary.
"Os elementos de prova continuam a mostrar que as aves são o vetor de transmissão, mesmo se os epidemiologistas ainda não estabeleceram o modo (de contágio), clara e solidamente", acrescentou.
Para este especialista, "mais de metade" dos chineses infetados pela gripe das aves H7N9 estiveram em contacto com os animais.
O inquérito dos virologistas e dos especialistas em medicina veterinária vai ser orientado especialmente para esta minoria de vítimas infetadas, algumas das quais já receberam alta hospitalar.
O representante da OMS repetiu que Pequim, perante a preocupante situação do H7N9, estava a fazer prova de transparência nas informações e acesso facultados à organização.
Durante a crise da pneumonia atípica, oriunda na China em 2003, a OMS criticou fortemente Pequim pela demora em dar o alerta e pela tentativa de dissimular a amplitude da epidemia.
Lusa