O anúncio é do cirurgião Rui Coelho, que, enquanto diretor da BoneEasy, já em laboração desde 2013, se propõe transferir a atual fábrica de Ovar, também no distrito de Aveiro, para um terreno de 5.000 metros quadrados no concelho contíguo da Feira.
A deslocalização deverá ficar concluída no início de 2023 e o novo edifício permitirá aumentar a área produtiva de 600 para 2.000 metros quadrados, alargando também o quadro de pessoal de 13 para 20 profissionais.
“Este tipo de implante maxilofacial individualizado faz-se muito pouco em todo o mundo – seremos umas quatro empresas a fazê-los a nível global”, disse o empresário hoje à Lusa.
Mesmo enfrentando dificuldades acrescidas em Ovar pelo facto de as atuais instalações confinarem com unidades fabris cuja emissão de pós obriga a mais despesa para garantia do ambiente controlado essencial à produção de dispositivos médicos, a BoneEasy faturou 1,5 milhões de euros em 2021, o que representou uma produção de 990 implantes em três materiais específicos: titânio, cerâmica (utilizada sobretudo para articulações temporomandibulares) e PEEK (o Poli-Éter-Éter-Cetona, maioritariamente para reconstrução craniana).
Essa produção foi absorvida por diferentes mercados: 30% ficou em Portugal, a pedido de clientes como os hospitais de São João e Santo António no Porto, o IPO de Coimbra e “todos os privados”; e os restantes 70% seguiram para países de todos os continentes, à exceção da China e dos Estados Unidos da América.
“As certificações exigidas por esses dois países são muito complicadas, mas já estamos com esses processos em curso. Devemos entrar nos Estados Unidos em abril, como fornecedores da Zimmer Biomet, e contamos chegar à China daqui a dois anos”, adianta Rui Coelho.
Entretanto, a conclusão da fábrica no Europarque – de cuja empreitada consta a instalação de painéis SIP por esses serem as estruturas de isolamento “mais eficientes do mundo em termos energéticos” – permitirá “uma escalada enorme na produção”: o plano é “duplicar a faturação a cada ano no período de 2022 e 2023, e triplicá-la nos dois anos seguintes”.
Rui Coelho defende que essa é uma expectativa natural, considerando não só a crescente procura de implantes ajustados às características fisiológicas específicas de cada doente, mas também tendo em conta a evolução tecnológica ao nível de soluções médicas para reconstrução maxilofacial.
“As impressoras a 3D para metal ainda são uma tecnologia recente, a quebrar barreiras, mas nós já estamos a preparar soluções a esse nível. Fazemos investigação constante e neste momento temos em fase de experimentação na UTAD [Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro] a implantação de peças de cerâmica em novos domínios”, refere o diretor da BoneEasy.
A vantagem da customização cada vez mais detalhada deste tipo de próteses é que “facilita o trabalho do cirurgião, é ecologicamente mais interessante por evitar o desperdício de materiais em geometrias mais complexas e revela-se muito mais cómoda para o doente” que, por exemplo, tem uma malformação congénita ou perdeu parte do rosto devido a um acidente ou um tumor.
“Hoje em dia, para reconstrução de uma mandíbula, a prótese é feita com osso do perónio, o que faz com que a cirurgia demore 18 horas e obrigue o doente a ficar no hospital dois meses. Com as nossas peças à medida, a operação é de apenas três horas e o doente tem alta ao fim de uma semana”, explica Rui Coelho.
Precisamente por essa diferença, a BoneEasy realiza hoje no centro de congressos Europarque um simpósio que dará a em conhecer os avanços do setor a cerca de 500 profissionais de todo o mundo, 140 dos quais na plateia física do recinto e 350 na assistência remota.
O cirurgião elogiou a estratégia da Câmara da Feira, que desde 2012 demonstrou para com este projeto “uma grande sensibilidade” e a consciência do potencial da indústria da saúde para o tecido económico regional e nacional e respetiva afirmação externa.
Emídio Sousa, presidente da referida autarquia, referiu que já há 10 anos vem acompanhando as pretensões da BoneEasy e considerou que ela, “além de assegurar um produto extremamente inovador e útil, cria postos de trabalho altamente qualificados e só tem na sua equipa profissionais com mestrados e doutoramentos”.
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