Entre 1990 e 2014, foram realizados cerca de 56 milhões de abortos por ano, de acordo com o estudo publicado na revista médica britânica The Lancet.

A taxa alta de interrupções voluntárias da gravidez nos países mais pobres ilustra a necessidade de acesso a métodos contracetivos modernos, como a pílula, implantes e outros dispositivos, como o DIU, indicam os cientistas.

"Nos países em desenvolvimento, os serviços de planeamento familiar não parecem estar em condições de responder ao desejo crescente de famílias menores", afirma Gilda Sedgh, do Instituto Guttmacher, em Nova Iorque, que coordenou o estudo.

"Mais de 80% das gestações indesejadas acontecem entre mulheres que não têm acesso a métodos contracetivos modernos", acrescentou.

Leis mais restritivas não reduzem o número de abortos

O estudo, que foi realizado com a colaboração da Organização Mundial da Saúde (OMS), também conclui que leis mais restritivas não reduzem o número de abortos.

Em países onde as interrupções voluntárias da gravidez são limitadas - e, portanto, realizadas em condições arriscadas - estima-se que a taxa de aborto seja tão alta quanto em países onde a prática está perfeitamente legalizada.

Segundo os cientistas, uma em cada quatro gestações resulta em aborto. Entre 2010 e 2014, a taxa mais elevada (32%) foi observada na América Latina, onde vários países criminalizam o procedimento.

A professora Diana Greene Foster, da Universidade da Califórnia, comenta que "os abortos não podem ser evitados com a criminalização" porque tal "apenas leva as mulheres a recorrer a serviços ou métodos ilegais", lê-se no estudo.

No período de 25 anos analisado (1990-2014), o número de abortos nos países desenvolvidos diminuiu de 46 para 27 por cada 1.000 mulheres em idade fértil (15 a 44 anos).

Esta queda deve-se principalmente a uma redução acentuada da taxa de abortos nos países do leste europeu, de 88 para 42, graças a um melhor acesso à contraceção.

Também caiu no sul da Europa (de 39 para 26), no norte da Europa (22 para 18) e na América do Norte (25 para 17) durante o mesmo período.