Em declarações à Lusa, a investigadora do INESC TEC da Universidade do Porto, Catarina Maia, contou que o projeto, denominado 'NeuroQ', visou o desenvolvimento de um dispositivo 'wearable' [tecnologia que pode ser utilizada como peça de vestuário] que avaliasse a "rigidez do pulso" do doente, durante uma operação de estimulação cerebral profunda.

"Nas cirurgias de estimulação profunda, a dada altura, o doente é acordado e é-lhe pedido que faça movimentos de flexão e extensão do pulso, e o cirurgião com a sua mão, percebe qual é a rigidez que está associada ao doente. O que o nosso 'wearable' permite, ao colocar-se no pulso do doente, é perceber qual a rigidez do movimento de flexão e distensão, podendo assim classificar e retirar a subjetividade do procedimento", esclareceu a investigadora.

Segundo Catarina Maia, o dispositivo desenvolvido, além de reduzir e auxiliar na decisão, também "reduz a responsabilidade clínica", na medida em que se os elétrodos (que encaminham uma descarga elétrica que estimula determinados neurónios) tiverem "um posicionamento incorreto", podem originar efeitos secundários no doente, que vão desde a apatia até à depressão ou euforia.

Além de abranger doentes com Parkinson que se tornaram refratários e tolerantes aos fármacos, esta cirurgia pode também ser utilizada em doentes com outros distúrbios como a perturbação obsessiva compulsiva e epilepsia, apesar de não existirem "históricos deste tipo de aplicações em Portugal".

A equipa do 'NeuroQ' - projeto que foi distinguido na segunda-feira com o Prémio de Inovação em Saúde i3S-Hovione Capital, um prémio internacional criado em 2017 pela companhia de investimentos Hovione Capital e pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no valor de 35 mil euros - validou clinicamente o dispositivo durante os últimos quatro anos, em cerca de 80 doentes com Parkinson que estavam a ser acompanhados por uma equipa do Hospital de São João, no Porto.

"Não há assim tantas pessoas a serem sujeitas a esta cirurgia, sendo as pessoas com Parkinson, que são cerca de dez mil por ano a nível mundial. Isso significa que não temos muitos doentes disponíveis, mas estamos em contacto com centros internacionais para eles realizarem os ensaios clínicos", afirmou Catarina Maia.

À Lusa, a investigadora revelou que a equipa se encontra a desenvolver uma "nova versão" do dispositivo tecnológico, de modo a "aumentar o número de doentes" e alargar a "validação clínica".

"O modelo de negócio que está subjacente à comercialização desta tecnologia está dependente do licenciamento da mesma. Estamos a estruturar tudo isto para que daqui a alguns anos possamos validar a tecnologia a um dos grandes ‘players’ desta área", acrescentou.