Um ensaio pré-clínico, publicado esta quarta-feira na revista científica Nature, mostrou que um anticorpo específico para o vírus VIH-1 (vírus da imunodeficiência humana tipo 1) consegue controlar o vírus durante 28 dias, embora esse anticorpo só por si não seja suficiente para controlar a infeção, tendo que ser combinado com antirretrovirais. 

A técnica consiste em estimular o sistema imune para tratar um agente infecioso, um método que tem sido utilizado sobretudo na luta contra o cancro.

As primeiras gerações de anticorpos monoclonais - produzidos a partir de uma única linha de células - provaram ser ineficazes no combate ao vírus e avia da imunoterapia foi abandonada a favor dos coquetéis de medicamentos antirretrovirais, capazes de amordaçar a doença de forma eficaz, mas até agora incapazes de erradicar o vírus.

A equipa norte-americana responsável pelo estudo, da Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque, concluiu este ensaio clínico de "fase I" focando-se na administração de uma dose única de um anticorpo "poderoso".

A substância, conhecida pelo código 3BNC117, atua "neutralizando" o VIH, impedindo que o vírus aborde os CD4 - células do sistema imunitário de tipo linfócitos - mostrando-se eficaz contra a maioria das mutações do vírus HIV-1.

Como funciona?

Foram administradas doses variáveis deste anticorpos por via intravenosa em 12 pessoas saudáveis ​​não infetadas com o VIH e em 17 seropositivos, dois dos quais já em tratamento antirretroviral.

O anticorpo monoclonal, isolado e clonado a partir de um paciente infetado com VIH, não apresentou efeitos secundários nas cobaias e surtiu efeito na redução da concentração do vírus no sangue durante quatro semanas.

"Todos os oito indivíduos que receberam a dose [a mais elevada, ndlr]) de 3BNC117 mostraram um declínio significativo e rápido da carga viral", ressaltaram os pesquisadores norte-americanos, lê-se num comunicado enviado à revista Nature.

A "queda da carga viral" mostrou-se "particularmente significativa" entre o quarto e o 28.º dia. Mas após este período, a quantidade de vírus no sangue começou a subir, até que aos 56 dias chegou ao mesmo nível anterior à injeção, em quatro dos oito casos.

"A monoterapia com apenas 3BNC117 é insuficiente para controlar a infeção e, provavelmente, uma combinação de substâncias que constituem anticorpos será necessária para controlar completamente a carga viral", antecipam os investigadores.

O mesmo acontece com os medicamentos antirretrovirais que usados ​​separadamente combatem ineficazmente a doença, embora sejam extretamente eficazes quando administrados sob a forma de coquetel.

A imunoterapia teria, pelo menos inicialmente, um custo muito maior do que os antirretrovirais, mas teria a dupla vantagem de uma eficácia prolongada e de um efeito estimulante para o sistema imunitário, argumentam os cientistas, que acreditam que este pode ser o novo caminho na luta contra a Sida.