O “Paracetamol Sulfonation Index” (PSI), desenvolvido pela equipa de Natália Marto, médica de Medicina Interna do Hospital da Luz Lisboa e investigadora do Laboratório de Farmacologia Translacional (Centro de Estudo de Doenças Crónicas da Nova Medical School), entrou na segunda fase de ensaios clínicos. O objetivo é avaliar a variabilidade inter-individual do PSI em doentes com hipertensão arterial.
HealthNews (HN) – O que é o “Paracetamol Sulfonation Index” (PSI)?
Natália Marto (NM) – O PSI é uma ferramenta desenvolvida pela nossa equipa do Laboratório de Farmacologia Translacional que permite estimar, e sobretudo comparar entre vários indivíduos, a atividade de sulfotransferases (SULT), enzimas responsáveis pela sulfonação. O PSI é inovador porque é o primeiro método publicado que permite estimar a atividade das SULT in vivo no Homem.
HN – A sulfonação é um processo metabólico comum a neurotransmissores, hormonas e medicamentos, entre outros. De que forma se correlaciona com a resposta individual aos medicamentos?
NM – Sabe-se que a atividade das SULT varia bastante entre indivíduos e é afetada por fatores genéticos, epigenéticos e sobretudo ambientais, incluindo uso de medicamentos, dieta e exposição a carcinogéneos. Esta variação na capacidade de sulfonação vai ter impacto na resposta a medicamentos. Por exemplo, um indivíduo que tenha uma capacidade de sulfonação elevada, vai ter menos eficácia de um medicamento que é metabolizado pelas SULT porque o elimina mais rapidamente. Por outro lado, se o indivíduo tiver uma capacidade de sulfonação baixa, tem maior probabilidade de ter reações adversas desse medicamento metabolizado pelas SULT, uma vez que o elimina mais lentamente, podendo acumular-se uma dose supra-terapêutica.
HN – Qual é a utilidade do PSI na medição e comparação dessa variabilidade individual na resposta a fármacos?
NM – Propomos o PSI como uma ferramenta de Medicina de Precisão. O objetivo é avaliar para cada doente a sua capacidade de sulfonação, distinguir subpopulações com elevada e baixa capacidade de sulfonação e assim, para fármacos metabolizados predominantemente por SULT, definir doses adequadas a cada subpopulação.
HN – Quais foram os resultados mais significativos do primeiro ensaio clínico, apresentados no Congresso “Experimental Biology” da “American Society of Pharmacology and Experimental Therapeutics”?
NM – O principal resultado foi o próprio PSI, apresentado como um método de avaliação da sulfonação in vivo no Homem e ferramenta de Medicina de Precisão. No Congresso expusemos os aspetos metodológicos do PSI. O PSI é um método de fenotipagem metabólica e a sua construção envolveu a administração, a voluntários saudáveis, de paracetamol (fármaco metabolizado pelas SULT) e o cálculo de um ratio entre o sulfato de paracetamol e outros metabolitos, medidos por espetrofotometria de massa.
HN- Neste momento está em curso uma segunda parte do ensaio clínico. Tem por objetivo avaliar a variabilidade interindividual do PSI em doentes com hipertensão arterial?
NM – Exatamente. Neste segundo ensaio clínico estamos a aplicar o PSI, a nossa ferramenta de comparação da capacidade de sulfonação, em doentes com hipertensão arterial. Escolhemos esta doença porque vários fármacos anti-hipertensores e também as catecolaminas (neurotransmissores importantes na fisiopatologia da hipertensão) são metabolizadas pelas SULT. A nossa hipótese é que a maior ou menor capacidade de sulfonação do indivíduo tenha influência na resposta aos diferentes anti-hipertensores.
HN – Qual pode ser o impacto na prática clínica desta ferramenta de medicina de precisão?
NM – O nosso objetivo é simplificar o método até que seja uma simples análise laboratorial que ajude o médico a decidir o fármaco mais adequado ou a dose mais correta para cada indivíduo ou subpopulação, atendendo à capacidade de sulfonação. Idealmente, com esta abordagem de Medicina de Precisão, aumentamos a eficácia e diminuímos as reações adversas de medicamentos.
Entrevista de Adelaide Oliveira
Comentários