Trabalhadores da Cruz Vermelha Internacional carregam um corpo, em Monróvia, Libéria, a 5 de janeiro (AFP/ZOOM DOSSO)

A maioria dos tratamentos desenvolvidos contra o vírus ébola dirige-se a uma parte da sequência genética ou a uma proteína derivada desta sequência do genoma do vírus, explicaram os pesquisadores do trabalho publicado na revista mBio da Sociedade americana de microbiologia (ASM), escreve a agência France Presse.

Se uma modificação destas sequências ocorrer como resultado de uma mutação genética, que é uma evolução natural do vírus, o tratamento pode tornar-se ineficaz, advertiram.

"A nossa investigação destaca as mudanças no genoma que podem afetar as terapias genéticas desenvolvidas desde os anos 2000, a partir de estirpes do ébola responsáveis pelas epidemias de 1976 e 1995", afirmou Gustavo Palacios, diretor do Centro de Ciências do Genoma no Instituto de Pesquisas Médicas de doenças infeciosas do Exército dos Estados Unidos (USAMRIID) em Frederick, no estado de Maryland.

Em comparação com o genoma completo da estirpe responsável pela epidemia do Zaire, hoje República Democrática do Congo, em 1976, chamada EBOV/Yam-Mayet, e que provocou uma segunda epidemia no país em 1995 (EBOV/Kik), os cientistas detetaram mutações em aproximadamente 3% do genoma ao longo dos anos. A epidemia atual, por sua vez, é denominada EBOV/Mak.

Os tratamentos genéticos oferecem hoje mais esperanças na luta contra o ébola, mas nenhum foi aprovado pela agência americana de alimentos e medicamentos (FDA) nem pela homóloga europia.

Tratamentos experimentais adotados devido ao carácter de urgência

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou medidas de urgência para tentar conter a epidemia atualmente concentrada em três países - Guiné-Concacry, Serra Leoa e Libéria - e, por isso, um pequeno grupo de pacientes foi tratado com terapias experimentais. Outro tratamentos estão ainda no papel e podem vir a ser administrados nos próximos meses.

"O vírus ébola não apenas sofreu mutação após a descoberta destas terapias, mas continua a mudar", ressaltou o capitão Jeffrey Kugelman, um geneticista da USAMRIID, e um dos autores da descoberta. Três das mutações apareceram durante o atual surto, disse.

Esta epidemia, que começou no início de 2014, já provocou 8.600 mortos entre os 22.000 casos registados, segundo o último balanço da OMS, de 17 de janeiro.