Os dados que serão hoje apresentados mostram que as mulheres ocupam apenas 38% dos lugares de topo na Saúde, apesar de representarem cerca de 75% do total da força de trabalho e da presença dominante ao nível dos diplomados no ensino superior nesta área.

Em declarações à Lusa, a investigadora Sofia Nunes, da Universidade Nova da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, que vai apresentar o trabalho “Liderança Feminina na Saúde: O caso de Portugal”, explica que os investigadores esbarraram na dificuldade de encontrar dados agregados a nível nacional sobre a matéria.

“Não conseguimos encontrar dados agregados em Portugal. Estamos a tentar arranjar solução, possivelmente um projeto mais alargado para encontrar esses dados”, explicou a investigadora, lembrando que a dominância masculina em lugares de topo "é um fenómeno global e transversal a diversas áreas".

A falta de dados agregados em Portugal é também apontada numa outra análise, que será apresentada na mesma iniciativa, elaborada pela GFK/Metrics, que refere que há muita informação e múltiplas estatísticas, “mas são dados desagregados e não sistematizados” e que “dificultam uma compreensão profunda da realidade”.

Como exemplo das discrepâncias, o estudo realizado pela Faces de Eva: Estudos sobre a Mulher/CICS.NOVA (NOVA-FCSH) aponta dados de um dos grandes hospitais de Lisboa em que mais de metade (52%) dos médicos são mulheres, mas apenas 17% assumem cargos de diretoras de serviço.

O trabalho defende que, apesar de haver melhorias no número de mulheres na liderança, “o progresso não é suficiente” e aponta algumas barreiras à liderança no feminino.

A existência de normas e valores da cultura organizacional, os estereótipos de género e os desafios, para as mulheres, da conciliação entre a vida profissional e familiar, assim como a falta de mentores eficazes são algumas das barreiras apontadas.

Como estratégias para solucionar o problema, os investigadores sugerem a promoção de iniciativas dentro das organizações “que ajudem à transformação da cultura organizacional”, a existência de horários de trabalho flexíveis, programas de mentoria, eventos de ‘networking’ e redes corporativas de mulheres.

Treino formal sobre liderança para as mulheres enquanto estão a tirar os cursos e a existência de quotas ou a obrigatoriedade da alternância de género nos órgãos de gestão são outras sugestões.

O trabalho, que teve o apoio da Roche, vai ser apresentado no encontro que servirá para lançar o Movimento Life - Liderança no Feminino na Saúde, que pretende conduzir a uma mudança de comportamentos e promover ações que contribuam para uma maior paridade na liderança no setor da Saúde.

O Movimento promoveu já uma primeira reflexão, com cerca de 30 mulheres de várias gerações com experiência de liderança na Saúde, que são embaixadoras desta iniciativa.

Foram analisadas as razões históricas e atuais para a atual situação da igualdade de género e debatidas estratégias de desenvolvimento para criar um futuro melhor para as novas gerações.

Desta reflexão saíram diversas recomendações, entre as quais a necessidade de promover a literacia, educação e formação em direitos humanos e igualdade de género, desde a escola primária até às universidades, de o Governo integrar a perspetiva de género em todas as políticas, e de as empresas definirem métricas de diversidade e inclusão.