“Verifica-se que, em 2022, os médicos perderam 18% do seu poder de compra face a 2011. No caso dos enfermeiros, a quebra do poder de compra é de 3%”, adianta a análise dos investigadores Pedro Pita Barros e Eduardo Costa sobre os recursos humanos da saúde.

Este estudo faz parte da cátedra em Economia da Saúde, enquadrada na iniciativa para a Equidade Social, que resulta de uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a faculdade de ciências económicas, financeiras e de gestão da Universidade NOVA de Lisboa (Nova SBE).

O documento salienta que, ao contrário dos profissionais de saúde, os restantes trabalhadores nacionais viram o seu poder de compra subir 6% em média no mesmo período, apesar da quebra significativa em 2022, devido ao aumento súbito da inflação.

“A evolução negativa das remunerações dos profissionais de saúde no SNS contribui para a deterioração da atratividade do SNS”, alertam os investigadores, para quem o período de recuperação registado antes da pandemia “não foi suficiente para recuperar significativamente as dificuldades sentidas durante a crise financeira e para fazer face à dinâmica recente de preços”.

Além disso, nos últimos anos, os suplementos remuneratórios, como as horas extraordinárias, têm ganho peso na remuneração total dos profissionais do SNS, sendo utilizados para “atenuar as perdas de poder de compra associadas à lenta evolução da remuneração base”, sublinha o documento.

O relatório salienta ainda que o mercado de trabalho para profissionais de saúde, em particular para os médicos, é caracterizado por “algum nível de competição” entre os diferentes prestadores de cuidados de saúde.

“A possibilidade de trabalhar simultaneamente em mais do que um setor, aliada à elevada procura por profissionais de saúde, coloca uma pressão acrescida sobre o SNS”, alerta também o documento, ao salientar que o crescimento do setor privado ao longo das últimas décadas pode contribuir para uma maior competição por profissionais de saúde.

No caso dos médicos, registou-se em 2011 um ganho médio mensal (remuneração base mais suplementos) de 3.729 euros, valor que baixou 5% para 3.558 euros, uma redução ao longo do tempo que também pode ser explicada por diversos efeitos, como o elevado volume de aposentações de médicos com vencimentos mais elevados.

Já nos enfermeiros, entre 2011 e 2022, registou-se um aumento de 14% no ganho médio mensal, um crescimento “particularmente expressivo nos anos de 2018 e 2019, com taxas de crescimento de cerca de 6%”.

“Os aumentos do salário mínimo nacional têm sido largamente superiores aos aumentos salariais para profissionais de saúde no SNS, o que tem encurtado essa distância”, adianta o relatório.

Em 2011, o ganho médio dos médicos correspondia a 7,7 vezes o salário mínimo, mas em 2022 reduziu-se para 5,1, refere o documento.

No caso dos enfermeiros do SNS, o ganho médio em relação ao salário mínimo desceu de 3,2 em 2011 para 2,5 em 2022.

“Considerando a evolução prevista do salário mínimo nacional até 2026 – ano em que deverá chegar aos 900 euros - seria necessário um aumento das remunerações dos médicos e enfermeiros entre 2023 e 2026 de 82% e 63%, respetivamente, para recuperar o diferencial entre salários de profissionais de saúde e o salário mínimo registado em 2011”, exemplifica o estudo.

“A recuperação deste diferencial parece, por isso, inatingível”, reconhece o relatório de Pedro Pita Barros e Eduardo Costa.