Numa exposição enviada à Lusa, o grupo de médicos internos e especialistas de Ortopedia do Hospital de Santa Maria refere, entre outras queixas, o não cumprimento das recomendações do colégio da especialidade quanto ao número mínimo de elementos nas equipas de urgência, dizendo inclusive que há um dia sem qualquer elemento de urgência escalado.
Segundo explicam, na escala de urgência deste mês há “vários dias com apenas dois elementos escalados, dois dias com apenas um elemento escalado e inclusivamente um dia sem qualquer elemento de urgência”.
“No decorrer de 20 dos 31 dias do mês de março, não existirão condições para manter aberta uma urgência que serve de referência ao tratamento de politraumatizados adultos e pediátricos da área de Lisboa e Vale do Tejo”, acrescentam.
Contactado pela Lusa, o diretor clínico do hospital, Rui Tato Marinho, reconhece os constrangimentos, lembrando que a questão da Ortopedia está relacionada com as outras especialidades e “integra-se na reorganização de toda a urgência”, que considera “uma prioridade absoluta”.
“Uma das primeiras reuniões que tive quando assumi o cargo foi com os internos da especialidade, que me identificaram logo os problemas”, disse Tato Marinho, acrescentando que está a tentar resolver a questão.
Assume que o hospital precisa “de mais ortopedistas” e disse ter abertura da tutela para contratar, tendo já sido identificada uma especialista.
“Já identificámos uma especialista que quer vir, vamos tentar identificar mais. Estamos a trabalhar ativamente (…) para tentar captar mais gente, não só na Ortopedia, mas noutras especialidades, que nos ajudem a tratar estes doentes, muitos deles com idade avançada” e, por isso, com problemas mais complexos quando chegam ao hospital.
O especialista reconheceu ainda que o problema se agravou com o encerramento de diversos serviços de urgência de Ortopedia à volta do Santa Maria, aumentando a pressão neste hospital, que é “de fim de linha” e tem de dar resposta à população da sua área de influência e, ao mesmo tempo, “servir de reforço para outros hospitais”.
Na informação divulgada, os internos e especialistas de Ortopedia corroboram o facto de a situação ter piorado com o aumento da pressão provocada pelo encerramento sucessivo de urgências desta especialidade em vários hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo.
Apontam igualmente a necessidade de o Santa Maria responder, não só à sua população de influência, mas também a utentes de outras áreas de residência: “Este modelo acaba por corresponder, de certa forma, ao esquema das urgências metropolitanas, defendido pelo ministro da saúde, que apenas sobrecarrega quem trabalha nos hospitais centrais, sem qualquer apoio para os referidos profissionais de saúde”.
Sublinham ainda que já comunicaram à direção clínica o seu descontentamento e que as mesmas informações foram igualmente enviadas à Ordem dos Médicos e aos sindicatos.
Em resposta, Tato Marinho deu exemplos de algumas medidas que o hospital tem tomado, na tentativa de responder aos anseios dos seus profissionais de saúde: a contratação de técnicos superiores para fazer colheitas de sangue nas enfermarias – “um problema que se mantinha há 20 anos e que resolvemos num mês” – e a criação de uma equipa de gestão das 1.000 camas de internamento.
A ideia, explicou, é “mudar a filosofia” e internar o doente onde houver vaga, independentemente da especialidade.
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