O que sabem os portugueses sobre a fertilidade, como pode ser preservada, tratada ou diminuir os riscos de dificuldade em engravidar quando se quer ter filhos? Foi a resposta a estas questões que a Associação Portuguesa de Fertilidade (APFertilidade), a Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR) e a Merck procuraram saber através de um inquérito, realizado entre abril e maio deste ano, junto de 1.000 pessoas. A principal conclusão é que a maioria sabe o que é a infertilidade (96,9%), mas revela uma literacia em saúde reprodutiva longe de ser positiva.
Os resultados confirmam que há um desconhecimento quanto à idade fértil e a partir da qual começa a diminuir a capacidade reprodutora, qual a análise que pode ser realizada para conhecer a reserva ovárica das mulheres, quais as formas de prevenir a infertilidade ou o que é a doação de gâmetas.
"Considero este estudo da maior importância por várias razões. Os resultados mostram que o conhecimento da população portuguesa sobre os aspetos mais críticos relacionados com a infertilidade é ainda muito limitado. As consequências dessa falta de informação são óbvias: comportamentos menos adequados para a saúde reprodutiva, maior dificuldade em tratar a infertilidade, menor consciência da dificuldade por que passam os casais e as mulheres na sua caminhada para ter um filho", comenta o Professor Pedro Xavier, médico especialista em Ginecologia e Obstetrícia e presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução.
"Este tipo de estudo ajudará, com toda a certeza, a acordar essas consciências, podendo mesmo resultar em atitudes mais solidárias por parte da nossa população jovem para com os casais e mulheres, por exemplo, na doação de gâmetas. A SPMR felicita a Associação Portuguesa de Fertilidade por esta iniciativa, na linha daquilo que também nós temos tentado fazer, ou seja, dar visibilidade a um tema de grande importância para a sociedade portuguesa", acrescenta.
Portugueses pouco elucidados
Dos inquiridos, 52,3% garantiram saber com que idade se atinge o potencial máximo da fertilidade, sendo que destes, 27,2% indicaram os 20 anos como resposta correta, e 27,8% os 25 anos. Na realidade, é considerado que a mulher está na sua melhor fase fértil entre os 20 e os 25 anos. Quanto à idade a partir da qual a fertilidade começa a diminuir, 72,5% indicaram que sabiam a resposta, mas apenas 33,2% acertaram que seria aos 35 anos.
E o que pode causar infertilidade? De acordo com o estudo, 31,8% dos inquiridos não sabia responder, e dos 68,2% que apontaram vários fatores, a idade da mulher surgiu como a principal causa (33,4%), seguida dos hábitos tabágicos (30,1%) e da obstrução/bloqueio das trompas de Falópio (26,0%).
Uma outra questão colocada no inquérito pretendeu apurar se os portugueses já tinham questionado um profissional de saúde sobre o tema, ou se, por outro lado, tinham sido inquiridos em unidades de saúde sobre fertilidade ou formas de prevenção. As respostas são clarificadoras quanto ao desinteresse em procurar esclarecimento (48,7% dos inquiridos) ou não ter existido necessidade para tal (39,5%). Por sua vez, quando a curiosidade partiu dos profissionais de saúde, 34,4% indicaram que foram questionados por ginecologistas, 33,9% pelo médico de família e 22,4% por um médico de outra especialidade.
Na altura de colocar dúvidas, são as mulheres a tomar mais vezes a iniciativa (22,4%) do que os homens (11,3%), e as pessoas com as idades entre os 31 e os 44 anos (24,9%) tendem a ser as mais curiosas.
Em relação às formas de prevenir a fertilidade, 54,4% dizem desconhecer as que existem. Dos 45,6% que conhecem, a alimentação equilibrada (28,1%), a prática de exercício físico (24,2%) e o não fumar (24,1%) são as formas referidas de proteção para as mulheres, sendo a alimentação equilibrada (23,7%), não fumar (21,7%) e a prática de exercício físico (18,3%) as que mais se destacam como protetoras dos homens.
Falta de informação
Quanto à preservação da fertilidade, apenas 20,2% das mulheres e 26,1% dos homens não sabem em que consiste, e que é possível através do congelamento de óvulos ou espermatozoides. Existe ainda desconhecimento entre as mulheres quanto à forma de avaliar a sua reserva ovárica e poderem tomar medidas e procurar apoio, caso esta se revele baixa. De acordo com o estudo, 79,7% das inquiridas não sabe da possível realização do teste à hormona anti-mulleriana (AMH), enquanto 69,5% nunca pensou fazê-lo.
E se no momento de quererem ser pais, for necessário recorrer a tratamentos de fertilidade com ajuda de doação de óvulos e/ou espermatozoides? Mais de 48% das mulheres não sabe o que é a dádiva de gâmetas, sendo que nos homens essa percentagem ascende aos 56%.
Perante as conclusões do inquérito, que revelam um desconhecimento generalizado sobre a saúde reprodutiva, são os inquiridos a confirmar que já ouviram falar em infertilidade - 46,5% através da comunicação social; 42,5% por amigos/colegas e 40,9% em campanhas nos media -, mas que é importante ter acesso a mais informação para aumentar a sua literacia (82,8%), sendo as escolas (30,5%), os centros de saúde (30,5%) e o médico de família (30%), as principais fontes de informação.
Fica ainda a indicação quanto à pergunta principal quando se fala de infertilidade: ter filhos. Do total de inquiridos, 60,2% já eram pais e dos restantes, 37,4% indicaram que pretendem concretizar o seu projeto de parentalidade nos próximos 10 anos.
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