A maioria dos portadores de VIH/sida com emprego esconde a doença da entidade patronal, sobretudo por receio de discriminação e despedimento, segundo as conclusões de um estudo português que inquiriu mais de 1.600 infetados.

Apenas 15% dos doentes com VIH/sida que estão a trabalhar disseram ter revelado a doença, com as mulheres e as pessoas mais escolarizadas a serem os que menos expõem o diagnóstico em contexto profissional.

“O receio de discriminação e de despedimento estão na origem deste comportamento”, refere Isabel Dias, coordenadora da obra “Diagnóstico da Infeção VIH/sida: representações e efeitos nas condições laborais”.

O livro, que é lançado na quarta-feira, espelha os resultados do estudo que acompanhou 1.634 infetados em 14 hospitais públicos portugueses, de diferentes regiões.

“Um estudo inédito, uma vez que não havia trabalho de investigação no domínio do contexto e condições laborais”, diz à agência Lusa a investigadora do departamento de sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Para Isabel Dias, o medo de despedimento, que leva a esconder a doença, parece ser real: 22,7% dos inquiridos acabou por ser despedido ou despediu-se por pressão da entidade patronal. Para metade destes, isso aconteceu no final da primeira semana após a revelação do diagnóstico.

Aliás, a situação de desemprego afeta quase 27 por cento da amostra do estudo, notando-se que a infeção veio acentuar o acesso a um novo emprego e fez até 17% destes desempregados desistirem de procurar trabalho.

Há vários aspetos associados à doença que afastam alguns destes desempregos da busca por trabalho, como a necessidade de terem de faltar para consultas e tratamentos ou a possibilidade de exigência de um exame médico na admissão a novo emprego.

Nos casos em que a doença é divulgada no trabalho, isso ocorre geralmente porque os inquiridos confiam nos colegas e também por terem um sentido de responsabilidade face à segurança de terceiros, sobretudo em caso de eventuais acidentes de trabalho.

Segundo Isabel Dias, este estudo fez sobressair que o trabalho não perdeu importância para as pessoas infetadas.

Contudo mostra também que ter VIH/sida “não é apenas uma condição de saúde mas também uma condição social limitadora de oportunidades e processos”.

Ou seja, o nível de escolaridade e qualificação profissional, o género e o desemprego, associados à infeção, acentuam a vulnerabilidade social e afetam a forma como se vive a própria doença.

A coordenadora do estudo confessa que a equipa de investigação tinha a expectativa de que existisse uma cultura de maior inclusão socioprofissional do que aquele que verificou.

Apesar das dificuldades sentidas, a investigação mostra que a maioria (mais de 50%) dos inquiridos está no mercado de trabalho, a esmagadora maioria destes a trabalhar por conta de outrem.

É também uma maioria (66,9%) que aponta como necessário ajustar as condições de trabalho para as pessoas com VIH/sida.

Pedem maior segurança, trabalho menos exigente física e psicologicamente, redução dos horários e escusa de trabalho por turnos, mas não consideram haver profissões que sejam vedadas aos portadores desta infeção.

“Querem um ambiente de trabalho saudável, não discriminatório e ajustado às suas condições de saúde. Isto é uma ambição ou desejo de qualquer trabalhador com uma doença crónica”, considera Isabel Dias.

27 de novembro de 2012

@Lusa