
A hipótese da lista de espera para tratamento de doentes com cancro foi hoje admitida pelo diretor do serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que numa entrevista à rádio TSF diz que já na semana passada adiou tratamentos por falta de meios para responder à crescente procura.
Questionado pela Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, recorda que já tinha sido noticiada a existência de listas de espera para cirurgia nestes doentes, mas que se o mesmo acontecer aos tratamentos “pode fazer a diferença entre a cura e a curta sobrevivência”.
“O adiamento de tratamentos e o aumento das listas de espera de cirurgia [oncológica] pode fazer a diferença entre uma cura e uma sobrevivência pequena e com má qualidade de vida”, sublinha Vítor Veloso.
Crescente procura por causa da liberdade de escolha
O responsável frisa ainda que esta situação decorre da falta de alocação de meios para a crescente procura provocada pela possibilidade de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e diz que se os hospitais do interior tivessem meios os doentes não teriam de recorrer sempre aos grandes hospitais do litoral.
“Os hospitais do interior, que poderiam perfeitamente tratar [estes doentes], deviam ser devidamente apetrechados não só em recursos humanos, mas em material pesado. Isto desviaria os doentes de acorrerem aos hospitais mais especializados que tem tratamentos de ponta”, afirmou.
“O facto de o doente poder escolher o hospital é altamente vantajoso. O erro que se tem vindo a cometer (…) é a falta de alocação de meios. É que 80% de todos os serviços especializados de oncologia estão junto do litoral”, acrescentou.
Na entrevista à TSF, o diretor do serviço de Oncologia de Santa Maria diz também que tem aumentado a procura [deste serviço] por causa da regra que desde 2016 permite ao doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos.
“Estou quase a abrir [lista de espera] porque não tenho médicos para tantos doentes nem tenho espaço. (…) Começámos na semana passada, não conseguimos tratar os doentes que estavam previstos e tivemos que adiar [os tratamentos] uma semana”, afirmou Luís Costa.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro sublinhou igualmente a “incapacidade de o Ministério da Saúde libertar verbas” para contratar mais profissionais de saúde para acautelar todas as situações uma vez que “o Ministério das Finanças não desbloqueia essas verbas”.
O responsável disse ainda que a Liga está a fazer um levantamento da atual situação dos serviços de oncologia no país junto dos conselhos de administração dos hospitais e que mal sejam conhecidos estes dados tomará uma posição.
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