Segundo o estudo, a qualidade de sono “é determinante no desempenho dos atletas, mas não é fator tido em conta no planeamento e programação do treino”. O estudo a jovens nadadores em competição foi liderado pelo investigador Jorge Conde, que alerta para a necessidade de “criar espaço para o sono” na elaboração dos programas de treino.

“O treino intensivo cria um padrão adaptado, em que os atletas dormem mais e com maior eficiência, mas de forma mais superficial. Em comparação com sedentários na mesma faixa etária, o treino diminui o sono profundo, afetando a capacidade de recuperação dos atletas, incluindo a recuperação musculoesquelética”, revela a investigação.

No estudo foram avaliadas as alterações do padrão do sono em nadadores jovens, envolvidos num processo de treino e de competição regulares, e “as implicações na capacidade de rendimento que lhe poderão estar diretamente associadas”.

O padrão de sono foi analisado em diferentes fases do ciclo anual de treino, nomeadamente “padrão de repouso, um dos ciclos mais intensos da época, os momentos mais próximos possíveis antes e depois de uma competição importante”.

De acordo com Jorge Conde, “a avaliação do sono num momento de grande intensidade e volume de treino mostra que há diferenças no sono dos atletas: dormem menos, embora de forma mais eficiente”. “As latências são todas elas menores do que no início de época, parecendo que os atletas têm pressa em dormir”, acrescenta.

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Esta alteração “perdura no tempo, verificando-se os mesmos resultados após cinco semanas de paragem de treinos”, ficando demonstrado que, “mesmo na paragem entre épocas, essa adaptação não desaparece na totalidade”.

Jorge Conde considera que a qualidade do sono “pode não ser suficiente para os organismos recuperarem na totalidade, quer física, quer cognitivamente, do esforço acumulado ao longo de uma época”.

Nesse âmbito, alerta que deve ser aberta a discussão “sobre a necessidade de se ensaiarem outras estratégias horárias de treino e eventualmente outra distribuição de carga e intensidade”, podendo ser “necessário redistribuir as horas de treino e de sono”.

“Os resultados levam-nos a questionar se, do ponto de vista psicológico, o atleta chega às competições na sua melhor forma”, acrescenta.

O investigador entende que, apesar de se assumir que a qualidade de sono é determinante nos atletas, na maioria das vezes este é um assunto “visto como lateral e habitualmente não cuidado na elaboração dos programas de treino”.

Os resultados do estudo concluem que “o sono deve ser um período integrante do plano de treino, por forma a rentabilizar o tempo efetivo de treino”.

Jorge Conde reconhece que estas propostas “esbarram na ausência de condições especiais para que estes atletas possam cumprir a sua vida desportiva, sem esta ser condicionada pela vida escolar”.

No entanto, insiste na “necessidade de se criar mais espaço para o sono, que permitirá maiores e melhores recuperações, ajudando os atletas a obterem melhores estados físicos e psicológicos”.

Os resultados desta investigação estão incluídos na sua tese de doutoramento, apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, intitulada “Qualidade e perturbações do sono em jovens nadadores”, e estão agora publicados num livro que será lançado na terça-feira, na ESTeSC.