Em entrevista à agência Lusa, o médico António Marques falou dos “desafios/preocupações” relacionados com a organização do maior evento que vai decorrer no país, que decorrerá entre 01 e 06 de agosto e onde são esperados 1,5 milhões de pessoas.
O médico começou por apontar “o desafio da dimensão”, assinalando que é “o maior evento organizado em Portugal deste género”, seguindo-se “o desafio da dispersão geográfica”: “Não é um evento num sítio, numa hora, são muitos eventos em diversos sítios e em diversas horas”, o que “implica soluções muito específicas em sítios diferentes”.
Há também “o desafio da diversidade no sentido dos tipos de riscos e respostas” necessárias, porque, justificou, “se é verdade que muitos serão jovens saudáveis entre os 14 e os 30 anos, é verdade também que há subpopulações de jovens que têm doenças importantes e que vêm porque esperam também usufruir da experiência, mas têm problemas e também precisam de ser apoiados”.
Por outro lado, há peregrinos que vêm de todo mundo o mundo, falam várias línguas e podem ter dificuldade em comunicar e pedir ajuda, o que também é “um desafio acrescido”.
António Marques realçou também a importância de monitorizar e acompanhar o que se está a passar no terreno “no sentido de verificar se a solução está à altura das necessidades”.
Foi neste contexto que o Ministério da Saúde criou uma sala de gestão e monitorização no próprio Ministério, onde estão representantes das 17 entidades nacionais e regionais do ministério.
“Foi feito um forte investimento em termos de interoperabilidade entre sistemas de informação, de forma a que nesta sala de gestão e monitorização haja (…) quadros com dados integrados para se poder acompanhar em tempo real os acidentes das ambulâncias, os tempos de espera nas urgências, as vagas de cuidados intensivos na rede hospitalar, ou seja, uma série de parâmetros que ajudam a poder decidir em tempo real e em função de factos, não em função de opiniões”, sublinhou.
Uma das preocupações ao montar este plano foi como “podia ser útil” depois da JMJ e, disse, “claramente foi esta capacidade de planificar para situações de exceção, ter planos de contingência, que será muito útil para qualquer situação que possa acontecer no futuro” como um acidente de viação com múltiplas viaturas, um descarrilamento de um comboio, uma derrocada de um edifício ou uma inundação.
“O país fica mais seguro depois desta atualização de planos e treinos”, assegurou.
Por outro lado, a uniformização de critério e de políticas entre as entidades que tiveram de “jogar em equipa e uniformizar os seus procedimentos” e a interoperabilidade e a gestão da informação “também é fundamental” para no futuro se ter “a capacidade de tomar decisões em função de dados objetivos”.
António Marques espera também que Portugal marque “a diferença” no legado que pode deixar em termos de informação no contexto de saúde relacionada à JMJ, porque a existente “é parca”.
“Tentamos pensar como é que podemos deixar para o futuro um legado que demonstre que a experiência portuguesa teve uma atitude que marcou a diferença e foi exatamente nos sistemas de informação e na gestão da informação e na interoperabilidade informática”, entre os vários cuidados de saúde, que se encontrou essa distinção ao indexar-se os registos dos episódios de urgência à JMJ.
Com este avanço poderá quantificar-se objetivamente o esforço da saúde relativamente à jornada e isso, vincou, “é um legado que vamos deixar para o futuro e não recebemos do passado”.
Também chegaram à conclusão que muitos aspetos do passado “não eram replicáveis” a Portugal, que necessitava de criar uma solução adequada à sua realidade.
“Aquilo que foi implementado resulta de um esforço muito particular e nacional, sendo certo que, e digo isto com toda a tranquilidade, (…) quando outros tiverem no futuro organizar este tipo de eventos, vão olhar para o nosso esforço como sendo credível e um bom exemplo de como se organiza e como se faz”, salientou.
Depois de todo o esforço feito, António Marques disse que “há três palavras” que lhe surgem na cabeça: “Gratidão, tranquilidade e orgulho”.
“Gratidão porque há muita gente e muitos sítios que se empenharam fortemente”, tranquilidade porque estão convictos na robustez do dispositivo tão vasto e orgulhos porque, vincou, “o dispositivo não fica aquém daquilo que era expectável num país do primeiro mundo”.
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