Passaram 23 anos desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a família como alvo dos
cuidados de enfermagem no enquadramento internacional no Health21, enquanto quadro concetual para
as políticas de saúde para todos na Região Europeia da OMS. Considerou-se o Enfermeiro de Família como o profissional que dá um contributo fundamental no seio de uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde para o cumprimento das 21 metas para o século XXI estabelecidas, cujo “objetivo único” é alcançar o pleno potencial de saúde para todos integrados no seu da família.
Valorizando-se a família, como um todo e os seus membros individualmente, enquanto clientes dos
cuidados de saúde, facilmente se concluiu que são o pilar fundamental de qualquer sistema de saúde e os
atores principais na evolução do mesmo. Perante esta evidência, associada ao facto dos cuidados de saúde primários (CSP) constituírem-se como a base de acesso ao Serviço Nacional de Saúde, criou-se o
“enfermeiro de família (EF)”, reforçando a importância dos contributos da enfermagem para a promoção
da saúde e prevenção da doença e de complicações, baseando-se no conhecimento da pessoa no contexto da família e da comunidade.
Partindo do atrás descrito o enfermeiro de família surge como o profissional de enfermagem que, integrado na equipa de saúde familiar, assume a responsabilidade pela prestação de cuidados de enfermagem a famílias, em todas as fases da vida e em todos os contextos da comunidade. Presta, desta forma, cuidados nas diferentes fases do ciclo de vida da família ao nível da prevenção primária, secundária e terciária.
A importância do enfermeiro de família reside no facto de considerar a família como unidade de cuidados,
promover a capacitação da mesma, face às exigências e especificidades do seu desenvolvimento,
potencializando os seus recursos internos e externos e consequentemente transições familiares mais
salutares. Em termos práticos observa-se como crucial a intervenção do EF ao nível da capacitação do papel de prestador de cuidados no que à prestação de cuidados à pessoa em situação de dependência diz respeito, ao nível da capacitação do papel parental tendo em conta as diferentes fases de desenvolvimento da criança, entre outras intervenções que ajudam as famílias na sua reorganização e adaptação perante as diferentes etapas e transições.
Sendo um recurso de proximidade o EF surge para cada família como a referência e o suporte qualificado
para dar resposta às suas necessidades tendo em consideração os acontecimentos de vida normativos,
nascimento, filhos na escola, saída dos filhos de casa, estabelecimento de uma relação conjugal, gravidez, reforma e morte, e os acontecimentos acidentais cujo impacto é determinado por cada família, tendo em conta a sua estrutura, características e contexto, forças, recursos e fragilidades.
Assim sendo, nos Cuidados de Saúde Primários o seu Enfermeiro de Família é o enfermeiro da sua Equipa de Saúde Familiar (ESF), que presta cuidados de enfermagem a si e à sua família ao longo de toda a sua vida. Acompanha-o desde o planeamento da sua família, durante a gravidez, durante a infância dos seus filhos ou netos, quando os seus pais ou avós necessitam de cuidados de saúde no domicílio, por situação de maior fragilidade ou dependência, quando está doente, mesmo quando as doenças que o afetam são crónicas e até no processo de luto. São, assim, diversos os focos de atenção do seu EF, como por exemplo, na adaptação ao papel – conjugal, durante a gravidez, puerpério, parental e paternidade, papel de prestador de cuidados; nos processos familiares – processo de luto; na adesão ao regime terapêutico; na gravidez, no puerpério, durante a infancia, durante a adolescência, durante o envelhecimento, e na aceitação do estado de saúde, entre outros. Também é o seu Enfermeiro de Família que se encontra na melhor posição para o referenciar para outras áreas especializadas de enfermagem ou outros profissionais.
O seu Enfermeiro de Família mobiliza desta forma intervenções autónomas (que pode desempenhar sem
intervenção de outros profissionais), intervenções colaborativas (em que colabora com outros profissionais, mobilizando a sua autonomia para complementar, apoiar e potenciar a intervenção de outros profissionais, sendo por exemplo a referenciação para a Rede Nacional de Cuidados Continuados) e intervenções interdependentes (em que a sua intervenção depende de intervenções iniciadas por outros profissionais).
A legislação das Unidades de Saúde Familiar (USF) determina que os enfermeiros de família devem ser
especialistas em enfermagem na área da saúde familiar e esta exigência é determinada pela complexidade do campo de intervenção do EF. Nos tempos atuais, em que se antevê cada vez mais os cuidados às famílias no seu domicílio, é fundamental o investimento nos cuidados de saúde primários e consequentemente importar experiências e modelos assistenciais de outros países em que a prática da enfermagem especializada avançada na área da saúde familiar potencia efetivos ganhos em saude.
Em suma, o seu Enfermeiro de Família, garante-lhe respostas em saúde de proximidade, com centralidade
em si e na sua família, no seu percurso de saúde/doença ao longo de todo o seu ciclo de vida. Desempenha, um importante papel na organização e funcionamento dos Cuidados de Saúde Primários e
garante a qualidade da prestação dos cuidados de saúde e sua segurança. Estes são aspetos que tornam o seu Enfermeiro de Família incontornável e imprescindível, contribuindo, significativamente, para a
sustentabilidade do SNS e para os ganhos em saúde para si, para a sua família e para a sociedade em geral.
Já conhece o seu Enfermeiro de Família?
Este artigo tem mais de um ano
Ricardo Gomes – Vogal da direção da USF-AN e EF USF Gualtar; Rui Cardeira - Vogal da direção da USF-AN e EF USF Anta; Isabel Gonçalves - Vogal da direção da USF-AN e EF USF Conde Saúde
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