Em depoimentos à Lusa, a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e do King's College London, indicou que a aplicação, denominada "Perfis Regionais de Cuidados Paliativos", é um dos trabalhos iniciais do observatório "para perceber as necessidades locais e transmitir informações para esclarecer o público em geral, os profissionais de saúde e todas as audiências interessadas sobre esta área, com dados atuais e reais".

A aplicação explica o que são os cuidados paliativos, apresenta as principais causas e locais de morte em Portugal, estatísticas para que se possa compreender melhor as necessidades e assimetrias regionais e faz a geolocalização das equipas de cuidados paliativos existentes em cada região, por tipologia de cuidados (unidades de internamento, apoio intra-hospitalar e cuidados domiciliários).

Segundo a investigadora, os grandes "buracos" na prestação de cuidados encontram-se nas regiões do interior centro do país, não existindo, em algumas delas, "nenhuma resposta em termos de equipas especializadas nesta área e há uma ausência de oferta gritante sobretudo nos cuidados paliativos domiciliários", onde apenas nove em 30 regiões têm equipa especializada e dessas nove, quatro têm só uma equipa a servir a região toda.

"A maior parte das pessoas, se lhes for dada essa escolha, preferem morrer em casa, mas isso é condicionado pelo nível de suporte que recebem. Se puderem usufruir de cuidados paliativos domiciliários, as ‘chances’ de morrerem em casa duplicam", explica a investigadora, acrescentando que 62% da população morre nos centros hospitalares.

Para o desenvolvimento da aplicação foram analisados dados de mais de um milhão de pessoas, falecidas entre 2004 e 2013, provenientes do projeto DINAMO, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

As investigadoras utilizaram dados ao nível do perfil demográfico e a sua evolução ao longo dos dez anos, a idade ("que permitiu saber que Portugal é um país bastante envelhecido e as regiões onde esse envelhecimento é mais notório"), as principais causas de morte (doenças cardiovasculares, respiratórias e cancro) e o local de morte (hospital, domicílio e outros lugares).

Desenvolvida para o público em geral, uma das expectativas é que esta aplicação atinja um público vasto incluindo também os mais jovens, "que não se confrontam todos os dias com a necessidade de cuidados paliativos" mas que podem "durante a vida, debater-se com uma doença avançada e progressiva, direta ou indiretamente".

A aplicação, finalizada em janeiro e atualizada em fevereiro, vai sofrer uma atualização todos os anos, que vai ser apresentada regularmente ao público pelo OPCP.

O serviço, gratuito e interativo, foi desenvolvido pelo OPCP e o projeto para a sua conceção foi liderado por Bárbara Gomes com o apoio das investigadoras Maja de Brito (do ISPUP e do King's College London), Sandra Batista e Paula Sapeta (docentes do Instituto Politécnico de Castelo Branco), e da enfermeira Catarina Simões (Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz Póvoa e membro da direção da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos).

Esta aplicação encontra-se disponível através dos websites do OPCP e da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.