Qual a diferença entre intoxicação alimentar e toxinfecção alimentar?

As doenças de origem alimentar constituem um grupo de patologias que se definem como "qualquer entidade nosológica de natureza infecciosa ou tóxica que seja causada pelo consumo de alimentos ou água". Associam-se maioritariamente a um conjunto de sintomas gastrointestinais, como vómitos, diarreia, náuseas e dores abdominais que ocorrem quando as funções do aparelho gastrointestinal são perturbadas. Este grupo inclui as intoxicações alimentares, provocadas pela ingestão de alimentos onde existem toxinas, e as toxinfeções, que resultam da ingestão de um alimento contaminado com um microrganismo que é capaz de se multiplicar no tubo digestivo. Calcula-se que mais de 90% das intoxicações e toxinfeções estejam associadas a perigos biológicos (bactérias, vírus, parasitas, priões) e as restantes a perigos químicos (toxinas naturais, como aflatoxinas presentes no milho, poluentes industriais, metais pesados, entre outros).

Quais as causas de ambas?

Uma intoxicação alimentar é causada pela ingestão de alimentos contaminados por uma toxina, produzida por um microorganismo que está no alimento. Algumas das toxinas são destruídas pelo processamento mas outras continuam no alimento, mesmo quando o microorganismo é eliminado (exemplos: Staphylococcus aureusClostridium botulinum).

A toxinfecção  é um processo resultante da ingestão de alimentos contaminados com microorganismos vivos que, passada a barreira gástrica, chegam ao intestino delgado, onde se multiplicam e desenvolvem, originando o aparecimento dos sintomas (exemplos: Shigella spp., Clostridium perfringensEscherichia coli 0157:H7).

Qual delas é a mais grave?

Ambas podem ser graves, sendo a principal diferença o período de incubação, que é habitualmente muito mais reduzido nas intoxicações, uma vez que as toxinas, quando chegam ao aparelho gastrointestinal, iniciam a sua ação, não necessitando de tempo para se desenvolverem. A gravidade associa-se ao tipo de contaminação (microorganismo responsável), níveis de contaminação e características do hospedeiro - idosos, crianças e pessoas imunocomprometidas são mais suscetíveis a complicações moderadas a severas.

Maria Ana Sobral, médica especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Sintra, explica-nos as principais diferenças entre intoxicação alimentar e toxinfeção alimentar.
Maria Ana Sobral, médica especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Sintra

São ambas potencialmente fatais? Se sim, porquê?

As doenças alimentares provocadas pela ingestão de microorganismos vivos ou por toxinas são, na sua maioria, benignas e autolimitadas. No entanto, é necessário ter em conta a evolução dos sintomas e contexto epidemiológico - continuam a ser a principal causa de doença e morte nos países subdesenvolvidos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.

Quais os sintomas de cada uma?

Os sintomas são comuns a ambas formas da doença e os mais frequentes são vómitos, diarreia, náuseas, dores abdominais, febre, dores de cabeça, calafrios, dores musculares, fraqueza e desconforto geral.

O tratamento difere? Se sim, qual é geralmente?

O tratamento destas doenças é geralmente um tratamento dirigido aos diferentes sintomas, como, por exemplo, hidratação, antipiréticos, dieta adequada, entre outros. Em situações muito particulares, poderão ser recomendados antibióticos e medidas mais específicas que dependem sempre da gravidade das queixas e da possibilidade de identificação do agente responsável. No caso da existência de surtos, as medidas serão tomadas de acordo com os dados e orientações emitidos pelas autoridades de saúde.

A que sinais e sintomas devemos estar atentos em cada uma destas questões de saúde?

Os principais sintomas que devem motivar observação médica são: febre superior a 38,5ºC persistente, vómitos incoercíveis, sinais de desidratação (sonolência, confusão mental), presença de sangue nas fezes. A persistência de sintomas leves a moderados deve também motivar observação médica, se prolongados e/ou incapacitantes.

As explicações são de Maria Ana Sobral, médica especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Sintra.