À margem da sua intervenção no 7.º Encontro do Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Leiria, Diamantino Santos alertou para a falta de psicólogos no SNS, considerando que a sua existência em maior número contribuiria para uma poupança de milhões de euros.

"A população procura psicólogos, mas não encontra resposta, porque muito poucos estão a trabalhar no SNS. Há programas, como por exemplo, na diabetes, em que uma intervenção permitiria poupar 63 milhões de euros por ano. Imagine-se isso dedicado à saúde mental propriamente dita ou a certas patologias, como a obesidade ou as hipertensões", sublinhou o psicólogo.

Diamantino Santos explicou à Lusa que o valor referido tem por base vários estudos internacionais, que comparam grupos experimentais e grupos de controlos em determinada intervenção psicológica, tendo em conta o número de consultas, o valor de cada uma, a adesão à medicação, uma diminuição do uso de medicamentos, menos patologias associadas, entre outros fatores.

"Havendo uma diminuição, há uma poupança clara", sublinhou.

O psicólogo afirmou que não se trata de "propor um milagre" em que "o psicólogo resolve tudo". "Agora, integrado numa equipa multidisciplinar, é um coadjuvante para que todos estes processos possam decorrer, sobretudo com uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e com menor custos".

O psicólogo revelou ainda que Portugal está muito longe dos rácios recomendados. "Todas as regiões têm um rácio substancialmente inferior àquele que é a recomendação internacional, que é de um psicólogo para cinco mil pessoas".

Diamantino Santos exemplificou com a região de Lisboa, que "tem apenas 49% dos psicólogos que seriam necessários".

"Estamos a falar de uma região densamente povoada e os pedidos de consultas são inúmeros. Posso dizer que há pouco tempo num hospital central em Lisboa havia um psicólogo para 30 mil utentes", acrescentou, lamentando que o Governo se centre na "velha questão dos custos".

"O que se poupa é substancialmente muito maior do que os custos com os psicólogos. Não é uma despesa, é um investimento para o futuro, porque tem benefícios na qualidade de vida das pessoas", referiu ainda o vogal da Ordem dos Psicólogos.

A falta de especialistas impede um trabalho ao nível da prevenção, tendo impactos na saúde mental "mais à frente", com "custos superiores para o erário público", frisou.

"Devíamos ter psicólogos a trabalhar não só a nível preventivo - dos cuidados de saúde primários -, mas também ao nível dos cuidados de saúde secundários e até terciários, para permitir uma resposta adequada em termos de cuidados de saúde à população", considerou.

Diamantino Santos criticou ainda os responsáveis por alguns hospitais que sugerem a redução do tempo de consultas para dez ou 15 minutos. "Menos de 30 minutos não é uma consulta, é uma conversa".

Segundo dados apresentados pelo vogal da Ordem no encontro, existem 2.897 psicólogos na Região Centro, que cobre sete distritos: Castelo Branco (171), Coimbra (885), Guarda (170), Leiria (556), Portalegre (134), Santarém (450) e Viseu (531). Destes, 50% são psicólogos clínicos, 30% educacionais e os restantes ligados às diversas vertentes da psicologia.