Um grupo de investigadores criou um método capaz de identificar, com uma precisão de 95%, as assinaturas genéticas de um endométrio com bom e mau prognóstico antes de ser iniciado um tratamento reprodutivo. A nova técnica, que recorre à análise molecular em conjunto com algoritmos da inteligência artificial, foi apresentada no 39.º Congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, que terminou ontem na Dinamarca.
Uma das mais-valias do estudo – intitulado "A gene expression risk signature of endometrial failure for prognosis in In Vitro Fertilization (FIV) patients" – é o seu contributo para uma redução da perda de embriões, como sublinha Patricia Díaz-Gimeno, investigadora da Fundação IVI e coordenadora do estudo.
Além de identificar de forma pioneira esses dois tipos de perfis endometriais – bom e mau prognóstico –, esta investigação permite estabelecer uma diferença de risco relativo três vezes maior em mulheres com mau prognóstico de apresentar falência endometrial, seja falha de implantação, aborto bioquímico ou aborto clínico.
Até agora, as ferramentas que existiam para avaliar o endométrio baseavam-se na identificação do endométrio deslocado da janela de implantação sem ter demonstrado melhorias substanciais nas taxas de gravidez das mulheres.
"Embora novas linhas de estudo sejam necessárias para pacientes que apresentam endométrio com mau prognóstico, poder distingui-las preventivamente é o ponto de partida na investigação de novos procedimentos que melhorem seu diagnóstico e tratamento, evitando o sofrimento de mulheres e casais devido a uma possível perda de embriões. Estes resultados promissores são outro exemplo do nosso firme compromisso com a medicina personalizada ou de precisão", acrescenta a Patricia Díaz-Gimeno.
Nas últimas quatro décadas, tem sido aprofundado o estudo dos embriões, para selecionar os que apresentam melhor qualidade, para que as mulheres consigam engravidar na terceira tentativa, em 95% dos casos. Com este novo método, focado no fator endometrial, o objetivo é atingir a mesma taxa de sucesso, mas na primeira tentativa. Atualmente, sem controlo deste fator, a probabilidade de gravidez numa primeira tentativa é de cerca de 65% a 68%, no caso específico do IVI, revela a investigadora.
De acordo com Samuel Ribeiro, ginecologista e coordenador científico do IVI Lisboa, a origem das falhas reprodutivas pode estar no embrião, no endométrio ou mesmo na combinação de ambos. O médico explica que é preciso ter em conta a compatibilidade entre embrião e endométrio, e o diálogo que se estabelece entre ambos, essencial para o sucesso da implantação embrionária.
Sobre os benefícios desta descoberta para as mulheres e casais, considera que vem dar mais ânimo as todas as pessoas que lutam pelo sonho da maternidade. “O percurso dos tratamentos de infertilidade é, por vezes, longo e com percalços pelo caminho, nomeadamente com a transferência de embriões que acabam por não gerar gravidez. Ainda que muitas vezes saibamos que o sucesso destes tratamentos vai aumentando cumulativamente à medida em que fazemos mais tentativas, ter um teste preciso que nos ajude a perceber quais são os pacientes sem problemas endometriais poderá contribuir para a resiliência dos pacientes, para persistirem nos tratamentos que poderão ajudá-los a cumprirem os seus sonhos”, remata o Samuel Ribeiro.
Comentários