Healthnews (HN)- “Unir a ciência, tecnologia e talento para, juntos, vencer as doenças” é o propósito que guia a GSK, que o coloca em prática tendo em conta os impactos sociais, ambientais e de gestão. É com esta estratégia que pretendem impactar positivamente a saúde de 2.5 mil milhões de pessoas até 2030?
Guilherme Monteiro Ferreira (GMF)- A GSK é uma biofarmacêutica de inovação, que une a ciência, a tecnologia e o talento para, juntos, vencer as doenças e, dessa forma, impactar positivamente a vida de mais de 2,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo até 2030.
Acreditamos que para alcançar esse objetivo precisamos de responder às principais ameaças globais à saúde pública, uma vez que o clima, a natureza e a saúde estão intimamente relacionados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) equipara o problema da poluição atmosférica a outros riscos para a saúde global, como uma dieta pouco saudável e o tabagismo. Estudos recentes apontam que a exposição à poluição ambiental esteja a causar sete milhões de mortes prematuras por ano e a resultar na perda de muitos mais milhões de anos de vida.
Por outro lado, a Agência Europeia do Meio Ambiente estima que a poluição esteja associada a mais de 10% dos casos de cancro na Europa. Por seu lado, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Climate Change, os riscos associados às alterações climáticas agravaram as doenças infeciosas nas pessoas: inundações, ondas de calor e seca intensificaram mais de metade das doenças infeciosas conhecidas nos humanos, incluindo a malária e a cólera. Os investigadores analisaram a literatura médica de casos estabelecidos de doenças e descobriram que 218 das 375 doenças infeciosas humanas conhecidas, ou seja, 58%, pioraram devido a um dos dez tipos de clima extremo ligados às alterações climáticas. Efetivamente, há muito que a comunidade científica associa a doença ao clima, mas este estudo mostra o quão generalizada é a sua influência na saúde humana. “Se o clima está a mudar, o risco destas doenças está a mudar”, disse o coautor do estudo, Jonathan Patz, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Wisconsin-Madison.
Assim, a GSK sente que é sua missão responder ao desafio global das alterações climáticas e da destruição da natureza. Para nós, é fundamental ajudar a proteger e restaurar a saúde do planeta, para cuidar e melhorar a saúde das pessoas.
Para isso, identificámos seis eixos de ação, em que consideramos poder ter um impacto muito significativo: poluição atmosférica; gestão racional da água; proteção florestal; resiliência dos sistemas de saúde; impacto da doença; saúde e bem-estar global. Em cada uma destas áreas trabalhamos com diferentes parceiros para maximizar o impacto que podemos ter.
Temos alcançado um progresso assinalável e, desde 2010, conseguimos reduzir as nossas emissões de carbono em 34%, cortar em 78% o desperdício enviado para aterros sanitários e diminuir 31% a utilização de água nas nossas instalações. Até 2030, pretendemos ter um impacto nulo no ambiente, limitando as emissões de gases de efeito de estufa e tendo um impacto positivo na natureza, através de uma melhor gestão do uso e da qualidade da água, do desperdício de materiais e do efeito nos ecossistemas.
Com este ambicioso plano, ancorado em medidas concretas e 100% mensuráveis, acreditamos que iremos conseguir ter este resultado positivo na vida de 2,5 mil milhões de pessoas, nos próximos sete anos.
HN- O relatório da ONU “Bracing for Superbugs: strengthening environmental action in the One Health response to antimicrobial resistance” alerta para a situação alarmante da resistência antimicrobiana, que poderá matar mais 10 milhões de pessoas por ano até 2050, sendo a poluição farmacêutica uma das causas. Como é que a GSK combate esta ameaça global?
GMF- A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a Resistência Antimicrobiana (AMR) como uma das dez principais ameaças à saúde pública global e, efetivamente, os danos contínuos inflingidos pelo Homem ao ecossistema estão a contribuir para a intensificação da emergência da AMR.
Assim, essa é uma matéria que nos preocupa sobremaneira e relativamente à qual estamos altamente empenhados em ser parte da solução. Reflexo disso é o facto de liderarmos o ranking AMR da Access to Medicines Foundation.
O nosso foco é investigar e disponibilizar novos antibióticos que tratem infeções graves e resistentes aos antibióticos atuais, desenvolver vacinas que impeçam a ocorrência de infeções e ajudar a garantir o uso adequado de produtos antibióticos atuais e futuros.
Temos várias colaborações e parcerias em curso, no contexto das quais partilhamos o nosso conhecimento e a nossa experiência nesta matéria, como o AMR Accelerator, da Innovative Medicines Initiative, que visa acelerar a descoberta e o desenvolvimento de novos medicamentos para tratar ou prevenir infeções bacterianas resistentes.
Estamos igualmente comprometidos em reduzir o impacto ambiental do fabrico dos nossos antibióticos, garantindo níveis de descarga seguros, mas queremos também envolver os nossos fornecedores e parceiros neste esforço. Assim, estamos a trabalhar para ter níveis de “Active Pharmaceutical Ingredient” (API) de impacto zero em todas as nossas fábricas e nos principais fornecedores até 2030, o que significa estar abaixo dos níveis considerados negativos para a saúde humana e do meio ambiente.
HN- A GSK ambiciona atingir um impacto climático neutro até 2030. Como é que se movem nos seguintes campos: clima, água, materiais e desperdício, e biodiversidade?
GMF- No que diz respeito ao clima, definimos um caminho claro para alcançar o objetivo de atingir um impacto climático neutro nos próximos sete anos. Assim, até 2030, vamos reduzir as nossas emissões de carbono em 80%, com as restantes emissões a serem compensadas através do investimento em soluções naturais de alta qualidade, e, até 2045, queremos estar no “Science Based Target Initiative Net Zero Standard”, com emissões de carbono reduzidas em, pelo menos, 90%. Para isso, iremos ter 100% de eletricidade renovável até 2025 e zero emissões em toda a cadeia de valor até 2045.
Relativamente à água, os desafios são muito mais locais e temos objetivos bastante personalizados: 100% das nossas instalações têm de alcançar uma gestão racional da água até 2025 e reduzir o uso geral desta em 20% até 2030. Paralelamente, estamos a trabalhar para ser neutros no consumo de água nas nossas operações e dos nossos parceiros-chave que atuam nas regiões mais vulneráveis, bem como ter impacto nulo de API em todas as nossas instalações e nos principais fornecedores, até 2030.
Por outro lado, no que diz respeito à gestão de resíduos e materiais, as nossas metas são: ter desperdício operacional nulo, incluindo a eliminação de plásticos descartáveis, até 2030; reduzir 25% o impacto ambiental dos nossos produtos e das nossas embalagens; diminuir 10% o desperdício gerado pela nossa cadeia de distribuição, nos próximos sete anos.
Por fim, relativamente à biodiversidade, estamos a trabalhar para termos um impacto positivo em todas as nossas operações até 2030 e para que 100% dos materiais agrícolas, florestais e do mar sejam de origem sustentável e não tenham impacto nas florestas.
HN- Nos últimos anos, os problemas ambientais fizeram-vos repensar o desenvolvimento de fármacos? Nesta área, que estratégias é possível adotar para reduzir a pegada carbónica?
GMF- As preocupações com o ambiente e a natureza estão presentes em toda a nossa atividade, não apenas na parte clínica, fazendo parte do nosso ADN. Sabemos que a saúde das pessoas depende da saúde do planeta e, por isso, se queremos ajudar as pessoas a viver mais e melhor, temos de continuar a desenvolver medicamentos e vacinas e, simultaneamente, fazê-lo de uma forma sustentável do ponto de vista ecológico.
Mas não o podemos fazer sozinhos e queremos envolver toda a comunidade, começando pelos nossos parceiros, para que percorram este caminho connosco. Efetivamente, cerca de 29% da nossa pegada de carbono advém dos nossos fornecedores. Assim, para minimizar esse impacto, em setembro de 2022 lançámos um “Programa de Compras Sustentáveis”, para que os nossos fornecedores tomem medidas relativamente à sua pegada de carbono, ao consumo energético, aos transportes, à gestão da água e resíduos e à aquisição de materiais. A partir deste ano, entre outras obrigações, é vinculativo que divulguem as suas emissões de gases de efeito de estufa, definam metas para redução da pegada carbónica e implementem medidas de transição para energias renováveis. No âmbito deste novo programa, estamos a apoiar ativamente os nossos fornecedores e parceiros com programas de formação e educação de boas práticas ambientais.
Por outro lado, a utilização dos nossos produtos (medicamentos e vacinas) representa mais de 50% do nosso impacto no clima, maioritariamente devido aos gases propelentes utilizados nos inaladores para o tratamento das doenças respiratórias mais comuns, como a Asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). Para minimizar esse impacto, iniciámos um programa clínico para desenvolver e redesenhar os nossos inaladores, com base em opções existentes de baixo carbono. Um novo gás propelente de menor efeito estufa, com potencial para reduzir em 90% as emissões de gases de efeito dos estufa dos inaladores, já está em avaliação clínica.
Ainda no que diz respeito à área respiratória, os nossos inaladores de pó seco não têm qualquer gás, portanto, têm uma pegada de carbono 25 vezes menor do que os inaladores pressurizados, constituindo assim uma opção muito mais ecológica e que deve ser tida em conta no momento da prescrição, caso não exista impedimento clínico. Para as pessoas terem noção do impacto destes dispositivos na pegada de carbono, um inalador pressurizado tem uma pegada de carbono equivalente a 196 kms percorridos de automóvel, enquanto a pegada de um inalador de pó seco equivale a apenas 8 kms.
HN- Defendem que promover a saúde respiratória do planeta é promover a saúde respiratória das pessoas. Concretamente, quais são as prioridades da GSK e os maiores desafios?
GMF- Há mais de 50 anos que a GSK lidera a inovação na área respiratória, com o desenvolvimento de medicamentos inovadores e modernos que estimulem o progresso na gestão da Asma Moderada, Asma Grave e DPOC.
Desde 2012, lançámos seis novos medicamentos respiratórios a nível global, o que nos permite dispor do mais amplo portfólio de medicamentos inalados de toma única diária e, ainda, o primeiro biológico da classe anti-IL-5 na Asma Grave. Continuamos a inovar em medicamentos biológicos para a área respiratória, com programas de investigação para polipose nasal, tosse crónica, DPOC, síndrome hipereosinofílico e granulomatose eosinofílica com poliangeíte.
A nossa ambição na área respiratória concentra-se em encontrar novos medicamentos e tecnologias que venham a permitir ultrapassar e prevenir doenças pulmonares e, também, melhorar a saúde respiratória. Esta ambição foca-se em cinco eixos: alcançar na íntegra o potencial dos nossos atuais medicamentos; progredir no tratamento e gestão da DPOC e Asma; alcançar a remissão da doença (Asma) e atenuar a progressão (DPOC); ir além da Asma e DPOC na nossa abordagem às doenças respiratórias; prevenir doenças respiratórias através da vacinação.
A nossa abordagem à investigação vai permitir-nos dar passos transformacionais, não apenas incrementais, nos tratamentos que desenvolvemos, uma vez que concentramos os nossos esforços em identificar medicamentos que possam tratar doentes para quem o simples ato de respirar seja um constrangimento diário. É para isso que aqui estamos e é por isso que continuaremos a nossa busca incessante por soluções inovadoras, a fim de contribuir para uma realidade em que todos respiram melhor.
HN/RA
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