“Tenho muita dificuldade em perceber que se faça greve a cirurgias oncológicas, porque se a quimioterapia faz parte dos serviços mínimos e não se atrasam a quimioterapia e a radioterapia, acho que a cirurgia, até pela importância que tem na oncologia como primeira arma e arma mais eficaz na maioria dos casos, devia ser abrangida também pelos serviços mínimos”, disse Nuno Miranda em entrevista à agência Lusa.

O médico oncologista sublinhou que é preciso pensar quais são as “maneiras mais adequadas” e “sem comprometer o direito dos trabalhadores” para minimizar o impacto da greve dos enfermeiros às cirurgias programadas, cujos serviço mínimos apenas abrangem as operações oncológicas mais prioritárias.

“Independentemente da muita razão que assiste aos enfermeiros nas suas reivindicações, não estou minimamente a pôr isso em causa, a cirurgia oncológica tem que ser repensada porque senão podemos estar a comprometer o tratamento logo desde o início porque vai atrasar tratamentos que podiam ser mais eficazes”, defendeu Nuno Miranda.

Por isso, sustentou, é preciso pensar-se “quais são as maneiras mais adequadas, e sem comprometer os direitos dos trabalhadores, que têm de ser respeitados”, para que a greve tenha “um menor impacto em situações de crise como são as de doença oncológica”.

Uma fonte do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) explicou à Lusa que estão abrangidos pelos serviços mínimos as cirurgias oncológicas com prioridade três e quatro.

Em relação à primeira greve cirúrgica, que durou mais de um mês, Nuno Miranda disse que houve cirurgias oncológicas adiadas, sublinhando que atualmente está em curso “um programa para recuperação dos atrasos sem compromisso das cirurgias já agendadas”.

“Não é apenas empurrar tudo para a frente para encaixar esses doentes, é um programa verdadeiramente de recuperação e que neste momento está a ter sucesso e se espera ultrapassar o aumento de necessidades”, sublinhou.

Segundo dados avançados pela ministra da Saúde, Marta Temido, a greve levou ao adiamento de mais de 7.500 operações, das quais 45% já foram, entretanto, realizadas.

Em declarações anteriores à agência Lusa relativamente ao primeiro período de greve, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, afirmou que os profissionais cumprem escrupulosamente os serviços mínimos decretados.

“Espero que não venham acusar os enfermeiros de estarem a ser eticamente incorretos relativamente ao cumprimento dos mínimos. Os enfermeiros estão a cumprir tudo o que é exigido em termos de serviços mínimos e até além disso”, comentou Lusa a representante dos enfermeiros, indicando que houve até cirurgias oncológicas com menos tempo de espera.

A greve dos enfermeiros em blocos operatórios de sete hospitais públicos arrancou hoje, estendendo-se até ao final de fevereiro, tendo sido convocada pela Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor).

A greve prevê abranger sete centros hospitalares: São João e Centro Hospitalar do Porto, Centro de Entre Douro e Vouga, Gaia/Espinho, Tondela/Viseu, Braga e Garcia de Orta.

No final da semana passada o Sindepor lançou um novo pré-aviso para alargar a greve a mais três centros hospitalares entre 08 e 28 de fevereiro: Centro Hospitalar de Coimbra, Centro Hospitalar Lisboa Norte e Centro Hospitalar de Setúbal.

Segundo os presidentes da ASPE e do Sindepor, os principais pontos que separam Governo e sindicatos são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros.