“É um grande transtorno. Os médicos deviam ter mais respeito pelas pessoas, porque vou ter de fazer 60 quilómetros para ir e vir de Santo Tirso para uma consulta marcada há um ano”, desabafou à Lusa Margarida Ribeiro, na sala de espera das consultas de Cardiologia do Santo António, ao lado do filho, igualmente indignado pela “falta de respeito dos médicos”.

A consulta de Margarida Ribeiro estava marcada há um ano: “Tenho de ser seguida”, afirma a doente com problemas cardiológicos.

Blocos operatórios dos principais hospitais do país encerrados e consultas externas canceladas é o primeiro balanço feito pelos sindicatos médicos à greve de três dias que arrancou hoje.

A adesão à paralisação também se fazia sentir nas consultas de Otorrino do Santo António.

Estes 15 alimentos parecem saudáveis mas não são
Estes 15 alimentos parecem saudáveis mas não são
Ver artigo

Bárbara Mendes, 34 anos, tinha consulta às 08:15 e às 09:00 ainda aguardava para saber se ia ter consulta, porque o médico ainda não tinha comparecido.

“Tenho a consulta marcada há um ano e causa sempre transtorno, porque perco tempo e não sei se posso continuar com a medicação”, reage Bárbara Mendes.

Outros casos com final feliz

Entre o desânimo e desespero com consultas adiadas, esperas a bater uma hora, na expectativa de ter consulta como sucedia a Maria Teresa Gonçalves, 78 anos, que aguardava saber se ia ser atendida em cirurgia vascular, havia, no entanto, alguns casos com final feliz, em que os pacientes foram informados nas receções das várias especialidades da consulta externa que um determinado médico estava a trabalhar.

Maria Emília Silva, 69 anos, tinha consulta de Oncologia marcada para hoje às 09:00 e estava satisfeita por a sua médica oncologista não ter "furado a greve". “Já me avisaram que a médico veio”, declarou Maria Emília. A frase é repetida também pela paciente Júlia Teixeira, 45 anos, doente oncológica, que afirma que também vai ter hoje a consulta que foi marcada há oito dias.

A greve dos médicos decorre entre esta terça-feira e a próxima quinta-feira e foi convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Segundo o SIM avançou à Lusa, no Centro Hospitalar do Porto – Santo António – havia pelas 10:00 de hoje 19 salas paradas das 25 não dedicadas ao serviço de urgência.

Na Unidade de Saúde Familiar do Covelo (Porto), estava “um médico a trabalhar” e estavam sete médicos em greve”.

No hospital de São João havia “apenas uma sala das 11 do bloco operatório central a funcionar” e no Hospital Pedro Hispano “só funcionavam duas salas de nove no bloco operatório central e uma sala de urgência.

As frases mais ridículas ouvidas pelos médicos
As frases mais ridículas ouvidas pelos médicos
Ver artigo

No Hospital de Santa Luzia em Viana do Castelo, segundo o SIM, aquela unidade hospitalar estava “totalmente parada”.

As reivindicações

Os médicos iniciaram hoje às 00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela “defesa do Serviço Nacional de Saúde”.

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é “a defesa do SNS” e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação – o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma. Para hoje à tarde, a FNAM agendou uma concentração em frente do Ministério da Saúde, em Lisboa.

A paralisação nacional de três dias, que termina às 24:00 de quinta-feira, deve afetar sobretudo consultas e cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise, imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento.