
Enquanto sociedade, temos de começar a olhar para a gravidez de uma forma mais preventiva e menos reativa. É por isso que considero fundamental reconhecer o trabalho que instituições académicas e de investigação estão a fazer. Afinal, o seu compromisso com a promoção de novas abordagens no acompanhamento da gravidez não é apenas louvável, é absolutamente necessário.
A verdade é que, embora os métodos tradicionais, como as ecografias e os exames de rotina de análise ao sangue, tenham sido úteis ao longo dos anos, muitas vezes revelam-se tardios, ao detetar os problemas quando já pouco há a fazer a não ser reagir. Felizmente, a ciência está a oferecer-nos alternativas e não aproveitar estas inovações seria, a meu ver, um retrocesso.
Com os avanços mais recentes, como as análises de sangue que medem “biomarcadores”, torna-se possível identificar sinais de alerta de forma precoce. Não estamos a falar de futurismo: isto já está a acontecer. E quando, por exemplo, um simples rácio, como o sFlt-1/PlGF, consegue prever a pré-eclâmpsia - uma complicação gravíssima - e os médicos podem agir preventivamente, não se trata apenas de tecnologia; trata-se de salvar vidas.
O mesmo se aplica à deteção precoce do risco de diabetes gestacional ou do parto prematuro. Ferramentas como estas são verdadeiros marcos na medicina materno-fetal e não podemos ignorar os números: projetos-piloto em hospitais portugueses apontam para reduções impressionantes em admissões por pré-eclâmpsia e partos prematuros. Menos dias de hospitalização, menos sofrimento, menos custos para o sistema nacional de saúde.
É por isso que acredito que iniciativas como o Projeto PREMATUROS em Guimarães ou o Programa CRESCE no Porto não devem ser vistos como exceções, mas como o novo padrão. Estamos a falar de potenciais poupanças anuais de milhões de euros e, mais importante ainda, de melhorias reais na saúde das mães e dos bebés.
A integração de tecnologias como a análise do cfDNA ou dos exossomas placentários, que funcionam como uma “biópsia líquida”, vem reforçar esta revolução silenciosa. Diagnósticos mais seguros, menos invasivos, mais precoces. Isto é o que a medicina moderna nos permite se estivermos dispostos a ouvi-la.
No fundo, o que está em causa é a nossa escolha coletiva: queremos continuar a agir apenas quando o problema já está instalado? Ou queremos ser uma sociedade que cuida desde o início? A segunda via é sem dúvida sinónimo de proteger as mães e os bebés não é apenas um dever médico. É um dever de todos nós.
Maria João Hilário
Professora na Egas Moniz School of Health & Science
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
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