O Governo defendeu na quarta-feira, no parlamento, a necessidade de mudar o paradigma das políticas de saúde direcionadas para o combate da epidemia do VIH/Sida, destacando o papel dos municípios devido à proximidade com os cidadãos.

“Se queremos ter melhores resultados na área do VIH, temos de pensar de forma diferente. Temos de mudar o paradigma das políticas de saúde direcionadas para o combate da epidemia do VIH. Temos de sair dos muros dos hospitais e das paredes dos centros de saúde. Temos de unir a sociedade neste objetivo”, afirmou o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, no âmbito da conferência "Cidades na via rápida para eliminar o VIH", na Assembleia da República, em Lisboa.

Os 16 sintomas mais comuns do VIH/Sida
Os 16 sintomas mais comuns do VIH/Sida
Ver artigo

Assim, o governante considerou que “é tempo de ouvir os que estão mais próximos, aqueles que conhecem as comunidades locais e onde o SNS [Serviço Nacional de Saúde] não consegue chegar”, referindo-se às autarquias e as organizações não-governamentais.

No projeto internacional "Cidades na via rápida para eliminar o VIH", que conta já com a adesão de dez municípios portugueses, o Governo empenhou esforços para uma implementação mais fácil das estratégias locais, melhorando quatro áreas relacionadas com esta doença, designadamente “na qualidade dos dados, na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento”, avançou Fernando Araújo.

Doenças diagnosticadas tardiamente

“Continuamos em Portugal a diagnosticar os doentes muito tardiamente”, apontou o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, defendendo ser necessário “transformar o teste do VIH em algo fácil e acessível para qualquer pessoa, em qualquer lugar e a qualquer hora”.

Neste sentido, os primeiros testes rápidos de rastreio do VIH/Sida e dos vírus da hepatite em farmácias estão, desde quarta-feira, disponíveis em Cascais, distrito de Lisboa, e serão alargados, progressivamente, a outras zonas do país, referiu o titular da pasta da Saúde, lembrando que, até ao final do ano, vai ser possível comprar estes testes nas farmácias e realizá-los em casa, o que representa “um marco histórico no combate a esta epidemia”.

De acordo com o governante, a nível da Europa, Portugal é um “exemplo notável” na redução de incidência de VIH, indicando que houve “uma redução de cerca de 54% do número de novos infetados entre 2008 e 2016”.

“No entanto, apesar deste percurso consistente e muito positivo, Portugal continua a apresentar uma das mais elevadas taxas de incidência na infeção por VIH na União Europeia”, sublinhou Fernando Araújo.

Na intervenção na conferência, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde aproveitou, ainda, para prestar homenagem à professora Odette Ferreira “pelo enorme legado que deixou enquanto pioneira na investigação e pelo inestimável papel que desempenhou na luta contra a Sida, sempre à frente do seu tempo”.

Intervindo na abertura da sessão, o ministro da Saúde disse que Portugal “tem sido capaz de compreender o fenómeno das doenças transmissíveis como um fenómeno global, que carece de uma abordagem integrada, não apenas dos serviços de saúde, mas sobretudo da comunidade”.

Dirigindo-se aos autarcas, Adalberto Fernandes desejou “uma vontade forte” no trabalho de combate ao VIH/Sida, pois tal “resultará num benefício para o conjunto dos cidadãos e, sobretudo, para os indicares de saúde em Portugal que, felizmente, também não param de melhorar”.

Para a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a concentração das infeções por VIH em zonas urbanas e periurbanas justifica a “forte aposta” neste projeto internacional, através da corresponsabilidade dos municípios em disponibilizar o acesso continuado ao rastreio e ao diagnóstico precoce, a serviços de prevenção e de tratamento de qualidade, e no combate do estigma e da discriminação das pessoas infetadas.

Lançado em Paris em 2014, o projeto "Cidades na via rápida para eliminar o VIH/Sida” [Fast Track Cities] visa acelerar a resposta a esta doença e atingir, até 2020, as metas “90-90-90”, que correspondem a “90% das pessoas que vivem com VIH, a saber que têm o vírus; 90% das pessoas diagnosticadas com VIH a receber tratamento; e 90% das pessoas em tratamento com carga viral indetetável”.