O presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) acusa o Ministério da Saúde de aplicar uma “overdose” ao setor do medicamento, ilustrando-a com a existência de 700 farmácias com fornecimentos cortados por, pelo menos, um grossista.
Em entrevista à Agência Lusa, João Cordeiro traçou um quadro negro do setor do medicamento e atribuiu responsabilidades ao ministério de Ana Jorge, nomeadamente às medidas anunciadas no ano passado.
“O Ministério da Saúde aplicou uma ‘overdose’ ao setor do medicamento e fez mal as contas”, afirmou.
Para João Cordeiro, são “devastadoras” as consequências de medidas como a redução em algumas comparticipações.
A este propósito, lembrou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) representa 80 por cento do negócio das farmácias e que as comparticipações baixaram 20 por cento nos últimos tempos.
O presidente da ANF revela ainda que são cada vez mais as farmácias com dificuldades em assumir os seus compromissos e que as consequências já se notam.
“Cerca de 700 farmácias têm os fornecimentos cortados pelo menos por um grossista e mais de 200 têm processos em tribunal”, disse.
O número de farmácias com dificuldades aumentou substancialmente desde que, em setembro do ano passado, João Cordeiro anunciou que existiam 375 farmácias com os fornecimentos suspensos pelos grossistas e 168 a enfrentar processos judiciais por dívidas.
João Cordeiro disse ainda que, pelo menos, 900 farmácias estão a pagar aos fornecedores a mais de 90 dias.
“O setor corre o risco de entrar em rutura”, afirmou, lembrando que por causa da crise económica que estes estabelecimentos atravessam, a ANF está a adiantar o pagamento do SNS a oito dias, em vez dos 55 dias habituais.
“Estamos a antecipar o pagamento para ajudar as farmácias a ultrapassar as suas dificuldades, mas não sabemos por quanto tempo mais a ANF conseguirá fazê-lo, tendo em conta a subida dos juros e o aumento dos ‘spread’”, disse.
No meio deste cenário “devastador”, João Cordeiro comentou a notícia hoje avançada pelo Jornal de Notícias do recuo do governo que “já não baixa o preço dos medicamentos”.
“Este acordo [com a indústria farmacêutica] é uma forma de adiar uma medida e assim tentar perceber como reage o mercado”, disse, escusando-se a mais comentários, por ainda não conhecer o teor do acordo que será hoje firmado entre o Ministério da Saúde e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma).
16 de março de 2011
Fonte: LUSA/SAPO
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