
“As estruturas existem, mas não são suficientemente preenchidas por pessoas, isto é, por técnicos especializados. A saúde mental não vive de grandes aparelhos e soluções tecnológicas, vive, sobretudo, de uma grande capacidade de interação entre as pessoas. E, se não temos pessoas suficientes, a resposta também não é suficiente”, salientou Henrique Barros à margem da conferência “Crescer + saudável, feliz e resiliente”, promovida pelo ISPUP, que decorre hoje na reitoria da Universidade do Porto.
Para o professor catedrático, apesar da área da saúde mental ter vindo a assumir “uma grande importância” e ser, atualmente, considerada “uma das áreas prioritárias de intervenção” no sistema de cuidados saúde público, continua a existir “um défice de resposta por parte das estruturas” relativamente ao tratamento dos doentes.
“Foram contratados psicólogos para darem apoio nos centros de saúde. Isso significa o reconhecimento da importância de uma resposta profissional, assim como a importância dessa resposta junto da comunidade, mas o número não é suficiente”, explicou.
O Programa Nacional para a Saúde Mental, realizado em 2017, revela que o número de utentes com perturbações depressivas, demência e perturbações de ansiedade aumentou entre 2011 e 2016. Na região Norte do país, o número de depressões aumentou de 5,42% para 9,83%, o número de casos de demência aumentou de 0,44% para 0,79% e o número de casos de ansiedade aumentou de 3,34% para 6,46%.
Henrique Barros alertou, também, para a “tendência” de utilização de fármacos e medicalização para o tratamento de doenças mentais como a ansiedade e depressão.
“Na realidade, este é um problema muito relevante, que por um lado está a aumentar a sua visibilidade na comunidade, mas que, ao mesmo tempo, está a ser resolvido com recurso a fármacos e medicalização. Estes problemas, muitas das vezes resolviam-se de outra maneira, porque mais do que doenças, são sintomas de disfunção”, frisou.
Segundo o Programa Nacional para a Saúde Mental de 2017, uma das metas a atingir em 2020 é “estabilizar a prescrição de medicamentos para o tratamento de ansiedade na população”.
O documento mostra que o consumo de medicamentos “antidepressores” associados à área da saúde mental aumentou, em termos de dose diária definida, de 263.414.234 em 2012, para 358.197.748 em 2016.
O presidente do ISPUP alertou ainda para a importância de “precaver” os casos de saúde mental numa fase ainda jovem, visto que acredita que a grande parte dos casos surge “muito cedo”.
“É fundamental estarmos atentos a identificar cedo os sintomas que demonstram que algo não está bem. As questões que trazemos aqui hoje ainda vivem muito ‘tapadas’ e é preciso termos coragem para começarmos a falar destes temas o mais cedo possível”, acrescentou.
O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto celebrou hoje o Dia Mundial da Saúde Mental com uma sessão que juntou alunos de vários agrupamentos das escolas do Porto e investigadores para, juntos, debaterem temas como o consumo de substâncias, a violência na escola e em casa e a comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexo).
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