“Percebemos que não havia estudo algum sobre o consumo de álcool e drogas entre crianças e jovens em ambiente escolar em África”, declarou à agência Lusa Isabel de Santiago, investigadora em comunicação em saúde e assistente convidada do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

De acordo com a investigadora, que tem nacionalidade portuguesa e são-tomense, os resultados apontam para que 58% dos rapazes e 43% das raparigas tomam bebidas alcoólicas excessivamente e frequentemente.

“O diagnóstico da situação é muito crítico para estas questões, o que obriga, estudado o problema, a futuras intervenções preventivas baseadas em comunicação em saúde, recorrendo aos meios que a biosfera nos oferece e também no que toca aos estilos de vida mais saudáveis, recorrendo à prática desportiva”, artesanato e outros métodos, alertou a Isabel de Santiago.

De acordo a autora, foi utilizada uma amostra de 2.064 de crianças e jovens no âmbito escolar e aplicou-se um inquérito aos estudantes do 8.º ano ao ensino superior, no ano letivo 2014/2015, com “total apoio” do Ministério da Educação, Cultura e Formação são-tomense.

Segundo s investigadora, nos jovens de entre 15 e 18 anos, "entre 39% e 46% bebem excessivamente e frequentemente", enquanto nos jovens com mais de 19 anos "há uma percentagem superior a 63%”.

“Nas turmas de alfabetização e [ensino] qualificante, 57% bebem excessivamente; no ensino técnico profissionalizante, que já é um grupo entre os 20 e 25 anos, 76% bebem excessivamente; e no ensino superior temos uma percentagem que aponta para 79%”, acrescentou.

Isabel de Santiago referiu que se concluiu que 49% dos filhos de mães sem educação formal consomem excessivamente álcool e filhos de mães com o secundário incompleto atingem uma percentagem de 52%.

“Filhos de pais (56%) e mães (59%) que bebem, também o fazem regularmente. Se o filho, de pequenino, vir o pai e a mãe tomarem bebidas alcoólicas, a tendência é reproduzir o comportamento”, declarou a autora principal do estudo, referindo ainda que o alcoolismo é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Cinquenta e seis por cento dos residentes no distrito de Água Branca (56%), considerado o mais rico, tomam bebidas alcoólicas frequentemente, contra os 57% no distrito de Lembá, o mais pobre do país, que fabricam bebidas artesanais.

A investigadora trouxe duas amostras de bebidas alcoólicas artesanais da zona de Lembá e, nestas, foi encontrado níquel, já que a população faz a fermentação com recurso a catalisadores, que são as baterias alcalinas.

De acordo com a autora, com estes dados, vai ser estudado o impacto da utilização de baterias alcalinas (pilhas), nomeadamente o níquel, para a vida humana.

“Cerca de um por cento dos jovens consomem drogas ilícitas nesta população inquirida. Isso é claramente preocupante, sobretudo em grupos que já são tão consumidores de bebidas alcoólicas”, declarou ainda a investigadora.

A autora vem desenvolvendo um conjunto de intervenções preventivas de comunicação em saúde com crianças em São Tomé e Príncipe e também já realizou a formação de profissionais da área da comunicação sobre o tema.

Isabel de Santiago já apresentou os resultados do seu estudo em congressos internacionais em 2016, nomeadamente em Curitiba (Brasil) e ainda em Atlanta (Estados Unidos), na sede do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC).

Deste estudo, desenvolvido no âmbito do doutoramento da investigadora no Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, ainda resultarão três artigos científicos, que serão submetidos às revistas Acta Médica e The Lancet e em outro meio ainda por determinar.