A terapêutica consiste no implante de um dispositivo colocado a poucos centímetros do cérebro, numa intervenção em que o doente apenas recebe anestesia local para poder colaborar no procedimento e assegurar a eficácia do tratamento.
"Tinha muitas dificuldades de locomoção e cheguei a deslocar-me de cadeira de rodas, mas depois da cirurgia tive uma melhoria muito significativa e um aumento de qualidade de vida substancial", disse à agência Lusa o médico obstetra João Wadhoomall, de 75 anos, operado em outubro de 2012 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
O especialista, que exercia funções no Hospital de Castelo Branco, onde foi diretor de serviço, tinha pouco mais de 50 anos quando lhe foi diagnosticada a doença, que é caracterizada por movimentos involuntários, músculos rígidos e elevadas dosagens de medicação.
Já com o diagnóstico confirmado, ainda participou em cirurgias de cesariana, mas as limitações físicas levaram-no a aposentar-se antes dos 60 anos, quando estava no topo da carreira médica.
"É preciso aceitar a doença e lutar contra ela, não nos podemos isolar, porque o isolamento é a pior arma", sublinha João Wadhoomall, que faz fisioterapia uma vez por semana e aproveita para sair de casa e caminhar.
O médico, natural de Timor-Leste, de onde saiu aos 17 anos para estudar em Coimbra, onde se licenciou, considera a socialização do doente e o envolvimento com a família muito importante e lamentou que muitos pacientes "não saiam de casa com vergonha de se mostrar".
Manuel Felizardo, engenheiro civil, de Pombal, recebeu o diagnóstico aos 41 anos, numa consulta de medicina do trabalho, que confirmou a causa dos tremores que registava nos membros superiores.
Foi reformado por invalidez em 2010 e, em 2013, com 54 anos, foi submetido à cirurgia, no CHUC, que lhe devolveu a autonomia e a possibilidade de voltar à sua atividade, como voluntário, no município de Pombal.
"Depois da intervenção, a minha qualidade de vida alterou-se significativamente. Quase que não me conseguia mexer e depois fiquei muito melhor", relata à agência Lusa Manuel Felizardo, atualmente com 58 anos.
O doente considera que a "intervenção foi de tal maneira eficaz” que voltou a trabalhar na sua área.
"Nesta doença, é fundamental estar ativo", frisou.
Manuel Felizardo explicou ainda que tem uma grande margem de progressão na estimulação cerebral, uma vez que a voltagem elétrica do dispositivo ainda se encontra distante do máximo permitido.
Segundo o neurologista Fradique Moreira, da consulta de estimulação cerebral profunda nos CHUC, "a eficácia desta intervenção depende muito da seleção dos doentes, porque nem todos podem ser sujeitos à cirurgia e nem todos têm eficácia com esse tratamento".
A cirurgia é normalmente feita a doentes com estádios avançados da doença, mas que tenham uma boa resposta à levodopa, fármaco que substitui o défice de dopamina, um neurotransmissor que deixa de ser fabricado na doença de Parkinson.
O objetivo é restabelecer o funcionamento normal de um circuito cerebral anómalo, através da aplicação de um estímulo elétrico num núcleo específico que faz parte desse circuito, que servirá de marca-passo para o funcionamento celular", explicou Fradique Moreira, salientando que é necessário ajustar e regular o aumento da estimulação e o decréscimo da medicação.
"Conseguimos dar uma boa qualidade de vida e melhorar os sintomas que já não estavam a ser controlados pela medicação. O doente fica com uma boa capacidade motora, mas a doença continua a progredir, pois é degenerativa e ainda não conseguimos travar o seu curso", observou a neurologista Cristina Januário, da consulta do movimento no CHUC.
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