O Escutismo, mais do que uma simples atividade extracurricular, é um movimento global de educação não formal que capacita as crianças e jovens para a cidadania ativa e responsável. É uma escola de autonomia, de desenvolvimento de capacidades críticas e reflexivas que permite pensar “fora da caixa”, “sem caixa”, encaixado nas mais variadas perspetivas e aculturações, e que me permitiu ver para além do (meu) horizonte.
O desenvolvimento das competências de “Ser Mais Humano” são pilares fundamentais do escutismo que moldaram profundamente a minha trajetória profissional. A empatia, a compaixão, o compromisso, a lealdade, o respeito pelo próximo são parcos exemplos de competências emocionais e sociais fundamentais do Ser Enfermeiro. Se a lente de cuidados se centrar na Pessoa, a premissa de “Ser Mais Humano” prepara-nos para lidar com os desafios da prática clínica de forma mais sensível e atenta. A criatividade, estimulada no escutismo através do desenvolvimento de “imaginários”, na adaptação de histórias e estórias, traduz-se na unicidade “inovadora” para o cuidado à Pessoa. E, justamente, estes valores não só otimizam a relação terapêutica e a comunicação terapêutica, como promovem um ambiente laboral mais ético e cooperativo.
As atividades em campo desafiaram a adaptação a situações inesperadas e a treinar a tomada de decisão criativa (i.e. parcos recursos, risco e responsabilidade individual). Em enfermagem, essa adaptabilidade é crucial, especialmente em cenários de emergência onde se exige um raciocínio clínico rápido e acurado, impreterível para “salvar vidas”. A tomada de decisão desenvolvida através do “aprender fazendo”, são fundamentais para avaliar situações complexas e escolher a melhor abordagem terapêutica. Compreender que cada decisão tem consequências significativas, tanto para mim quanto para a Pessoa cuidada, inculcou-se numa responsabilidade profunda e uma capacidade de avaliação crítica imensurável. Ademais, todas estas vivências são acompanhadas de liberdade. E a liberdade traz responsabilidade da marca que queremos deixar no mundo. Então, desenvolveu-se o brio. O brio impulsiona a autoconfiança e a motivação de ser mais, dar mais, ser melhor e querer melhor. E esta noção de entidade e identidade traz consigo as competências de liderança, de trabalho em equipa e a gestão de conflitos.
Assim como uma semente plantada em solo fértil, o escutismo fez(me) crescer como pessoa, pessoa que cuida, pessoa que é cuidada. Cada atividade, desafio e experiência vivida no escutismo permitiu criar a noção de identidade(s), um profundo sentido ético e uma extraordinária capacidade de resiliência pois “Se o grão de trigo não morrer na terra, é impossível que nasça fruto.”
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