O sal em excesso induz alterações a nível celular e hormonal, promove a retenção de líquidos no organismo e provoca hipertensão arterial entre outras, com consequente aumento do risco de desenvolvimento de doença cardiovascular.

Por outro lado, a quantidade de sal diária recomendada pela Organização Mundial de Saúde é de cinco gramas por dia, sendo que, em média, um português consome o dobro dessa quantidade (aproximadamente 11 g por dia). Mas o sal não é o único problema dos portugueses.

"Uma dieta com excesso de hidratos de carbono, vulgarmente denominados de açúcares, leva a um aumento dos valores de glicose (açúcar) no sangue, aumenta a produção de insulina, promove a produção de gorduras (colesterol e triglicéridos) e aumenta a pressão arterial", frisa o médico cardiologista.

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"O consumo excessivo e prolongado associa-se à obesidade, conduz a diabetes e em última análise ao aparecimento de doença cardiovascular. É importante relembrar que mais de metade da população portuguesa tem excesso de peso e um em cada quatro são obesos", salienta o cardiologista José Ferreira Santos

A redução do consumo de sal - sendo que 75-85% do sal que comemos em excesso é adicionado na confeção dos alimentos - pode reduzir o aparecimento de hipertensão arterial e complicações associadas.

"Da mesma forma, uma dieta com menos hidratos de carbono, substituindo uma parte por vegetais e legumes e preferindo hidratos de carbono com índice glicémico mais baixo (ex: fruta, batata doce, etc), poderá ser útil no controlo de peso, na redução do risco de diabetes e consequentemente promover a proteção cardiovascular", sugere o especialista.

"Assim, combater e reduzir o consumo de sal e o consumo de açúcar, levará a uma redução do risco de hipertensão arterial e de obesidade, reduzindo o risco de doença cardiovascular e as  suas consequências mais graves, tais como o enfarte agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral", indica.

O desaparecimento da dieta mediterrânica

A dieta mediterrânica demonstrou reduzir o aparecimento de doença cardiovascular e vários estudos indicam que os indivíduos que seguem este tipo de dieta têm 50-70% menos probabilidade de ter um enfarte do miocárdio ou outro evento coronário fatal. Os motivos pelos quais a dieta mediterrânica reduz o risco cardiovascular são vários e implicam a combinação de vários fatores, tais como efeitos anti-inflamatório, vasodilatação arterial, redução do risco de arritmias, entre outros.

"Atualmente, o problema da dieta mediterrânica não é a falta de benefícios para a saúde em geral e para a saúde cardiovascular em particular, mas sim a facilidade em optar por dietas mais rápidas e simples, requerendo menos tempo de confeção e menos experiência culinária, utilizando alimentos pré-processados, ricos em sal, açúcar de absorção rápida e gorduras saturadas", comenta José Ferreira Santos.

"Seguramente que o Estado deve ter um papel ativo na redução do consumo de sal e de açúcar e na melhoria da dieta da população portuguesa. No nosso país não existe nenhum sistema que permita vigiar o consumo alimentar, mas parecer ser claro que existe espaço para melhoria, em especial se tivermos em conta o aumento da incidência da obesidade e das doenças associadas aos desvios do comportamento alimentar", critica o médico.